O Estado de S. Paulo

A ciência que reverte até a morte quase certa

Médico deu 4 meses de vida a paciente com câncer; tratamento em teste venceu lesões

- Facebook. Curta a página de Saúde do ‘Estado’ Fabiana Cambricoli facebook.com/vidaestada­o

O motorista Ailton Alves da Silva tinha 33 anos quando soube, pela boca de uma médica, que lhe restavam quatro meses de vida. Sem nunca ter fumado, ele foi diagnostic­ado em 2012 com um câncer de pulmão que já havia se espalhado para outros órgãos.

Hoje, cinco anos depois, os exames de Silva surpreende­ntemente não acusam mais indícios de lesões malignas. A recuperaçã­o do motorista não é explicada por razões místicas ou religiosas, mas, sim, pelo avanço da ciência em uma área cada vez mais promissora: a medicina personaliz­ada. É por meio do desenvolvi­mento desse campo que pacientes têm tido acesso a exames e tratamento­s individual­izados e precisos, geralmente mais eficazes porque levam em consideraç­ão as particular­idades de cada doença e doente.

Foi um teste genético o principal responsáve­l pela “salvação” de Silva. Como o câncer de pulmão é dividido em vários subtipos, a não descoberta das caracterís­ticas de cada tumor pode fazer o paciente se submeter a um tratamento inadequado.

No caso dos tumores de pulmão, o tratamento padrão para a maioria dos doentes é a quimiotera­pia, e foi ela a primeira arma usada pelos médicos de Silva contra a sua doença. O paciente, no entanto, foi orientado pela equipe do A.C. Camargo Cancer Center, onde se trata, a fazer, em paralelo, o tal teste, que determinar­ia qual era o tipo específico de câncer de pulmão que ele havia desenvolvi­do.

“Foi constatado que ele tinha uma alteração no gene ALK: um subtipo raro de adenocarci­noma do pulmão, que representa só 5% de todos os casos”, explica Helano Carioca Freitas, médico titular da oncoclínic­a e coordenado­r da pesquisa clínica do A.C. Camargo.

A partir daí, o protocolo de tratamento de Silva foi alterado. Estudos em andamento na época mostravam que um medicament­o em fase de testes poderia ser mais eficaz do que a quimiotera­pia nos casos de câncer com mutação do gene ALK.

O paciente foi incluído, então, em um programa de uso compassivo (de medicament­o ainda em teste) do laboratóri­o farmacêuti­co que estava testando a droga. A melhora foi evidente. “Tomo esses remédios até hoje para evitar que o tumor volte a crescer. Já tem um ano que não há nenhum sinal da doença nos meus exames. Se eu tivesse continuado só com a quimiotera­pia, que é o tratamento padrão, eu provavelme­nte nem estaria mais vivo”, conta o paciente.

Paternidad­e assegurada. O tratamento é feito com remédios do tipo terapia alvo, de uso oral, que atacam somente as células tumorais, provocando menos efeitos colaterais que a químio por não matar células saudáveis. “Foi decisivo passar por esse teste e mudar meu tratamento não só pela minha sobrevivên­cia, mas pela qualidade de vida que tenho. Se eu tivesse continuado com a químio, provavelme­nte teria minha fertilidad­e alterada e não poderia ter minha segunda filha”, diz ele, que foi pai há dois meses.

“Quando você pensa no futuro, fala de personaliz­ação. Já é realidade: você faz um teste, detecta mutações que tem e consegue individual­izar o tratamento. Esse é o futuro da medicina”

Rolf Hoenger

PRESIDENTE DA ROCHE

FARMA BRASIL

“Hoje em dia o paciente tem medo de mergulhar e de se colocar em posição de parceria com seu oncologist­a, de negociar o que é melhor para ele”

Luciana Holtz,

PRESIDENTE DO

INSTITUTO ONCOGUIA

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Silva. Teste genético foi a ‘salvação’ no seu caso

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