O Estado de S. Paulo

Atentado com van mata 13 e fere mais de 100 em Barcelona; EI assume autoria

Ação atinge um dos pontos turísticos mais frequentad­os da Europa; polícia detém dois suspeitos, mas homem que dirigia o veículo consegue escapar em meio à multidão na capital catalã; autoridade­s matam 5 homens na cidade de Cambrils em um segundo ataque

- Andrei Netto Giovana Girardi

A Europa voltou a viver ontem o pesadelo da violência terrorista, desta vez na Espanha. Um motorista avançou contra a multidão em uma avenida do centro de Barcelona, na Catalunha, deixando pelo menos 13 mortos e mais de 100 feridos, dos quais pelo menos 15 em estado grave. O atentado foi reivindica­do pelo grupo jihadista Estado Islâmico (EI). As primeiras investigaç­ões indicam uma ação coordenada de uma célula terrorista em solo espanhol.

Um segundo ataque na cidade de Cambrils, em Tarragona, terminou com a morte de cinco terrorista­s e deixou sete feridos. Segundo a polícia, os homens estavam em um veículo que atropelou pedestres. Intercepta­dos, trocaram tiros com os policiais. Apenas um dos extremista­s sobreviveu. Ele foi levado para um hospital, mas não resistiu aos ferimentos. De acordo com o jornal La Vanguardia, havia ligação entre os dois ataques.

Na ação de Barcelona, uma van, alugada em nome de homem de origem árabe, invadiu o calçadão Las Ramblas de Barcelona, por onde passam centenas de milhares de espanhóis e estrangeir­os todos os dias. Ao longo de 550 metros, pedestres foram atropelado­s.

Imagens registrada­s com telefone celular por turistas e postadas em redes sociais mostraram vários corpos de feridos, incluindo crianças e bebês, caídos na área reservada aos pedestres. Enquanto cobria os cadáveres, a polícia orientava a população a deixar o local. A região é uma das mais movimentad­as da Europa nessa época do ano, no verão, quando a cidade recebe milhões de turistas.

Até o início da madrugada, o motorista da van continuava foragido. Supostamen­te armado, ele foi visto correndo pelo centro da cidade. “Eu tinha acabado de voltar para casa quando aconteceu. Estava a caminho das Ramblas quando mudei de ideia e fui em direção ao (bairro de) Born. Está um horror por aqui, com gente gritando e correndo”, disse ao Estado J.S., anglo-brasileira que vive no Bairro Gótico, a poucos metros do local.

A jovem vivia em Paris e morava na região do Bataclan, casa de shows atacada por terrorista­s islâmicos em novembro de 2015. Ontem, ela voltou a viver o pesadelo. “A polícia está em pânico, gritando para todo mundo aqui em Portal del Angel.”

Ao jornal El País, Albert Tort, enfermeiro de 47 anos, também morador do bairro, contou que, em meio ao caos, foi barrado pela polícia, até provar que era enfermeiro e passar a prestar socorro às vítimas. “Vi uma verdadeira catástrofe. Contei ao menos seis mortos, tentei reanimar um jovem, mas foi impossível.”

Durante a noite, uma ampla área do centro de Barcelona foi bloqueada pelas autoridade­s. Redes de metrô e linhas de ônibus foram interrompi­das, o comércio foi fechado e o acesso aos bairros centrais foi fechado.

O EI reivindico­u a autoria do atentado em comunicado divulgado por meio do site Amaq, seu órgão de propaganda. “Os autores do ataque de Barcelona são soldados do EI e conduziram uma operação em resposta aos apelos para atingir os países que são membros da coalizão”, diz o texto.

Para Chems Akrouf, especialis­ta francês em inteligênc­ia, o fato de o agressor ter fugido sem disparar contra a população civil é um indicativo de que o ataque seja menos organizado do que se imagina. “O que me chama a atenção é que não houve tiroteio no momento em que o veículo parou. Não houve uma segunda fase do ataque, o que talvez queira dizer que não houve uma grande organizaçã­o para ampliar ainda mais o número de vítimas com armas de grosso calibre”, explicou.

Em declaração no início da madrugada, o primeiro-ministro da Espanha, Mariano Rajoy, prometeu esclarecer as circunstân­cias e perseguir os responsáve­is pelo ataque. Ele pediu ainda unidade ao país na luta contra o terrorismo islâmico, que voltou a atingir a Espanha depois de 13 anos. “Terrorista­s são vencidos com unidade”, disse.

Nas horas seguintes ao atentado, turistas ainda se aglomerava­m com sacolas e malas diante dos bloqueios nas Ramblas. Sem poder entrar nos hotéis do perímetro, eles esperavam para voltar aos seus quartos. Ali estavam centenas de ingleses, americanos, alemães, italianos, franceses, japoneses e chineses.

Um grupo de sete brasileiro­s que mora na Suíça aguardava sentado no chão. “Tínhamos chegado ao final das Ramblas quando aconteceu. Não pegou a gente por pouco”, contou Patricia Viana, gerente administra­tiva, enquanto sua amiga, Gisele de Oliveira, mostrava um vídeo que um outro amigo tinha mandado de mortos e feridos. “Foi um horror, um horror”, disse.

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DAVID ARMENGOU/EFE Massacre. Las Ramblas, Barcelona, momentos após o ataque
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INFOGRÁFIC­O/ESTADÃO/GN

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