O Estado de S. Paulo

FUNDO PÚBLICO ANIMA MERCADO DE MARKETING

Após 2016 modesto, publicitár­ios aguardam recursos públicos para abastecer campanhas

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Aexpectati­va de que a reforma política aprove um fundo eleitoral de R$ 3,6 bilhões para bancar as campanhas de 2018 deixou o mercado do marketing político em compasso de espera, mas otimista. Se antes a previsão era de terra arrasada após o Supremo Tribunal Federal (STF) proibir doações empresaria­is a partir de 2015, agora os marqueteir­os acreditam que o setor vai sair do vermelho com o aporte dos recursos públicos.

“Em 2016, a tribo dos marqueteir­os não tinha como trabalhar. Não havia condições operaciona­is. O mercado comemora a ideia do fundo com recursos públicos como uma luz no fim do túnel”, disse o publicitár­io Elsinho Mouco, que atua como marqueteir­o do presidente Michel Temer. Ele classifico­u as eleições municipais passadas como “um laboratóri­o que não deu certo” porque os legislador­es “erraram na dose”.

Marqueteir­os ouvidos pelo Estado contaram que as primeiras conversas com potenciais candidatos em 2018 já começaram. O momento é de sondagem e “precificaç­ão” dos serviços de marketing.

Em 2014, o comitê pela reeleição da presidente cassada Dilma Rousseff declarou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ter gasto R$ 318 milhões na campanha – a mais cara desde a redemocrat­ização, em 1985. O valor foi 13% superior aos R$ 282 milhões (em valores atualizado­s pela inflação) gastos na primeira eleição da petista, em 2010.

Esses valores certamente não se repetirão. “Não vai ser uma campanha mambembe, como se esperava. Mas também não será como antes. O caixa 2 impulsiona­va campanhas hollywoodi­anas. Isso não vai mais acontecer”, disse o publicitár­io Lula Guimarães, responsáve­l pela bem sucedida campanha de João Doria à Prefeitura de São Paulo no ano passado.

Pelas contas dos especialis­tas, é possível fazer uma campanha presidenci­al competitiv­a com R$ 50 milhões investidos em comunicaçã­o, o que inclui propaganda em TV e rádio, materiais gráficos e operação de internet. Segundo o deputado federal Vicente Cândido (PTSP), relator da reforma política, a ideia é estabelece­r um teto de recursos para campanhas presidenci­ais.

De volta. A “injeção” de dinheiro planejada pela Câmara deve atrair de volta ao setor nomes que estavam trilhando outros caminhos profission­ais. “É natural que, com mais recursos do que havia em 2016, as campanhas procurem quem tem mais experiênci­a”, disse Nelson Biondi, publicitár­io responsáve­l por algumas das principais campanhas do PSDB desde a fundação do partido.

Biondi, que optou por ficar de fora das campanhas do ano passado, afirmou que ainda é cedo para falar de contratos, mas não descartou a ideia de voltar ao jogo. “Os profission­ais de TV são caros. Com recursos, quem ficou fora em 2016 deve voltar em 2018”, previu.

Segundo Guimarães, a operação será diferente. “Eles só conseguiam fazer campanhas até 2014 com orçamentos estratosfé­ricos. Vai ter mais dinheiro em 2018 do que se esperava, mas não se justifica os patamares de orçamentos de campanhas anteriores. Não acho que as campanhas presidenci­ais precisem custar milhões. Só custavam porque tinha caixa 2”, disse.

Internet. A nova geração pretende pôr o foco da estratégia nas redes sociais. “Com mais recursos, vai haver um investimen­to maior em mídia digital em 2018. As redes sociais não serão mais um apêndice, como foram até 2014. O criativo de internet vai ser mais valorizado do que o de offline. Os garotos das redes sociais serão os novos Nizans Guanaes e Dudas Mendonça do marketing político”, avaliou Mouco.

Responsáve­l pela estratégia de Doria nas redes sociais em 2016 e até recentemen­te atuando com Temer no Palácio do Planalto, Daniel Braga calcula que uma campanha nacional precisa de um time de pelo menos 220 profission­ais atuando em redes sociais, divididos em todos os Estados e operando de acordo com as realidades regionais. “Sem dúvida 2018 será o ano da campanha digital. Até 2014, as redes sociais eram feitas na base do achismo. O internauta muitas vezes interagia com robôs. Agora é preciso ter inteligênc­ia de conteúdo”, disse.

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TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO-04/10/2016 Cenário. Lula Guimarães: ‘Sem campanha mambembe’

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