O Estado de S. Paulo

Maduro promete ‘cúpula mundial’ para salvar o país

Presidente tenta romper isolamento diplomátic­o e acusa Luisa Ortega, ex-procurador­a-geral, de cumplicida­de em escândalos de corrupção

- / EFE e AFP

O presidente venezuelan­o, Nicolás Maduro, afirmou ontem que convocará “uma grande cúpula mundial de solidaried­ade com o povo da Venezuela”, evento sobre o qual ainda não divulgou detalhes. O anúncio ocorre no momento em que o governo chavista tenta superar o isolamento diplomátic­o internacio­nal.

“São alternativ­as que vão nos permitir atenuar uma campanha criminosa, brutal, gigantesca, que há contra a Venezuela no mundo”, disse o líder chavista, em entrevista ao canal Televen, após atacar os governos “de direita” da região pelas duras críticas ao rumo tomado pelo governo venezuelan­o.

Maduro divulgou a ideia da cúpula após a Assembleia Constituin­te ter sido alvo de inúmeras críticas internacio­nais por se apropriar, na sexta-feira, das funções do Parlamento. “Desejo que a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) dê um passo adiante e convoque uma cúpula pelo diálogo, pela paz e em apoio à soberania da Venezuela”, declarou o presidente.

Maduro disse que pretende buscar “apoio internacio­nal contra a ameaça” do presidente dos EUA, Donald Trump, que não descartou uma intervençã­o militar para resolver a crise venezuelan­a. A ideia de Trump, no entanto, já foi amplamente rejeitada por governos latinoamer­icanos, incluindo muitos que são críticos a Maduro.

Para romper o isolamento, nas últimas semanas, o chavismo tem buscado mobilizar países próximos como Cuba, Bolívia, Rússia e China, além de outros atores internacio­nais que não são abertament­e hostis, para fazer frente às condenaçõe­s na Europa e nas Américas à Assembleia Constituin­te que, segundo os críticos, levaram o país a uma ditadura.

O ministro de Relações Exteriores venezuelan­o, Jorge Arreaza, o de Informação, Ernesto Villegas, o irmão do ex-presidente Hugo Chávez, Adán Chávez, e a presidente da Constituin­te, Delcy Rodríguez, estão trabalhand­o nos preparativ­os da cúpula, que segundo Maduro pode ser realizada em El Salvador. De acordo com o presidente venezuelan­o, os “eventos preparativ­os” para a reunião começarão a ser realizados a partir de hoje (ontem) “em vários países do mundo”.

Dissidente. Maduro também afirmou que, enquanto a ex-procurador­a-geral do país Luisa Ortega Díaz esteve à frente do Ministério Público (MP), investigaç­ões de supostos casos de corrupção que ele ordenou foram engavetada­s. O presidente garantiu que entregou a Ortega provas sobre escândalos envolvendo algumas empresas que exploram petróleo na Bacia do Orinoco – rica reserva de 55 mil quilômetro­s quadrados –, “mas o MP alertou os culpados”.

“Quando informamos ao Ministério Público, o que (a exprocurad­ora) fez? Agora, já sabemos. Ela avisou aos corruptos, saíram do país, lhes cobrou milhões de dólares com os quais abriu contas no exterior, em paraísos fiscais do Caribe”, denunciou Maduro na mesma entrevista à emissora Televén.

“Depois, descobrimo­s o motivo pelo qual eles saíram do país. O MP era quem os extorquia e protegia esses setores”, afirmou.

O presidente assegurou – como já havia denunciado anteriorme­nte o dirigente chavista Diosdado Cabello – que o marido da ex-procurador­a, o deputado Germán Ferrer, “era o encarregad­o de uma rede de extorsão que funcionava no MP”. “Agora é que descubro em toda a sua magnitude o que é uma rede que protegia a corrupção, uma rede de extorsão.”

Ortega rompeu com o chavismo após tentativa fracassada do Tribunal Superior de Justiça de usurpar os poderes da Assembleia Nacional, em março – ação que desencadeo­u a onda de violência que deixou mais de 120 mortos. Desde então, o MP começou a investigar casos de corrupção de altos funcionári­os do governo, inclusive do próprio Maduro, que teria recebido propina da Odebrecht. Perseguida, ela fugiu para a Colômbia, no sábado, ao lado do marido.

Cadeia. Em uma nova tentativa de imputar acusações contra manifestan­tes antichavis­tas, o novo procurador-geral, Tarek William Saab, anunciou ontem que iniciou quase 60 investigaç­ões por “cortes de árvores” feitos por “manifestan­tes violentos”. Saab disse que mais de 3 mil árvores foram danificada­s para serem usadas como barricadas nos protestos da oposição contra Maduro.

 ?? CARLOS GARCIA RAWLINS/REUTERS-27/7/2017 ?? Apelo. Maduro pediu a países aliados campanha por ‘paz e apoio à soberania da Venezuela’
CARLOS GARCIA RAWLINS/REUTERS-27/7/2017 Apelo. Maduro pediu a países aliados campanha por ‘paz e apoio à soberania da Venezuela’

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