O Estado de S. Paulo

Mudanças climáticas vão dar prejuízo de R$ 1,5 bi.

Estudo indica um aumento do nível do mar de pelo menos 18 centímetro­s até 2050

- Fábio de Castro Facebook. Curta a página do Metrópole facebook.com/metropolee­stadao

Na cidade de Santos, no litoral paulista, as mudanças climáticas provocarão um aumento do nível do mar de pelo menos 18 centímetro­s até 2050, podendo chegar a até 45 centímetro­s em 2100. Se nenhuma obra de adaptação for feita, apenas com os danos aos imóveis, o município terá um prejuízo de, no mínimo, R$ 1,5 bilhão até o fim do século.

Essa é a conclusão do relatório final de um estudo que integra o Projeto Metrópole, iniciativa internacio­nal que diagnostic­ou os impactos da elevação da maré em Santos, Broward, nos Estados Unidos, e Selsey, na Inglaterra. Os dados foram apresentad­os ontem em Santos pela equipe envolvida no projeto. Segundo o coordenado­r-geral do estudo, José Marengo, do Centro Nacional de Monitorame­nto de Desastres Naturais (Cemaden), não há mais escapatóri­a: Santos precisará de obras de adaptação.

“Se nada for feito, o prejuízo será de pelo menos R$ 1,5 bilhão até 2100. Mas essa quantia pode ser bastante otimista, pois tem como base o valor venal das propriedad­es que sofrerão impactos. Estimamos que o prejuízo real chegue ao dobro, sem contar os custos humanos incalculáv­eis”, disse Marengo ao Estado. “As adaptações serão necessária­s, não há como escapar. E não estamos falando sobre mudanças do clima em um futuro distante – é preciso entrar em ação agora.”

O estudo incluiu uma modelagem de quais áreas da cidade serão inundadas periodicam­ente em cenários de elevação das marés de 18 a 23 centímetro­s em 2050 e de 36 a 45 centímetro­s em 2100. “Mas essa elevação poderá chegar tranquilam­ente a dois metros durante a maré alta, as tempestade­s e as ressacas”, disse Marengo.

Áreas vulnerávei­s. O estudo mostra que afrequên ciadas ressacas no litoral paulista está aumentando considerav­elmente nas últimas décadas. Segundo Marengo, os impactos já são sentidos nas duas áreas mais vulnerávei­s da cidade, o valorizado bairro da Ponta da Praia e a zona noroeste.

Para evitar os prejuízos estimados, o município precisará investir

pelo menos R$ 240 milhões, aponta o coordenado­r-geral. “Há várias formas de adaptação, como o aumento artificial da faixa de areia e obras de infraestru­tura como diques e paredes

de proteção. A população de Santos sugeriu muito fortemente uma adaptação com base em ecossistem­as, que consiste na revitaliza­ção dos manguezais.”

Santos foi escolhida para o

projeto, segundo Marengo, porque tem os dados mais completos sobre variações de marés e o georrefere­nciamento mais preciso entre as cidades litorâneas. Os métodos utilizados podem ser replicados em qualquer cidade da costa brasileira.

“Esse tipo de estudo pode ser replicado em qualquer área, mas é preciso ter a abertura que encontramo­s na cidade de Santos. A população, o prefeito e os secretário­s municipais participar­am com muito interesse e dedicação”, afirmou Marengo.

De acordo com ele, a prefeitura de Santos, envolvida diretament­e no estudo, criou em 2015 uma comissão municipal para mudanças climáticas e começou a elaborar um plano municipal de adaptação. Consultas públicas foram realizadas durante o processo e organizaçõ­es não governamen­tais envolvidas

com questões ambientais também participar­am.

Segundo outra pesquisado­ra envolvida no projeto, Célia Regina de Gouveia Souza, do Instituto Geológico de São Paulo, a pesquisa deu ao poder público subsídios fundamenta­is para a adaptação à elevação das marés. “A situação é muito grave do ponto de vista das praias. A erosão costeira é muito grande, por causa do processo de expansão urbana associado à elevação do nível do mar e aos eventos extremos que estão aumentando em virtude das mudanças climáticas.”

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MARCO SILVA/FUTURA PRESS-18/7/2017
 ?? MARCO SILVA/FUTURA PRESS-18/7/2017 ?? Avanço do mar. Ressaca atinge Ponta da Praia em Santos; elevação poderá chegar a 2 metros durante maré alta
MARCO SILVA/FUTURA PRESS-18/7/2017 Avanço do mar. Ressaca atinge Ponta da Praia em Santos; elevação poderá chegar a 2 metros durante maré alta

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