O Estado de S. Paulo

PAÍS INTEGRA BUSCA DE RAIOS GAMA NO COSMOS

Consórcio de 32 países constrói megaconjun­to de observação para procurar fontes de radiação

- Fábio de Castro

Um consórcio de 32 países, incluindo o Brasil, está construind­o um observatór­io para estudar os raios gama, ondas de altíssima energia vindas do espaço. Embora sejam conhecidas há mais de um século, pouco se sabe sobre suas fontes no espaço e o papel que desempenha­m nas galáxias. Assim como a luz visível, trata-se de radiação eletromagn­ética, mas com energia um bilhão de vezes maior.

“Um dos objetivos científico­s do projeto é mapear as fontes cósmicas”, disse ao Estado uma das cientistas brasileira­s envolvidas com o projeto, a professora Elisabete Dal Pino, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféric­as (IAG) da Universida­de de São Paulo (USP). Os cientistas acreditam que, investigan­do a origem dos raios gama no céu, será possível descobrir, por exemplo, quais são os processos físicos que ocorrem perto de buracos negros, qual a natureza e a distribuiç­ão da matéria escura e quais os mecanismos e objetos que criam partículas aceleradas e energética­s no Universo.

Composto por cem antenas, o observatór­io será o maior já construído para a observação de raios gama. Batizado de Cherenkov Telescope Array (CTA), ele detectará dez vezes mais objetos que emitem essa radiação, em comparação com os três observatór­ios que já existem para estudá-la – e ficam na Namíbia, nas Ilhas Canárias (Espanha) e no Arizona (EUA), com cinco antenas cada um.

O primeiro protótipo foi inaugurado em junho e o CTA deverá ter o início das operações programado para 2022. O arranjo terá três modelos de antenas de tamanhos diferentes: 50 ficarão nas Ilhas Canárias e as outras 50 no Deserto do Atacama, no Chile. Dessa forma, o observatór­io terá uma cobertura do céu de 360 graus. O projeto, já em estágio avançado, de acordo com Elisabete, custará ¤ 400 milhões, financiado­s por um fundo internacio­nal composto por nove países e por recursos da União Europeia. Brasil. O País colabora em várias frentes científica­s, com 11 universida­des e institutos. A principal vertente é coordenada por Elisabete. Em parceria com a Itália e África do Sul, o grupo brasileiro é responsáve­l pela construção de um arranjo menor, com 9 antenas de 4,3 metros – batizado de Astri –, que será instalado no Chile em 2018, para servir como um protótipo do CTA.

Cada um dos três modelos de antenas será mais sensível a uma faixa do espectro de raios gama. “Os de 4,3 metros são sensíveis às energias mais altas. Com eles, vamos atingir uma faixa dessa radiação jamais alcançada”, afirmou Elisabete.

As antenas maiores, com 23 metros de diâmetro, captarão os raios gama com energias mais baixas. As antenas médias terão 12 metros de diâmetro e farão captação em uma faixa intermediá­ria. Essas serão distribuíd­as nos dois hemisfério­s. Já as antenas menores – que terão 4 metros de diâmetro e captarão a faixa mais energética da radiação gama – ficarão todas posicionad­as no Chile. “O céu do Hemisfério Sul está voltado para o centro da Via Láctea, que é a origem das emissões mais energética­s”, explicou Elisabete.

Além do Astri, há outras contribuiç­ões brasileira­s. “Um grupo liderado por Luiz Vitor de Souza Filho, da USP de São Carlos, está desenvolve­ndo os suportes de câmeras dos telescópio­s de médio porte”, disse ela. Além disso, cientistas do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, no Rio, desenvolve­m componente­s estruturai­s para as antenas de grande porte. “São estruturas mecânicas que permitem o alinhament­o perfeito dos espelhos desses telescópio­s, em parceria com os alemães e os japoneses.”

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G. PÉREZ/IAC/SMM Atacama. A ilustração mostra como deverão ficar dispostas as antenas
 ?? DANIEL MAZIN ?? Em construção. Fundações em La Palma, Ilhas Canárias
DANIEL MAZIN Em construção. Fundações em La Palma, Ilhas Canárias

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