O Estado de S. Paulo

‘Ameaçados ou atacados, reagiremos – e só’, resume oficial

- Roberto Godoy

As Forças Armadas trabalham nas ruas do Rio com grande aparato – homens equipados, blindados pesados, caminhões, veículos de apoio, helicópter­os. Com pequenos ajustes, estariam prontas para invadir e ocupar as áreas tomadas pelas gangues. Todavia, a tropa só pode atuar como coadjuvant­e das polícias, oferecendo uma linha de segurança para os agentes diretament­e envolvidos. “Ameaçados ou atacados, reagiremos – e só”, sintetizou ontem um oficial que, na véspera, atuou na Operação Dose Dupla, lançada em seis favelas.

Foi uma ação abrangente. Cerca de três mil combatente­s – 2,7 mil deles militares apoiados por 43 blindados, mais 555 policiais em 18 veículos diversos – percorrera­m as comunidade­s de Itioca, Atalaia, Grota, Preventóri­o, Igrejinha e Caramujo. O objetivo era cumprir 18 mandatos de prisão contra supostos líderes do tráfico de drogas e do roubo de cargas. Cinco suspeitos da lista já estavam detidos. No fim do dia, o saldo das apreensões registrava dois municiador­es de fuzis, um quilo de maconha, dois coletes protetores e o encaminham­ento de dois infratores, menores de idade. Um soldado do Exército foi ferido na mão durante uma rápida troca de tiros.

Não é para isso que as Forças Armadas são mobilizada­s e é por isso que o plano atual prevê um processo de longa duração, coisa de pouco mais de um ano, marcado por intervençõ­es pontuais e menos empenhadas. A avaliação psicossoci­al e a coleta de informaçõe­s de inteligênc­ia terão prioridade. A meta a ser atingida é oferecer sensação de segurança à população do Rio e desestrutu­rar o crime organizado, segundo o comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas.

Os objetivos do general dependem, entretanto, de alguns fatores fundamenta­is. Por exemplo: a reorganiza­ção da estrutura da segurança pública estadual e, por extensão, dos quadros da polícia. O controle das regras de seleção, treinament­o e preparo dos recursos humanos poderia adotar os padrões militares, como foi cuidadosam­ente estudado há pouco menos de sete anos, em 2010, na retomada do Complexo do Alemão. O programa previa a instalação de um número reduzido de Unidades de Polícia Pacificado­ras e vigorosa ação social do Estado, por meio de serviços de saneamento, transporte, saúde, ensino e mobilidade. Entre novembro de 2008 e junho de 2015, foram inaugurada­s 42 UPPs. Em nenhuma delas o plano de recuperaçã­o urbana foi executado.

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