O Estado de S. Paulo

O presidente que condena o terror fora de casa

- •✱ THE WASHINGTON POST É JORNALISTA

Horas depois do atentado com uma van em Barcelona, que matou pelo menos 13 pessoas e feriu outras dezenas, o presidente dos EUA, Donald Trump, chamou o incidente de “terrorista”. Pelo Twitter, ele afirmou: “Os EUA condenam o ataque terrorista em Barcelona, Espanha, e farão o que for possível para ajudar. Sejam firmes e fortes, amamos vocês.”

No entanto, na entrevista coletiva três dias após um episódio similar em Charlottes­ville, no Estado de Virgínia, quando um simpatizan­te nazista investiu seu carro contra uma multidão que protestava contra a violenta manifestaç­ão de supremacis­tas brancos, matando uma pessoa e ferindo 19, o presidente não utilizou a mesma linguagem.

“Foi um ato de terrorismo?”, indagou um jornalista na coletiva. “Bem, acho que o motorista do carro é uma desgraça para ele mesmo, sua família e este país”, respondeu Trump. “E isso você pode chamar de terrorismo, de assassinat­o, como quiser.”

Na ocasião, o nome e a ideologia do motorista James Alex Fields Jr. eram conhecidos. Quando Trump escreveu seu tuíte sobre Barcelona, detalhes sobre o condutor da van ainda não tinham sido divulgados, embora seja possível que o presidente estivesse mais bem informado que a população.

Partidário­s do Estado Islâmico comemorara­m o atentado em Barcelona, mas o grupo ainda não tinha assumido a autoria do ataque quando Trump deu suas declaraçõe­s. Horas depois, veio a reivindica­ção dos extremista­s.

Vale lembrar que Trump disse na entrevista de terça-feira que prefere ser cauteloso quando faz comentário­s sobre um incidente violento. “Antes de fazer uma declaração, preciso dos fatos. Eu não me manifesto de maneira precipitad­a.” Ontem, quando se manifestou pelo Twitter, a polícia de Barcelona já havia afirmado que se tratava de um ato terrorista. A linguagem usada pelo presidente estava de acordo com a das autoridade­s.

No entanto, Trump hesitou em seguir a mesma orientação no caso de Charlottes­ville. Um dia antes da sua entrevista coletiva, o secretário de Justiça, Jeff Sessions, havia declarado em entrevista à ABC News que o incidente “atende ao descrito pela lei como terrorismo doméstico”. Antes disso, o assessor de Segurança Nacional de Trump, o general H.R. McMaster, também usou o termo terrorismo, do mesmo

A rapidez com que Trump chamou de terrorista o ataque de Barcelona foi espantosa em comparação com Charlottes­ville

modo que outros republican­os, como o senador Ted Cruz, do Texas.

Trump não disse que o ataque de Charlottes­ville foi “terrorista”. Pelo contrário, afirmou que a culpa pela violência foi de “ambos os lados”, dos supremacis­tas brancos e daqueles que se manifestav­am contra eles. Na maior parte do fim de semana, o presidente foi o foco da controvérs­ia envolvendo a resposta que deu aos incidentes letais ocorridos no final de semana.

A rapidez com que ele qualificou de terrorismo o ocorrido em Barcelona foi espantosa em comparação com Charlottes­ville, e provavelme­nte não o ajudará nos seus esforços para se ver livre das críticas.

TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

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