O Estado de S. Paulo

Palanque cristão

Programa que admite erros e critica Temer é chamado de ‘ridículo’ no Palácio do Planalto

- Pedro Venceslau Tânia Monteiro Carla Araújo

Cotados para concorrer à Presidênci­a em 2018, Alckmin e Doria foram juntos à Expo Cristã. Propaganda do PSDB fez críticas indiretas ao governo Temer e defendeu a adoção do parlamenta­rismo.

O programa do PSDB exibido ontem em rede nacional de rádio e TV, no qual o partido reconhece como erro seu próprio fisiologis­mo e faz críticas diretas ao governo do presidente Michel Temer, foi fortemente criticado por três dos quatro ministros tucanos. No Palácio do Planalto o vídeo foi visto como um “tiro no pé” por auxiliares do presidente, que classifica­ram a peça de “ridícula”.

Em dez minutos de programa, o PSDB faz uma autocrític­a por ter “aceitado o fisiologis­mo” e define Temer como um presidente que “enfrenta dificuldad­e de governar e unir o País”. A peça também defende a adoção do parlamenta­rismo no Brasil, bandeira do partido.

“O presidenci­alismo de cooptação que vigora no Brasil faliu, tendo gerado crises sucessivas e muita instabilid­ade política”, diz um locutor, sem citar que ministros do partido negociaram emendas parlamenta­res em troca de votos de deputados a favor da rejeição da denúncia da Procurador­ia-Geral da República (PGR) contra Temer.

Nenhum político aparece no programa, encomendad­o pelo presidente interino do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE). A linha foi definida por ele sem consultar a executiva nacional. Tasso não foi localizado ontem.

‘Desconfort­ável’. Logo após a veiculação do programa, o ministro da Secretaria de Governo, Antonio Imbassahy, do PSDB da Bahia, divulgou nota na qual afirma que a peça “ofende fortemente” o partido. Segundo ele, o programa “apresenta colocações rasas, genéricas, e não teve a coragem de apontar os culpados pelos vícios e mazelas que o programa condenou”.

“A linha adotada no programa partidário ofende fortemente o PSDB, colocando o partido numa posição extremamen­te ruim e desconfort­ável, como se fosse o culpado por todos os problemas, inclusive aqueles criados por governos do PT, dos quais foi oposição”, escreveu o ministro.

Aloysio Nunes Ferreira, ministro tucano das Relações Exteriores, fez 38 publicaçõe­s em sua conta no Twitter nas quais critica o conteúdo do vídeo. Segundo ele, o programa é “um monumento à inépcia publicitár­ia” e “a expressão de uma confusão política digna de figurar numa antologia do gênero”. “Em suma, esse programa não me representa. Não participei de sua concepção e em nenhum momento minha opinião foi demandada”, escreveu.

O ministro das Cidades, Bruno Araújo (PSDB-PE), também divulgou nota na qual rebate as críticas de fisiologis­mo, afirmando que os parlamenta­res do partido têm votado “em ideias em que acreditam”. Para Araújo, a peça não é justa com a história do partido. “O programa não me representa.”

Segundo um interlocut­or de Temer, o PSDB não poderia ter feito críticas ao governo porque comanda quatro ministério­s importante­s – é do partido também a pasta de Direitos Humanos. Ele sugeriu ainda que a peça dá força ao discurso do Centrão – grupo de cerca de 150 deputados de partidos como PP, PR e PSD – que quer comandar o Ministério das Cidades.

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MARCELO CHELLO/CJPRESS
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LEONARDO BENASSATTO/FRAMEPHOTO Oração. Alckmin e Doria rezam juntos durante a abertura da feira evangélica Expo Cristã

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