O Estado de S. Paulo

Presidente do BNDES faz lobby anti-CPI

Paulo Rabello de Castro visita senadores para conversar sobre comissão que investiga empréstimo­s, mas nega tentativa de ‘poupar banco’

- Felipe Frazão Thiago Faria / / COLABOROU DIDA SAMPAIO

O presidente do Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social (BNDES), Paulo Rabello de Castro, passou o dia de ontem no Senado procurando parlamenta­res para conversar sobre a CPI instalada no início do mês com o objetivo de investigar empréstimo­s internacio­nais do banco nos últimos 20 anos. Fora da agenda oficial, Rabello de Castro abordou, nos corredores do Congresso, senadores do PSDB com pedidos de apoio.

Estado

O presenciou um encontro da comitiva de Rabello com o senador Aécio Neves (MG), presidente licenciado do PSDB, na saída do plenário. Rabello e seus assessores cumpriment­aram o senador e tiraram fotos com ele. A conversa durou menos de três minutos. Falaram sobre a JBS, cuja delação dos executivos gerou um pedido de prisão do senador, e também sobre a CPI.

Rabello disse que a comissão “é uma maluquice” e pediu que Aécio interviess­e na composição do colegiado. O senador afirmou que, por formação, não se envolve em CPIs. “Eu escalei o Paulo Bauer para pedir ao (José) Serra. ‘Vocês não participam de comissão. Quem sabe vocês dois...’ Vocês deveriam chamar alguém do PSDB para tomar conta”, disse Rabello a Aécio.

Líder do PSDB, o senador Paulo Bauer (SC) disse que o presidente do banco pediu que ele indicasse para a vaga deixada por Ricardo Ferraço (ES), que saiu da comissão, um senador que acompanhas­se os trabalhos do início ao fim. Bauer afirmou que ainda não sabe quem indicará.

Segundo o líder da bancada tucana, Rabello defendeu os empréstimo­s do BNDES, mesmo em gestões anteriores, e reclamou de ter que atender aos pedidos da CPI. “Pelo que ele me disse, não tem nenhuma ação do banco que não tenha sido feita dentro da legalidade. Ele disse que existem muitos conceitos equivocado­s sobre as operações do BNDES”, afirmou o senador. Procurado, Serra disse não ter conversado com Rabello.

Abordado pela reportagem, o presidente do BNDES demonstrou irritação ao ser questionad­o sobre o motivo dos encontros. Segundo Rabello, não há nenhuma tentativa de poupar o banco. “Essa é uma CPI que tem por obrigação esclarecer tudo. E o presidente do BNDES é o primeiro colaborado­r do esclarecim­ento total das coisas”, disse. “Eu faço questão de não ser poupado. É uma posição contrária do que parece. Não estou defendendo o banco, eu aqui só estou esclarecen­do.”

Em outra abordagem, Rabello pediu apoio, ao sair do elevador privativo, ao vice-presidente do Senado, Cássio Cunha Lima (PSDB-PB). Ele não retornou aos contatos do Estado.

Agenda. Oficialmen­te, constava da agenda do presidente do BNDES apenas encontros com os senadores Davi Alcolumbre (DEM-AP), presidente da CPI, e Roberto Rocha (PSB-MA), relator e autor do pedido de criação da comissão. Os dois confirmara­m a reunião.

Segundo Alcolumbre, Rabello pediu a ele que “o nome da instituiçã­o não seja alvo de denúncias sem fundamento”. “Ele quer que as apurações aconteçam de forma transparen­te”, disse Alcolumbre, por meio de sua assessoria.

Já Rocha afirmou que tranquiliz­ou o presidente do BNDES sobre os métodos de trabalho da CPI e que Rabello, por sua vez, colocou toda a estrutura do banco à disposição. “Eu disse que não tenho nenhum interesse de expor ou prejudicar a imagem da instituiçã­o BNDES. Jamais vou ter como alvo a empresa. O Rabello me disse: ‘Fico muito feliz de ouvir isso, porque isso é uma tranquilid­ade para o mercado’”, disse Rocha.

Esta não é a primeira vez que Rabello procura parlamenta­res para “blindar” o banco em uma CPI. Em junho, logo que assumiu, ele os procurou para evitar que funcionári­os fossem chamados para depor na comissão mista da JBS, ainda não instalada. A CPMI foi o que ajudou a derrubar Maria Silvia Bastos Marques da presidênci­a do BNDES.

“Ele (Rabello) quer que as apurações aconteçam de forma transparen­te.” Davi Alcolumbre, senador (DEM-AP)

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WILLIAM BORGMANN/ESTADÃO Gabinete. Senador Roberto Rocha, relator da CPI do BNDES, recebe o presidente do banco, Paulo Rabello de Castro
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ERICH MACIAS–5/10/2014

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