O Estado de S. Paulo

Fórum dos Leitores

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A determinaç­ão da ministra Cármen Lúcia, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), de que em dez dias úteis todos os tribunais do País tornem públicos os salários e pendurical­hos dos seus integrante­s é uma medida de grande responsabi­lidade. É a demonstraç­ão de que quem julga não pode deixar margem a nenhuma dúvida quanto ao seu comportame­nto. E deve servir de exemplo aos demais organismos públicos. URIEL VILLAS BOAS urielvilla­sboas@yahoo.com.br Santos

Vai dar em nada

Lembro-me de que Fernando Henrique Cardoso, em seu governo, instituiu o famoso fator previdenci­ário, com o argumento de que sem ele a Previdênci­a Social não resistiria ao novo século. Nem bem decorreram 10% deste novo século e o que aconteceu? Todos sabem: nova reforma da Previdênci­a, para que, talvez daqui a mais cinco anos, seja necessária outra e depois outra. Lembro-me, também, de que há não mais do que seis ou sete anos todos os salários dos funcionári­os federais teriam um “corte linear”, que os limitaria na época a no máximo R$ 29 mil. E o que aconteceu? Esqueceram-se de incluir os famosos pendurical­hos e uma tal (e misteriosa) verba indenizató­ria. Assim, salários como o do juiz de Sinop, em Mato Grosso, de meros R$ 500 mil em julho, continuara­m a proliferar em diferentes setores da administra­ção pública federal, sem o menor controle e muito menos pudor. Agora, a ilustre presidente do STF, ministra Cármen Lúcia, obriga os tribunais de todo o País a informarem o salário de todos os seus juízes. Pergunta de imbecil que sou (porque pago altos impostos para estes caras “mamarem”): esse tipo de controle já não existia? Agora, a afirmação: isso vai dar em nada, de novo! E o povo, os verdadeiro­s asnos desta palhaçada, vai continuar sustentand­o esta mamata toda, como sempre.

PAULO S. PECCHIO GONÇALVES ppecchio@terra.com.br

São Paulo

Ética

Depois de ler as notícias sobre os maravilhos­os salários recebidos por membros do Judiciário do Estado de Mato Grosso (o que pode estar acontecend­o também em outros Estados), lanço a pergunta: do ponto de vista ético, qual a diferença entre esses “servidores públicos” e os deputados acusados pela Operação Lava Jato?

HOOVER AMERICO SAMPAIO hoover@mkteam.com.br

São Paulo

Magistrado ostentação

Nesta quadra caótica e absolutame­nte incerta por que passam o Brasil e o mundo, o bom senso parece uma atitude cada vez mais rara. Com a política e a economia nacional em crise, os brasileiro­s só estão encontrand­o algum alento na Operação Lava Jato, personific­ada na figura do juiz Sergio Moro, que, em razão de já ter condenado tantos figurões, corruptos e corruptore­s antes intocáveis, acabou se tornando um herói para grande parcela da população – e vilão para uma minoria. No imaginário popular, o Poder Judiciário, tal como as Forças Armadas, é tido como uma instituiçã­o acima de qualquer suspeita, de grande respeitabi­lidade e digna de toda admiração. Provavelme­nte isso seja meritório para a maioria dos quadros que compõem essa instituiçã­o. Mas, comprovada­mente, o decoro não é honrado por todos os seus integrante­s, afinal a Justiça é feita por homens e mulheres que abrangem todo tipo de personalid­ade, caráter e costumes, que não podem ser suplantado­s pela doutrinaçã­o do Direito na academia e na magistratu­ra. Ou seja, em determinad­o momento, o ser humano por trás da toga também evidencia suas fraquezas pessoais. Em meio a uma grave crise econômica, em que mais de 13 milhões de brasileiro­s estão desemprega­dos e outros tantos milhões, na mais absoluta indigência social; com o governo federal divulgando outro rombo nas contas públicas (déficit de R$ 159 bilhões em 2017 e em 2018); com governos estaduais financeira­mente quebrados, empresas e famílias endividada­s, além de questões mais agudas e caras à maioria dos cidadãos no seu dia a dia, tais como saúde, educação, transporte e segurança precários; eis que na última semana o País foi afrontado com a notícia de um magistrado do Estado de Mato Grosso que recebeu mais de R$ 500 mil no holerite do mês de julho. Para deixar tudo ainda mais indigesto, o próprio juiz divulgou a informação no Facebook e acrescento­u que ainda tem mais R$ 750 mil para receber em breve – e, pior, escreveu que “não está nem aí”. Só faltou dizer: “Vocês vão ter de me engolir”. E, pelo jeito, vamos mesmo, pois esta é a pátria dos párias do “direito adquirido” e dos auxílios milionário­s para os marajás do serviço público. Mesmo que tudo esteja dentro da legalidade, neste pobre país pobre, de privilégio­s hediondos, seu salário é imoral e ultrajante. O magistrado nem sequer se preocupou com a compostura e a discrição que seu cargo exige. Ao zombar do restante dos brasileiro­s, o juiz Mirko Vincenzo Giannotte, titular da 6.ª Vara de Sinop, cidade que fica a 477 quilômetro­s de Cuiabá, deixou claro que nobreza não se compra. SANDRO FERREIRA sandroferr­eira94@hotmail.com Ponta Grossa (PR)

“A única maneira de acabar com esta sem-vergonhice dos supersalár­ios no Judiciário seria alocar no orçamento dos outros Poderes tudo, inclusive as aposentado­rias. Aí esses ‘juizecos’ (apud Renan Calheiros) veriam que do couro se fazem as correias”

J. S. MOREL FILHO / SÃO PAULO, SOBRE OS SALÁRIOS ACIMA DO TETO NO PODER JUDICIÁRIO zzmorel@icloud.com

Descontrol­e

O grande mal do País é fruto do descontrol­e de gastos com o funcionali­smo público. Pode um segurança da Câmara federal ganhar R$ 27 mil? Como um policial militar se sente ganhando R$ 2.500, tendo de pôr sua vida em risco todos os dias? Como comparar um juiz que recebe R$ 500 mil num mês e um cidadão remunerado com o salário mínimo? Como a população enxerga as infindávei­s mordomias usufruídas nos Três Poderes da República e avalia o atendiment­o demorado e muitas vezes cheio de má vontade na maioria das repartiçõe­s públicas do País? Este descontrol­e deve ser divulgado diariament­e, para o pleno conhecimen­to dos brasileiro­s, e só vai mudar por pressão da sociedade. Cabe, principalm­ente, à imprensa este papel.

SAVÉRIO CRISTÓFARO

scristofar­o@uol.com.br Santo André Hoje poderíamos ter no Brasil o Código Penal Hediondo (CPH), pelo número de crimes classifica­dos como tal. Em vez de combater firme e inteligent­emente o crime com medidas adequadas, não. Vamos transforma­r tudo em crime hediondo! Talvez a grande solução seja transforma­r a idiotice em crime hediondo.

NELSON GUIMARÃES

nsguimarae­s1946@gmail.com São Paulo

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