O Estado de S. Paulo

Valor bilionário recebe críticas e PEC no Senado passa a ser cogitada

Pelo texto aprovado na comissão especial da Câmara, reserva para campanhas seria de R$ 3,6 bilhões

- /ALEXANDRA MARTINS e IGOR GADELHA

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Gilmar Mendes, disse ontem que é necessário buscar recursos para financiar as eleições. “Temos que discutir o custeio da democracia. Se colocarmos num plebiscito, vamos ter a resposta de que não se quer fundo público nem corporativ­o. Então como fica?”, afirmou.

Crítico da proibição do financiame­nto empresaria­l pelo STF, Gilmar disse que o Judiciário tem contribuíd­o para tornar o modelo de financiame­nto de campanha “ainda mais confuso”. “Quando se faz reforma no Legislativ­o, elas são mais completas. Quando fazemos as nossas, nós o fazemos de maneira pontual, como fizemos com a cláusula de barreira (rejeitada pelo Supremo) ou quando só tratamos do financiame­nto (veto da doação empresaria­l), dissociado do modelo eleitoral”, disse.

Gilmar se referiu à decisão do STF que, em 2015, declarou inconstitu­cional o recebiment­o de recursos empresaria­is por partidos. O ministro apontou suspeitas nas doações de pessoas físicas a candidatos nas eleições de 2016 para reforçar a defesa de sua tese. Segundo ele, dos cerca de 700 mil doadores individuai­s nas eleições municipais, aproximada­mente 300 mil não tinham renda compatível para as contribuiç­ões.

PEC. Ao admitir ontem que o fundo público sofre resistênci­a no Congresso, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEMRJ), afirmou que a Casa deve levar em consideraç­ão a PEC 113C/2015 do Senado que discute o retorno das doações empresaria­is às campanhas políticas. “Não consigo encontrar condições, pelas discussões que tive com a equipe econômica nas últimas semanas sobre a situação fiscal do Brasil, de organizar R$ 3 bilhões para financiar a campanha”, criticou.

A proposta do deputado Vicente Cândido (PT-SP) aprovada na comissão especial da Câmara previa a criação de um fundo público para abastecer campanhas. O valor dessa conta seria correspond­ente a 0,5% da Receita Corrente Líquida da União – para 2018, a quantia prevista é de R$ 3,6 bilhões. É esta a proposta que deve ser votada hoje no plenário da Câmara.

O senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES) afirmou que o fundo partidário de R$ 3,6 bilhões “já nasceu morto”. Se for aprovado na Câmara dos Deputados, o Senado vai barrar sua criação, disse o tucano.

O deputado Lelo Coimbra (PMDB-ES) afirmou ter “certeza” de que a proposta não será aprovada na Câmara.

O cientista político Luiz Felipe d’Avila, do Centro de Liderança Pública (CLP), parceiro do evento do Estado, defendeu o financiame­nto de campanha eleitoral pela iniciativa privada. “O cidadão não aguenta mais pagar imposto e ver o dinheiro que deveria ir para saúde e educação ir para política. Erramos ao demonizar o financiame­nto privado de campanha. Precisamos ter um financiame­nto privado com regras rigorosas”, afirmou d’Avila.

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FELIPE RAU/ESTADÃO Financiame­nto. ‘Temos de discutir o custeio da democracia’, afirma Gilmar Mendes

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