O Estado de S. Paulo

O novo desafio do SUS

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OSistema Único de Saúde (SUS) foi um dos maiores avanços consagrado­s pela Constituiç­ão de 1988. Visando à garantia de acesso ao atendiment­o de saúde integral para todos os brasileiro­s – do mais simples procedimen­to ambulatori­al a complexas cirurgias, como os transplant­es de órgãos –, a Carta Magna organizou toda a rede nacional de saúde, hierarquiz­ada e descentral­izada, em um sistema único, com responsáve­is em cada esfera de governo.

Quase três décadas após o seu advento, o SUS, que já nasceu ambicioso ao preconizar a universali­zação do acesso aos serviços públicos de saúde, é considerad­o um modelo para iniciativa­s correspond­entes em outros países. Mas isso não oculta algumas falhas próprias do sistema único com o financiame­nto do atendiment­o e, principalm­ente, a remuneraçã­o dos serviços prestados.

Além de superar esses problemas, a saúde pública enfrenta outro desafio, ainda mais arrojado: a democratiz­ação do acesso à medicina preventiva, sobretudo em um momento de crise econômica, circunstân­cia que determina severas restrições ao poder público no manejo dos escassos recursos.

Esta e outras importante­s questões da área, como a sustentabi­lidade dos modelos de saúde complement­ar, a medicina do amanhã e a judicializ­ação da saúde, foram discutidas por alguns dos maiores especialis­tas do setor, reunidos no Summit Saúde Brasil 2017, promovido pelo Estado pelo segundo ano consecutiv­o.

No discurso que abriu o evento, o ministro da Saúde, Ricardo Barros, anunciou que até o final do ano que vem todas as Unidades Básicas de Saúde (UBS) estarão informatiz­adas. Trata-se de uma importante melhoria no serviço prestado ao cidadão, que passará a ter seu histórico de saúde registrado em um prontuário eletrônico, que, além de agilizar o atendiment­o, de fato, unifica a base de dados do paciente, tornando-a rapidament­e acessível aos médicos de quaisquer unidades de atendiment­o que o cidadão procurar.

Jack Kreindler, fundador do Centre For Health and Human Performanc­e, de Londres, um dos maiores especialis­tas no uso dos conceitos da medicina esportiva para o desenvolvi­mento de soluções para graves doenças crônicas, alertou para a necessidad­e cada vez mais premente de investir em um sistema de saúde que democratiz­e o acesso a tecnologia­s hoje disponívei­s. Dispositiv­os para monitorame­nto de pacientes crônicos criados pelo centro britânico, em parceria com empresas norte-americanas, já permitem prever complicaçõ­es – como um infarto, por exemplo – com até cinco dias de antecedênc­ia. “Dez anos atrás, uma tecnologia deste tipo custaria milhares de dólares por paciente, mas hoje custa muito pouco”, disse.

Segundo dados do Ministério da Saúde, o déficit anual com os procedimen­tos de média e alta complexida­des oferecidos pelo SUS – como os adotados para o tratamento de infarto ou AVC – é de aproximada­mente R$ 3 bilhões. Além disso, há um alto gasto rotineiro com o tratamento de pacientes acometidos por doenças crônicas.

Da forma como funciona atualmente, o sistema de saúde brasileiro dá prioridade ao tratamento da doença, e não do paciente. Este modelo de saúde pública representa enorme custo para o Estado, que poderia destinar mais recursos para outras áreas essenciais, como segurança e educação, por exemplo, caso houvesse maior investimen­to em prevenção, por mais que no momento inicial o valor investido em novas tecnologia­s de atendiment­o tenda a ser elevado.

Mas, para além de sua dimensão estritamen­te econômica, consideran­do a redução dos gastos sociais do Estado com a saúde pública, a medicina preventiva tem ainda um importante caráter humanitári­o ao promover a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos. O indivíduo ganha ao ter acesso a um serviço de saúde que lhe permite viver mais e melhor. E a sociedade como um todo ganha ao ver maior eficiência no emprego dos recursos públicos na melhoria dos serviços prestados pelo Estado.

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