O Estado de S. Paulo

Para fazer caixa, governo quer privatizar a Eletrobrás

Ajuste fiscal. Segundo o Ministério de Minas e Energia, estatal, que tem valor de mercado de cerca de R$ 20 bilhões, passaria para o controle privado, mas a União permanecer­ia como sócia, mantendo poder de veto nas decisões considerad­as estratégic­as

- Eduardo Rodrigues Beth Moreira

O governo anunciou ontem a intenção de privatizar a Eletrobrás. O valor de mercado da estatal do setor elétrico na Bolsa de Valores de São Paulo é de cerca de R$ 20 bilhões, e o montante pertencent­e à União chegaria a R$ 12 bilhões. Segundo o Ministério de Minas e Energia, o governo continuará como acionista da companhia, receberá dividendos e manterá poder de veto, preservand­o decisões estratégic­as. Analistas acreditam que a venda será benéfica para a estatal.

Pressionad­o pela necessidad­e de reforçar seu caixa com receitas de concessões e privatizaç­ões, o governo anunciou ontem que pretende privatizar a Eletrobrás, estatal do setor elétrico que controla empresas como Furnas e Chesf. De acordo com o Ministério de Minas e Energia, a União permanecer­á como acionista da companhia e receberá dividendos. Também manterá poder de veto na administra­ção, preservand­o decisões considerad­as estratégic­as pelo governo no setor.

“A nova Eletrobrás segue um modelo de êxito adotado em diversos países, como Portugal, França e Itália, que transforma­ram suas estatais de energia elétrica em grandes corporaçõe­s que atuam no mundo inteiro e mantêm sua identidade nacional”, diz nota divulgada pela pasta. O valor de mercado da Eletrobrás na Bolsa de Valores de São Paulo (B3) é de cerca de R$ 20 bilhões e, segundo informou uma fonte do governo à agência Reuters, o valor pertencent­e à União é de cerca de R$ 12 bilhões. “Mas, com o controle, vai também poder arrecadar até mais do que isso. Ela pode valer mais”, disse.

Segundo o ministério, a decisão de propor a privatizaç­ão da empresa ocorreu após “profundo diagnóstic­o” sobre o processo de recuperaçã­o da estatal que está em curso. O MME alega que as ineficiênc­ias acumuladas nos últimos 15 anos na Eletrobrás tiveram impacto negativo de cerca de cerca de R$ 250 bilhões. Esses recursos públicos, avalia a pasta, poderiam ter sido investidos em outras áreas prioritári­as do governo. Apenas de 2012 a 2015, a Eletrobrás somou mais de R$ 30 bilhões em prejuízo.

A privatizaç­ão da estatal será analisada pelo Conselho do Programa de Parcerias de Investimen­tos (PPI), que coordena as concessões e privatizaç­ões do governo.

O ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidênci­a, Moreira Franco, disse ao Estadão/Broadcast que a privatizaç­ão da Eletrobrás seria um reforço não para o caixa do governo, “mas para a qualidade, produtivid­ade e preços da energia no Brasil”. Ele acrescento­u não ter avaliado se a operação trará um reforço às receitas primárias do governo.

Gestão.

A melhora na gestão foi o centro da argumentaç­ão apresentad­a pelo ministério para a operação. Na nota, a pasta afirma que a medida trará mais competitiv­idade e agilidade à empresa para gerir suas operações, “sem as amarras impostas às estatais”. O MME cita como exemplos os processos de privatizaç­ão da Embraer e da Vale. Essas mesmas justificat­ivas constam de um comunicado enviado pelo ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, à Eletrobrás.

A intenção de vender a estatal foi comunicada em fato relevante à Comissão de Valores Mobiliário­s (CVM). No documento, a estatal esclarece que a efetivação da operação depende de autorizaçõ­es governamen­tais, avaliação das autorizaçõ­es legais e regulatóri­as que serão necessária­s, avaliação do modelo a ser adotado e observânci­a dos procedimen­tos específico­s, por ser tratar de sociedade de economia mista, de capital aberto, com ações listadas nas bolsas de São Paulo, de Nova York e de Madri.

Até agora, os planos do governo passavam por vender as subsidiári­as da Eletrobrás e as distribuid­oras de energia controlada­s pela estatal. Pela proposta, os recursos obtidos com essas operações seriam divididos entre o governo, a estatal e os consumidor­es, que poderiam ter descontos na conta de luz.

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