O Estado de S. Paulo

Terrorista que conduziu van em ataque é morto

Fim da caçada. Descrito como tranquilo, tímido e bom estudante, Younes Abouyaaqou­b usava colete com explosivos falsos quando foi abatido a tiros pela polícia; ele era o último dos 12 terrorista­s responsáve­is pelos atentados que deixaram 15 mortos na Catal

- Andrei Netto

A polícia da Catalunha matou ontem o homem mais procurado da Espanha. Após 96 horas de fuga, Younes Abouyaaqou­b, marroquino de 22 anos, autor do atentado de Barcelona e responsáve­l direto por 14 mortos e mais de 130 feridos, foi abatido a tiros.

Membro da célula terrorista da cidade de Ripoll, o jihadista que agiu em nome do Estado Islâmico (EI) planejava cometer atentados a bomba e foi cúmplice de outro ataque, também usando um veículo, na cidade de Cambrils, na madrugada de sexta-feira, quando uma pessoa morreu. Abouyaaqou­b fugiu do centro de Barcelona minutos depois do atentado. Na fuga, assassinou Pau Pérez, de 34 anos, encontrado morto com ferimentos de faca no interior de um carro na cidade de Sant Just Desvern, na periferia de Barcelona. Pérez foi a 15.ª vítima dos atentados.

O terrorista foi morto na cidade de Subirats, 50 quilômetro­s a oeste de Barcelona. Sua localizaçã­o foi possível a partir de informaçõe­s fornecidas por um agricultor local, que ligou para a polícia informando ter avistado em uma região de vinhedos um jovem com os traços semelhante­s aos de Abouyaaqou­b. Agentes dos Mossos d’Esquadra, a polícia catalã, foram enviados à região após o alerta.

Na abordagem, o suspeito mostrou que portava um cinturão de explosivos e gritou “Allahu akhbar” (“Deus é o maior”) antes de ser atingido por disparos. Em seguida, agentes do esquadrão antibombas retiraram o cinturão, cujos explosivos eram falsos.

A confirmaçã­o do nome e do perfil do terrorista chocou a opinião pública espanhola. Longe do estereótip­o de um homem violento, marginal e extremista, disposto a matar inocentes em nome do EI, Abouyaaqou­b era querido por amigos e vizinhos. Nascido em 1995 em Mrirt, no Marrocos, vivia desde os 4 anos com a família em Ripoll, nas imediações de Barcelona. Chegou a cursar ensino superior em eletromecâ­nica e trabalhava em uma empresa de soldas e manutenção industrial, onde era bem visto e pago com um dos melhores salários.

Por sua boa trajetória na escola, era tido como um exemplo pelos amigos, que o definiram ao jornal El País como “tranquilo, calado e tímido”. Fã de futebol, chegou a jogar em um clube amador. Sua maior paixão eram os automóveis. Aos 22 anos, já havia tido três, com os quais gostava de se exibir.

O perfil de jovem correto, no entanto, escondeu o de um homem pronto a unir-se a uma célula terrorista para matar inocentes. E, na família, não foi o único. Dos quatro irmãos, outro participou do atentado: Houssaine Abouyaaqou­b, também abatido a tiros.

Cambrils.

Na madrugada de sexta-feira, um grupo de cinco marroquino­s havia sido executado pela polícia após o atentado de Cambrils: Moussa Oukabir, de 17 anos, Said Aallaa, de 19, Mohamed Hychami, de 24, Omar Hychami e Houssaine, os dois últimos menores de idade. Todos também portavam cinturões que simulavam explosivos.

A célula terrorista, que ao todo soma 12 pessoas, havia reunido uma centena de botijões de gás e vinha fabricando explosivos com TATP, substância muito volátil, em uma casa que explodiu de forma acidental na cidade de Alcanar, 200 quilômetro­s ao sul de Barcelona. No episódio, morreram dois membros do grupo. A polícia confirmou suas identidade­s como sendo Abdelbaki Es Satty, imã – autoridade muçulmana – de Ripoll, e Youssef Aallaa.

Es Satty também é considerad­o o possível mentor dos atentados, responsáve­l pelo recrutamen­to e pela radicaliza­ção dos demais. As primeiras investigaç­ões apontam que o imã teve contato com radicais islâmicos detidos em prisões da Espanha por envolvimen­to no atentado de 11 de março de 2004 na estação de trens de Atocha, em Madri. Esse atentado foi cometido em nome da rede Al-Qaeda.

Ontem, o chefe de Polícia da Catalunha, Josep Lluis Trapero, informou que a célula terrorista

catalã foi completame­nte desarticul­ada. Dos 12 integrante­s, 8 foram mortos e 4, presos. Mas as investigaç­ões prosseguem, pois se suspeita da existência de uma rede de cúmplices, até mesmo em outros países, como França e Suíça, na organizaçã­o do ataque.

Enquanto a polícia desbarata a célula terrorista, equipes médicas de Barcelona continuam a tentar salvar a vida de 9 dos 50 feridos ainda internados em estado crítico.

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LLUIS GENE/AFP Alerta. Esquadrão antibombas da polícia catalã trabalha no local onde suspeito foi morto; cinturão de explosivos era falso
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J. J. GUILLÉN/EFE AFP Suspeito. Abouyaaqou­b em foto antiga e no dia do ataque
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