O Estado de S. Paulo

Semipresid­encialismo evitaria crises políticas, avalia Gilmar Mendes

Ministro do Supremo e presidente do TSE vê presidente­s cada vez mais dependente­s do Congresso Nacional

- /I.G., A.S.J. e F.C.A.

O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, defendeu ontem durante discurso no “Fórum Estadão – Reforma Política em Debate” a adoção de um regime “semipresid­encialista” no Brasil a partir de 2022. Para Gilmar, esse sistema de governo evitaria muitas das crises políticas que atingem o País hoje e traria responsabi­lidade maior ao Congresso.

“Os presidente­s são cada vez mais ‘Câmara-dependente­s’, ‘Congresso-dependente­s’. Então é preciso que a gente separe as coisas de Estado das coisas de governo. E por isso me parece que um semipresid­encialismo seria um caminho. (...) Que combine essa estrutura antiga do nosso modelo presidenci­al com o parlamenta­rismo. Que permitisse que as questões de governo ficassem entregues a um primeiro-ministro”, disse.

Como adiantou o Estadão/Broadcast na sexta-feira, Gilmar já entregou o texto de uma proposta de semipresid­encialismo ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Ele tem como base a Proposta de Emenda à Constituiç­ão (PEC) apresentad­a neste ano pelo atual ministro das Relações Exteriores, o senador licenciado Aloysio Nunes Ferreira (PSDBSP). Gilmar também tem conversado sobre o tema com o presidente Michel Temer.

O ministro propõe que o presidente da República fique como chefe de Estado, mas com poder moderador que daria a ele poder até mesmo de dissolver o Congresso. Já o primeiromi­nistro cuidaria das questões de governo. “Essa combinação preservari­a a Presidênci­a da República e preservari­a a chefia de Estado dessas crises que nos atingem. Isso traria maior responsabi­lidade para o processo decisório congressua­l”, disse.

Na avaliação de Gilmar, o presidenci­alismo em vigor no Brasil, no qual o presidente da República é, ao mesmo tempo, chefe de governo e chefe de Estado, é instável. “Só dois presidente­s terminaram o mandato”, afirmou, ao lembrar que, desde a redemocrat­ização, apenas dois dos quatro presidente­s brasileiro­s eleitos pelo voto popular conseguira­m concluir o mandato: Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010).

Também presente no evento, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), defendeu a proposta de Gilmar. “Quando o Parlamento tiver a responsabi­lidade de governar efetivamen­te, que a responsabi­lidade é dele, não só do Executivo, tenho certeza de que teremos um Parlamento que falará mais com a sociedade”, disse.

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