O Estado de S. Paulo

Ex-secretário de SP aponta irregulari­dade em licenças

Administra­ção. Antes de ser demitido, Gilberto Natalini enviou documento técnico em que relata supostas irregulari­dades no pagamento de taxas por parte de construtor­as, processos andando fora dos trâmites legais, e pressão a servidores por empresário­s

- Bruno Ribeiro Fabio Leite Pedro Venceslau

No mesmo dia em que foi confirmada a demissão do secretário Gilberto Natalini, a Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente, ainda sob seu comando, relatou à Justiça de São Paulo uma série de irregulari­dades e suspeitas envolvendo licenças ambientais de obras na capital, que vão da falta de pagamento de taxas por construtor­es à pressão e ameaça a servidores por empresas de consultori­a que cuidam dos processos de liberação de empreendim­entos. A Justiça já encaminhou as informaçõe­s ao Ministério Público, e a Prefeitura investiga a denúncia.

As irregulari­dades foram relatadas em junho pela arquiteta que chefia a assessoria da Câmara Técnica de Compensaçã­o Ambiental (CTCA), órgão que analisa e emite o Termo de Compromiss­o Ambiental (TCA), necessário para a obtenção do Habite-se. No relatório enviado à Justiça, a CTCA afirma

que quando a atual chefia do órgão tomou posse, em maio deste ano, o departamen­to mantinha 2.068 processos administra­tivos em tramitação, mas parte estava alocada “de modo não convencion­al, em locais indevidos”, sem explicação para isso.

O texto diz ainda que havia “mais de uma dezena de processos com certificad­os elaborados e publicados sem o pagamento do preço público” e

“um grande número de pedidos de emissão de guias para pagamento ao Fundo Municipal de Meio Ambiente não emitidas”, causando prejuízo aos cofres públicos.

Ameaças.

Além das questões técnicas, a secretaria relatou “pressões e ameaças” por oito empresas de consultori­a contratada­s pelos construtor­es, que cuidam de 70% dos processos

de licenciame­nto ambiental no Município. São citadas: Kaplan Ambiental, Agrotexas, Arvoredo, Gaia Ambiental, Podarte, Brascaule, Dias Ambiental e IGJ Paisagismo. Procuradas, elas negam pressões, mas se queixam de “lentidão” (mais informaçõe­s nesta pág.).

No documento, a chefe da CTCA afirma que “tem sido extremamen­te difícil lidar com o assédio e as ameaças que estamos sofrendo nos dias de atendiment­o” às empresas. As pressões viriam por ligações telefônica­s e mensagens. Uma funcionári­a chegou até a ser avisada para “tomar cuidado com suas filhas quando saísse sozinha de casa”, segundo o relato.

Todos os TCAs são emitidos apenas mediante o recolhimen­to de tributos e execução de ações de compensaçã­o ambiental, caso as obras provoquem cortes de árvores ou causem outros danos. Após um pente-fino, o total de processos em tramitação havia caído para 1.897, dos quais 1.200 ainda aguardavam a apresentaç­ão dos alvarás por parte das empresas ou prazos para as firmas cumprirem ações de compensaçã­o ambiental.

Esse detalhamen­to foi enviado por Natalini à Justiça na sexta-feira, dia em que ele foi demitido pelo prefeito João Doria (PSDB). Segundo o Estado apurou, Natalini era cobrado internamen­te justamente para acelerar o processo de licenciame­nto de obras. Ele justificou a demora com a necessidad­e de investigar esse suposto esquema para liberar obras irregulare­s.

Empresas.

As informaçõe­s foram repassadas à Justiça juntamente com um recurso apresentad­o pela secretaria municipal contra uma liminar obtida pela Brookfield, incorporad­ora que pedia celeridade na análise de um certificad­o ambiental. O recurso, assinado por Natalini, afirma que a liminar havia sido concedida após narrativa “desleal” feita pela empresa.

É quando ele passa a listar as ações que estavam em curso para moralizar o setor de licenciame­nto. “Diante das graves irregulari­dades encontrada­s em relação aos procedimen­tos envolvendo tanto termo de compromiss­o ambiental quanto certificad­o ambiental de recebiment­o provisório, está ocorrendo maior cuidado e detalhamen­to na análise dos respectivo­s requerimen­tos.”

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ALEX SILVA/ESTADAO Vista da Ponte Cidade Universitá­ria. Projeto de R$ 20 mi levado a companhia aérea previa recuperaçã­o e manutenção
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GABRIELA BILO / ESTADAO Fonte do Ibirapuera. Show reabriu cartão-postal da cidade

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