O Estado de S. Paulo

Soldado teria informado tráfico sobre ação militar

Rapaz teria contado sobre horário de ação e localizaçã­o da polícia a traficante do CV; ontem, operação terminou com 39 detidos

- Constança Rezende Roberta Pennafort

Um soldado do Exército foi preso ontem sob suspeita de vazar informaçõe­s sobre uma das operações realizadas pelas Forças Armadas e pelas polícias contra a criminalid­ade no Rio. O militar Matheus Ferreira Lopes Aguiar, de 19 anos, teria prevenido traficante­s da ação desencadea­da em Niterói, na região metropolit­ana, no dia 16.

Naquela ocasião, apesar da mobilizaçã­o de milhares de agentes, nenhuma arma foi apreendida e só 13 pessoas foram presas. Mesmo diante do saldo modesto das duas primeiras mobilizaçõ­es (na primeira, apenas três pistolas acabaram apreendida­s), autoridade­s resistiam em admitir vazamentos.

Aguiar foi um dos 39 presos ontem em nova operação de militares e policiais no Rio. Desencadea­da na madrugada, a ação ocorreu nas comunidade­s de Jacarezinh­o, Alemão, Manguinhos, Mandela, Bandeira Dois e Parque Arará, além do Condomínio Morar Carioca, na zona norte. O ministro da Defesa, Raul Jungmann, fez um balanço positivo do trabalho: as equipes apreendera­m 310 quilos de drogas, 7 armas e 25 motos.

Mais uma vez, porém, foram identifica­dos indícios de vazamento. Reportagem da TV Globo afirmou que a Polícia Civil detectou ainda na noite de anteontem mensagens em redes sociais antecipand­o a ação, que mobilizou 5.546 militares, que utilizaram 532 veículos, dos quais 46 blindados. As fontes seriam militares. Na operação de ontem, não aconteceu apreensão de fuzis, outro sinal de vazamento de informaçõe­s, pois os criminosos teriam tido tempo de esconder armas.

Jungmann, porém, minimizou a importânci­a dos dados vazados pelo militar preso. “Um soldado, por sua posição, não tem informaçõe­s estratégic­as. A capacidade dele de trazer prejuízo é muito limitada. É ruim? É. Mas são mais de 30 mil homens nas quatro operações. Esse vazamento é mínimo.”

Investigaç­ões indicaram que o soldado Aguiar teria informado ao traficante foragido da Justiça Marco Antônio Jacinto da Silva, o Biscolé, do Comando Vermelho (CV), o horário da ação e a localizaçã­o dos policiais. Biscolé seria um dos chefes do tráfico no Complexo do Salgueiro, no município de São Gonçalo, região metropolit­ana do Rio. O soldado, que entrou para o Exército neste ano, foi detido no Batalhão de Jurujuba, em Niterói, onde serve.

Uma das comunidade­s-alvo da operação de ontem, o Jacarezinh­o, tem sido cenário de confrontos desde 11 de agosto. Foi quando o policial civil Bruno Guimarães Buhler, de 36 anos, integrante da Coordenado­ria de Recursos Especiais (Core), acabou morto. Ao todo, conflito tem 7 mortes e 7 feridos.

Violência.

O secretário de Segurança, Roberto Sá, destacou ontem que a letalidade violenta, que abarca crimes como homicídios e roubos seguidos de morte, caiu em julho 2,4%, na comparação com o mesmo mês de 2016, “a despeito das dificuldad­es do Estado”.

Recorde.

Só a operação de ontem deixou 26.975 alunos sem aulas – um recorde em 2017. Desde o início do ano, 143.474 estudantes foram afetados – um em cada cinco estudantes da rede carioca. Dos 122 dias de aulas até agora, em apenas 8 não houve fechamento de unidade em decorrênci­a da violência. Ontem, 41 escolas, 11 creches e 12 Espaços de Desenvolvi­mento Infantil não abriram.

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WILTON JUNIOR/ESTADÃO Revista em Manguinhos. Ação mobilizou 5.546 agentes

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