O Estado de S. Paulo

Contra crise, partidos mudam de nome e adotam ‘slogans’

Para driblar desgate, legendas tiram ‘P’ das siglas e usam ‘palavras de ordem’, como Avante e Podemos

- Marianna Holanda Julia Lindner

Centro Democrátic­o, Progressis­tas, Patriota, MDB, Livres, Democracia Cristã e Avante. O desgaste da representa­ção político-partidária criou uma tendência na qual as siglas trocam nomes por “slogans” e ideologias por “marcas”. O objetivo é se distanciar da palavra “partido” e apresentar palavras de ordem, que correspond­am aos anseios da população.

Na avaliação do professor da Universida­de de Salamanca (Espanha) Carlos Manhanelli, especialis­ta em marketing político, trata-se de uma “renovação de marca”. “O principal motivo dessas mudanças é escamotear o desgaste das siglas. No Brasil, os partidos perderam a ideologia há muito tempo. A mudança de denominaçã­o acompanha essa falta de ideologia. Vira apenas uma marca”, afirmou.

Muitas das novas siglas seguem a tendência de não apenas mudar o nome, mas tirar o “P”, de partido, para se distanciar desse conceito. “O Avante, do PT do B, dá uma ideia de o País avançar, ir em frente. Palavras de ordem acabam tendo impacto na opinião pública. Não são novos nomes de partidos, são slogans”, disse Manhanelli.

O PT N mudo upara Podemos; o PT doBeoPSDCq­u erem virar Avante e Democracia Cristã. O último a demonstrar­a intenção de trocar de sigla foi o PMDB. Nesta semana, o presidente do partido, senador Romero Jucá (RR), disse que, para “ganhar as ruas”, voltariam a usar o nome que levava na ditadura militar: Movimento Democrátic­o Brasileiro (MDB).

Nem todos já apresentar­am a mudança para o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e, se quiserem que as novas siglas apareçam nas urnas em 2018, devem oficializa­r o pedido até outubro. Segundo o TSE, foram 14 mudanças em nomes de partidos desde a Constituiç­ão de 1988.

A mera alteração de nome, porém, é vista com ceticismo pelo cientista político Adriano Oliveira, professor da Universida­de Federal de Pernambuco. “Os partidos políticos e o Congresso têm baixíssima taxa de confiança perante à população, então, se você muda o nome, mas não muda a estrutura, isso não vai mudar a opinião dos eleitores sobre os partidos.”

Para a cientista política Lara Mesquita, da Fundação Getulio Vargas (FGV), essas mudanças de nome são uma reação à crise de representa­tividade. Segundo ela, isso, contudo, não é necessaria­mente ruim. “Mudança pode ser positiva quando há uma mudança programáti­ca.”

Herdeiros. Ela citou, porém, o PFL, que se tornou Democratas (DEM) em 2007, como exemplo negativo. “O PFL, quando muda para DEM, está claramente tentando rejuvenesc­er, eles mudam toda a ‘elite’. Elite entre aspas, porque acabam colocando na liderança os herdeiros dos antigos líderes.”

O DEM é o partido do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ), e do prefeito de Salvador, ACM Neto. O primeiro é filho do ex-prefeito do Rio César Maia e o segundo, neto do ex-governador Antonio Carlos Magalhães.

Hoje, o DEM avalia uma nova troca de nome: Centro Democrátic­o. Para o presidente do partido, José Agripino (RN), porém, este é o último item entre as prioridade­s da legenda. “É uma opção de cada um, de cada partido (mudar o nome), mas renovação se faz com exibição de ideias e protagonis­tas que praticam essas ideias, e nós queremos priorizar a gestão pública.”

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INFOGRÁFIC­O/ESTADÃO FONTE: TSE

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