O supertécnico
OBrasileirão está sob o domínio de um profissional que há 213 dias era apenas auxiliar. Meses bastaram para que Fábio Carille colocasse o discutido elenco do Corinthians em inquestionável liderança, com pontuação inédita. Sábado, ao ser derrotado pelo Vitória, perdeu invencibilidade de 34 pelejas. Ainda assim está sete pontos à frente do vice-líder, Grêmio. E com um jogo a menos!
Mas Carille só foi mantido no cargo depois que os dirigentes do Corinthians tentaram, sem sucesso, nomes mais experientes, como o colombiano Reinaldo Rueda, recém-contratado pelo Flamengo.
Seu instantâneo sucesso coloca em cheque o trabalho de treinadores badalados. Na última semana, uma declaração de outro novato causou polêmica. Jair Ventura, do Botafogo, questionou a chegada de estrangeiros que disputam mercado com brasileiros. Alegou que para trabalhar no exterior, na Europa, é preciso formação específica, cursos reconhecidos pela Uefa (a união das federações da Europa). Pediu isonomia. Contudo, ela já existe. Para trabalhar no Brasil nenhum diploma é exigido e na Europa sim, independentemente da nacionalidade.
Raros brasileiros têm o diploma europeu, caso de Mano Menezes. O comandante do Cruzeiro foi a Portugal, onde fez o Uefa Pro, ministrado em federações europeias. Ele completou o quarto nível, com aulas de gestão, psicologia esportiva, métodos de treinamento e até relacionamento com a imprensa. Milton Mendes, do Vasco, tem o mesmo curso. Outro que se formou
Técnico que há alguns meses era auxiliar domina o Brasileiro: ‘medalhões’ precisam refletir
por lá é Abel Braga, que dirige o Fluminense e trabalhou em Portugal, na França e nos Emirados Árabes.
Tite procurou a inscrição tardiamente e não conseguiu fazer curso da Uefa em seu ano sabático, 2014, tampouco os da CBF: “Mas assim que tiver tempo vou fazê-los, tanto um quanto o outro”, disse à coluna o técnico da seleção brasileira. Para ele, são estudos fundamentais, pois abordam sistemas de jogo, posições, funções, carga de trabalho, aspectos vitais. “É metodologia. Se você quer fazer um 3-6-1, um 3-5-2, de que forma tu vais treinar? Tu tens que ter uma forma para treinar. O jogo reproduz o teu treinamento”, destaca.
Mais do que brigar por uma reserva de mercado, os “professores’’ precisam se atualizar. Para que possam se igualar a quem apenas os auxiliava há alguns meses.
O sucesso do corintiano, que passou por todos os níveis dos cursos oferecidos pela CBF, escancara a estagnação de muitos treinadores que mantêm prestígio, apesar de times caracterizados por futebol primitivo, pautado pelos chutões, cruzamentos e laterais na área. É bom que os “medalhões” reflitam, façam, para valer, a chamada “reciclagem’’ que fez Tite se reinventar. Pois no momento, diante da maioria deles, Fábio Carille está parecendo um supertécnico.