Trump promete ser mais agressivo no Afeganistão
Presidente dá poucos detalhes e não estabelece prazo para vencer Taleban, mas garante ofensiva militar para evitar vácuo de poder na região
Frustrando a expectativa de que enviaria mais tropas ao Afeganistão, o presidente Donald Trump anunciou ontem uma “nova estratégia” para a mais longa guerra da história dos EUA sem dar detalhes sobre como pretende derrotar o Taleban e outros grupos terroristas no país.
As novidades do plano são a decisão de não definir um prazo para a retirada militar do Afeganistão e o aumento da pressão sobre o vizinho Paquistão para impedir que extremistas continuem a usar seu território para combater o governo de Cabul.
“O Paquistão tem muito a ganhar ao colaborar conosco em nossos esforços no Afeganistão. E tem muito a perder por continuar a abrigar terroristas”, afirmou Trump, lembrando os bilhões de dólares repassados pelos EUA ao país.
“Estamos mudando de condições definidas pelo tempo para condições definidas pela situação no terreno”, disse o presidente em pronunciamento no Forte Myer, em Virgínia. “Não vou dizer quando vamos atacar, mas nós vamos atacar.”
Ontem, Trump repetiu as promessas de campanha de não se engajar em programas de promoção da democracia e exportação de valores americanos. “Não estamos de novo construindo nações, estamos matando terroristas.”
O presidente usou o discurso para falar de maneira indireta dos conflitos causados por supremacistas brancos e neonazistas em Charlottesville, na semana passada. Sua resposta ao conflito foi criticada por democratas, republicanos e membros de seu próprio gabinete.
No discurso, Trump usou as Forças Armadas como uma metáfora da sociedade americana, na qual pessoas de diferentes raças, etnias e religiões se unem em busca de um objetivo comum. “Seu integrantes fazem parte da mesma família, a família americana”, disse. “Quando uma parte da América é ferida, todos somos feridos. E quando um cidadão sofre injustiça, todos nós sofremos juntos”, disse.
No Afeganistão, a estratégia de Trump abrange ainda a coordenação de esforços militares, diplomáticos e econômicos e o aumento do poder do Pentágono para definir as regras e as condições de combate. “Eu vou expandir a autoridade das Forças Armadas contra as redes terroristas e criminosas que semeiam o caos no Afeganistão.”
Trump criticou seu antecessor, Barack Obama, por definir um prazo para a retirada das tropas do Afeganistão – o democrata ordenou que ela ocorresse em 2014, mas acabou mantendo 8,4 mil soldados. Havia a expectativa de que Trump anunciasse o aumento em 50% desse contingente, com o envio de mais 4 mil soldados. Apesar de não se comprometer com um número específico, ele deu indicações de que o contingente poderá crescer.
A expansão militar americana no Afeganistão contraria posições históricas de Trump, favoráveis à retirada das tropas. Também contraria sua promessa de campanha de reduzir intervenções no exterior e priorizar gastos em programas domésticos, dentro da filosofia “América em Primeiro Lugar”.