‘Ameaçados ou atacados, reagiremos – e só’, resume oficial
As Forças Armadas trabalham nas ruas do Rio com grande aparato – homens equipados, blindados pesados, caminhões, veículos de apoio, helicópteros. Com pequenos ajustes, estariam prontas para invadir e ocupar as áreas tomadas pelas gangues. Todavia, a tropa só pode atuar como coadjuvante das polícias, oferecendo uma linha de segurança para os agentes diretamente envolvidos. “Ameaçados ou atacados, reagiremos – e só”, sintetizou ontem um oficial que, na véspera, atuou na Operação Dose Dupla, lançada em seis favelas.
Foi uma ação abrangente. Cerca de três mil combatentes – 2,7 mil deles militares apoiados por 43 blindados, mais 555 policiais em 18 veículos diversos – percorreram as comunidades de Itioca, Atalaia, Grota, Preventório, Igrejinha e Caramujo. O objetivo era cumprir 18 mandatos de prisão contra supostos líderes do tráfico de drogas e do roubo de cargas. Cinco suspeitos da lista já estavam detidos. No fim do dia, o saldo das apreensões registrava dois municiadores de fuzis, um quilo de maconha, dois coletes protetores e o encaminhamento de dois infratores, menores de idade. Um soldado do Exército foi ferido na mão durante uma rápida troca de tiros.
Não é para isso que as Forças Armadas são mobilizadas e é por isso que o plano atual prevê um processo de longa duração, coisa de pouco mais de um ano, marcado por intervenções pontuais e menos empenhadas. A avaliação psicossocial e a coleta de informações de inteligência terão prioridade. A meta a ser atingida é oferecer sensação de segurança à população do Rio e desestruturar o crime organizado, segundo o comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas.
Os objetivos do general dependem, entretanto, de alguns fatores fundamentais. Por exemplo: a reorganização da estrutura da segurança pública estadual e, por extensão, dos quadros da polícia. O controle das regras de seleção, treinamento e preparo dos recursos humanos poderia adotar os padrões militares, como foi cuidadosamente estudado há pouco menos de sete anos, em 2010, na retomada do Complexo do Alemão. O programa previa a instalação de um número reduzido de Unidades de Polícia Pacificadoras e vigorosa ação social do Estado, por meio de serviços de saneamento, transporte, saúde, ensino e mobilidade. Entre novembro de 2008 e junho de 2015, foram inauguradas 42 UPPs. Em nenhuma delas o plano de recuperação urbana foi executado.