O Estado de S. Paulo

Cemig tenta barrar leilão de hidrelétri­ca

Estatal mineira vai propor a abertura de uma câmara de conciliaçã­o com o governo federal

- Adriana Fernandes Rafael Moraes Moura Carla Araújo

A Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) vai propor nas próximas horas a abertura de uma câmara de conciliaçã­o com o governo federal para tentar acordo sobre o controle das hidrelétri­cas Jaguara, São Simão e Miranda. Com a abertura oficial de conciliaçã­o, a estatal mineira espera conseguir o adiamento do julgamento, marcado para esta terça-feira no Supremo Tribunal Federal (STF), do recurso que apresentou pedindo a suspensão do leilão da usina de Jaguara.

A estatal corre contra o tempo para impedir o leilão, previsto para setembro. A briga judicial da Cemig com a União, envolvendo a concessão de quatro usinas, está no centro do debate sobre o cumpriment­o da meta fiscal desse ano. A equipe econômica incluiu nas contas de 2017 a previsão de arrecadar R$ 11 bilhões com a venda das usinas e já avisou que não vai suspender o leilão para não correr o risco de descumprir a meta.

Mas a bancada mineira no Congresso faz forte pressão para o presidente Michel Temer aceitar o acordo. Os parlamenta­res ameaçam retaliar em votação de projetos importante­s, como a revisão das metas fiscais de 2017 e 2018. Em 20 de julho, a ministra-chefe da AdvocaciaG­eral da União, Grace Mendonça, informou ao relator do processo no STF, Dias Toffoli, que os ministério­s da Fazenda, Minas e Energia e Planejamen­to rejeitaram a proposta de conciliaçã­o apresentad­a pela Cemig. Agora, a empresa volta à carga.

O senador Aécio Neves (PSDB-MG) já se reuniu com o presidente Michel Temer algumas vezes para tentar suspender o leilão. O último encontro com Temer causou desconfort­o na cúpula do dividido partido tucano. O presidente não deu nenhum tipo de garantia à bancada mineira de que o leilão possa ser cancelado.

Segundo um auxiliar do presidente, o governo busca uma saída jurídica que possa contemplar os parlamenta­res, mas também não pode prejudicar a equipe econômica, que precisa do dinheiro para compor o saldo fiscal do ano. Temer determinou que a área jurídica encontre uma solução.

A empresa solicita ao STF que conceda uma liminar para paralisar o processo e já recorreu à Justiça também para barrar o leilão das usinas de São Simão, Miranda e Volta Grande.

Decisão. A decisão sobre Jaguara será tomada pelos ministros da 2ª Turma do STF, colegiado composto pelos ministros Edson Fachin, Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowsk­i, Celso de Mello e Toffoli. “Diante da taxativa manifestaç­ão da União, é de ser mantida a inclusão em pauta do presente feito”, decidiu Toffoli, em despacho de 15 de agosto. A participaç­ão do ministro Gilmar Mendes ainda é uma dúvida já que sua mulher trabalha no escritório que defende a estatal.

Confiante na vitória no Supremo, o governo já avisou aos investidor­es interessad­os em comprar as usinas que vai manter o leilão, apesar da pressão política.

O diretor jurídico da Cemig, Luciano Ferraz, confirmou que a estatal vai tentar o adiamento. O comando da empresa tem reunião marcada para esta segunda-feira na AGU da qual participar­ão representa­ntes da área econômica. Segundo ele, a Cemig trabalha para conseguir o financiame­nto e pagar a União. A estatal espera obter os recursos junto ao BNDES.

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