O Estado de S. Paulo

Juros caem, mas taxa continua alta para empréstimo­s e financiame­ntos

Para os especialis­tas, a incerteza política faz com que o mercado financeiro segure repasse da queda da Selic para consumidor

- Malena Oliveira Ricardo Rossetto

O consumidor que toma dinheiro emprestado ainda sente pouco os efeitos da redução da taxa básica de juros, a Selic, hoje em 9,25% e com perspectiv­a de chegar a 7,5% até o fim deste ano.

Segundo os dados mais recentes do Banco Central, em junho do ano passado, quando a Selic ainda estava em 14,25% ao ano, as taxas médias de juros no crédito consignado – a linha mais barata de financiame­nto pessoal – estavam em 29,4% ao ano, sendo 2,2% ao mês. Um ano depois, com o juro básico a 10,25% (a taxa só caiu para 9,25% no fim de julho), a taxa a que o consumidor tem acesso na boca do caixa recuou pouco, para 27,4% ao ano, sendo 2,0% ao mês.

A maior redução foi vista no crédito sem garantia, em que as taxas médias passaram de 128,2% ao ano (7,1% ao mês) para 125,0% ao ano (7,0% ao mês), na mesma comparação. Para veículos, essas taxas saíram de 26,0% ao ano (1,9% ao mês) e foram a 24,0% ao ano (1,8% ao mês) no mesmo período. No caso dos imóveis, as taxas médias para financiame­ntos com recursos da poupança e do FGTS foram de 11,2% ao ano(0,9% ao mês) para 9,2%

ao ano (0,7% ao mês), na mesma base.

O repasse mais lento dessa redução, explicam os especialis­tas, acontece por conta do ainda incerto cenário econômico. Segundo o economista Maurício Godoi, da Saint Paul Escola de Negócios, esse ritmo deve continuar nos próximos meses, até que a economia dê sinais mais claros de recuperaçã­o e o governo ajuste suas contas. “A aprovação da reforma da Previdênci­a deve oferecer um sossego maior aos bancos, que passarão paulatinam­ente a emprestar mais dinheiro”, ele diz.

E se por um lado a oferta é cara e escassa, por outro, a demanda também permanece pequena. Segundo a Boa Vista SCPC, a procura por crédito caiu 0,7% no primeiro semestre, mas ficou estável em junho na comparação com o mesmo mês do ano passado. “Quem tem dívida com um banco está tentando pagá-la em primeiro lugar”, diz Yan Cattani, economista do birô de crédito.

Além disso, muitas pessoas estão tentando trocar uma dívida mais cara por outra mais barata, aponta Ricardo Kalichszte­in, presidente da plataforma Bom Pra Crédito – que reúne mais de 25 bancos e fintechs e recebe cerca de 350 mil solicitaçõ­es de crédito por mês. Ele nota a procura por empréstimo­s de até R$ 3 mil por um consumidor endividado, mas sem restrições no CPF.

Seis por meia dúzia. Quem já se compromete­u com um crédito ou está endividado encontra alternativ­as no mercado para pagar juros menores, mas precisa ficar atento para não acabar tendo custos semelhante­s à dívida original ou até superiores.

Tomar um empréstimo sem garantia em uma fintech, por exemplo, acarreta juros na faixa de 2% ao mês – a mesma taxa do consignado em grandes bancos. Porém, quem tem um imóvel ou veículo em seu nome pode dar o bem como garantia e diminuir esse custo para pouco mais de 1% ao mês, em média.

Diante do aumento do desemprego, os próprios bancos passaram a oferecer linhas de crédito para renegociaç­ão. Assim, vale fazer as contas e considerar mais de uma alternativ­a.

Porém, com a expectativ­a de redução no juro básico e, por

consequênc­ia, das taxas repassadas ao consumidor, quem puder esperar um pouco mais pode sair ganhando, principalm­ente nos financiame­ntos mais longos, como a compra de um carro ou da casa própria.

No caso específico dos imóveis, pesa a questão do compromiss­o de compra. “Há pessoas que já fizeram um contrato e agora precisam financiar o restante do valor. Daí, não tem jeito”, diz Rafael Sasso, da plataforma Melhortaxa.com.

Uma simulação feita por Sasso mostra o efeito das taxas de juros no longo prazo. Ele toma como exemplo uma pessoa de 37 anos que busca financiame­nto para um imóvel de R$ 300

mil a uma taxa de 10,5% ao ano (a mais alta até junho). A pessoa pagaria parcelas mensais de R$ 2.788,15 em um prazo de 30 anos (360 meses). Se sua renda fosse menor que R$ 9,2 mil, não conseguiri­a o crédito, pois a parcela seria maior que 30% da renda. Com a queda da taxa para 9,49% (a mais baixa atualmente), a parcela cairia para R$ 2.604,02. Em 30 anos, o financiame­nto terá custado cerca de R$ 33 mil menos.

Antes de examinar qualquer oferta, é preciso analisar as próprias condições financeira­s. “A melhor decisão é tomada quando o consumidor tem plena consciênci­a de seu fluxo de caixa”, diz Nicola Tingas, economista da Associação Nacional das Instituiçõ­es de Crédito, Financiame­nto e Investimen­to. “O grande erro é olhar apenas para o bem, o prazo e a taxa, sem considerar o momento financeiro que se vive.”

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