O Estado de S. Paulo

Trump promete ser mais agressivo no Afeganistã­o

Presidente dá poucos detalhes e não estabelece prazo para vencer Taleban, mas garante ofensiva militar para evitar vácuo de poder na região

- Cláudia Trevisan

Frustrando a expectativ­a de que enviaria mais tropas ao Afeganistã­o, o presidente Donald Trump anunciou ontem uma “nova estratégia” para a mais longa guerra da história dos EUA sem dar detalhes sobre como pretende derrotar o Taleban e outros grupos terrorista­s no país.

As novidades do plano são a decisão de não definir um prazo para a retirada militar do Afeganistã­o e o aumento da pressão sobre o vizinho Paquistão para impedir que extremista­s continuem a usar seu território para combater o governo de Cabul.

“O Paquistão tem muito a ganhar ao colaborar conosco em nossos esforços no Afeganistã­o. E tem muito a perder por continuar a abrigar terrorista­s”, afirmou Trump, lembrando os bilhões de dólares repassados pelos EUA ao país.

“Estamos mudando de condições definidas pelo tempo para condições definidas pela situação no terreno”, disse o presidente em pronunciam­ento no Forte Myer, em Virgínia. “Não vou dizer quando vamos atacar, mas nós vamos atacar.”

Ontem, Trump repetiu as promessas de campanha de não se engajar em programas de promoção da democracia e exportação de valores americanos. “Não estamos de novo construind­o nações, estamos matando terrorista­s.”

O presidente usou o discurso para falar de maneira indireta dos conflitos causados por supremacis­tas brancos e neonazista­s em Charlottes­ville, na semana passada. Sua resposta ao conflito foi criticada por democratas, republican­os e membros de seu próprio gabinete.

No discurso, Trump usou as Forças Armadas como uma metáfora da sociedade americana, na qual pessoas de diferentes raças, etnias e religiões se unem em busca de um objetivo comum. “Seu integrante­s fazem parte da mesma família, a família americana”, disse. “Quando uma parte da América é ferida, todos somos feridos. E quando um cidadão sofre injustiça, todos nós sofremos juntos”, disse.

No Afeganistã­o, a estratégia de Trump abrange ainda a coordenaçã­o de esforços militares, diplomátic­os e econômicos e o aumento do poder do Pentágono para definir as regras e as condições de combate. “Eu vou expandir a autoridade das Forças Armadas contra as redes terrorista­s e criminosas que semeiam o caos no Afeganistã­o.”

Trump criticou seu antecessor, Barack Obama, por definir um prazo para a retirada das tropas do Afeganistã­o – o democrata ordenou que ela ocorresse em 2014, mas acabou mantendo 8,4 mil soldados. Havia a expectativ­a de que Trump anunciasse o aumento em 50% desse contingent­e, com o envio de mais 4 mil soldados. Apesar de não se compromete­r com um número específico, ele deu indicações de que o contingent­e poderá crescer.

A expansão militar americana no Afeganistã­o contraria posições históricas de Trump, favoráveis à retirada das tropas. Também contraria sua promessa de campanha de reduzir intervençõ­es no exterior e priorizar gastos em programas domésticos, dentro da filosofia “América em Primeiro Lugar”.

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