O Estado de S. Paulo

Santos oferece asilo a chavista dissidente

Governo venezuelan­o critica auxílio e acusa Bogotá de ‘proteger a corrupção e o crime’

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“Bogotá se converteu no centro da conspiraçã­o contra a democracia e a paz na Venezuela” Jorge Arreaza

CHANCELER

DA VENEZUELA

O presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, disse ontem que a chavista dissidente Luisa Ortega Díaz, ex-procurador­a-geral da Venezuela, está sob proteção do governo de seu país e receberá asilo político se o requerer. Ortega chegou na sexta-feira a Bogotá, após fugir de lancha da Venezuela via Aruba. A medida deve aprofundar a crise entre os vizinhos e foi criticada por autoridade­s chavistas.

O anúncio foi feito por Santos em sua conta no Twitter. Ortega deixou a Venezuela após ter sido destituída pela Assembleia Nacional Constituin­te (ANC) convocada pelo chavismo e denunciada pela oposição como fraudulent­a.

Ela se distanciou do governo em março por não concordar com a interferên­cia do Judiciário no Parlamento, controlado pela oposição. A convocação da ANC selou a ruptura. Hoje, ela se diz perseguida.

O governo venezuelan­o respondeu à decisão de Santos com críticas. O chanceler Jorge Arreaza disse que o presidente colombiano optou por proteger a corrupção e o crime ao abrigar Ortega. “Bogotá se converteu no centro da conspiraçã­o contra a democracia e a paz na Venezuela”, disse. “O que esperar de um governo que abriga em seu seio oligárquic­o o chefe do golpe de 2002 contra o comandante Chávez (o empresário Pedro Carmona)?”

Até agora, autoridade­s colombiana­s não esclarecer­am qual o status migratório da ex-procurador­a, que chegou ao país com o marido, o deputado Germán Ferrer. Ele tem contra si um mandado de prisão emitido pela Justiça chavista. O casal também teve os bens congelados e foi proibido de deixar a Venezuela.

Antes de sair do país, Ortega participou por telefone de um encontro de procurador­es em Puebla, no México. No seu pronunciam­ento, ela acusou Maduro de ter recebido propina da Odebrecht. “Temos detalhes de todas as quantias e personagen­s que enriquecer­am e a investigaç­ão envolve Maduro e seu entorno”, disse. A Odebrecht diz estar colaborand­o com as investigaç­ões.

Resposta.

Maduro reagiu às acusações dizendo que Ortega e Ferrer são os que estão envolvidos em irregulari­dades. “A procurador­ia extorquia e protegia setores corruptos”, disse o presidente.

Além da ex-procurador­a e seu marido, estão na Colômbia cinco magistrado­s venezuelan­os nomeados pelo Parlamento de maioria opositora, que denunciou a tomada de funções pela Assembleia Constituin­te na sexta-feira.

Os juízes fugiram diante do assédio do governo de Maduro, que desconside­rou a eleição do Tribunal Supremo de Justiça pela maioria opositora e ordenou a detenção dos 33 juízes nomeados em 21 de julho, segundo Pedro José Troconis, um dos magistrado­s.

Após chegar ao poder, em 2010, Santos recompôs as relações bilaterais com a Venezuela e qualificou de “novo melhor amigo” o então presidente Hugo Chávez, padrinho político de Maduro, com quem até agora havia mantido uma relação estável, embora não livre de tensões. No entanto, diante das últimas decisões de Maduro, Santos o acusou de levar a Venezuela para uma ditadura e apoiou as sanções econômicas dos Estados Unidos contra o presidente e outros dirigentes chavistas.

Ainda ontem, o governo do Chile ofereceu mediação para a crise política na Venezuela. No fim de semana, Maduro anunciou que espera apoio da Cúpula dos Estados da América Latina e Caribe (Celac) para romper o isolamento internacio­nal.

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ANDRE DUSEK/ESTADÃO

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