Técnicos reagem à onda de demissões
Treinadores definem reivindicações para dar maior força para a categoria, como a que limita clubes a contarem com no máximo dois técnicos por torneio
Técnicos de todo o País se reuniram ontem na sede da CBF para definir uma série de reivindicações a fim de dar maior força e estabilidade à categoria. Descontentes com o grande número de demissões – 13 treinadores já perderam o emprego na Série A –, eles querem limite no número de contratações de técnicos durante as competições, obrigação do pagamento de multas rescisórias antes de estabelecer novos acordos, registro de contratos de todos os profissionais e validação dos certificados de técnicos brasileiros para atuarem no exterior. A intenção é que as medidas sejam implantadas a partir do próximo ano.
O encontro foi organizado pela Federação Brasileira de Técnicos de Futebol (FBTF), e ao todo 73 treinadores ocuparam o auditório da sede da CBF. O ponto mais defendido ao final do debate foi aquele que limita os clubes a contarem com no máximo dois técnicos por campeonato. Caso haja uma segunda demissão, o time terá que ser comandado até o fim por alguém do quadro de profissionais do próprio clube.
A medida tem um defensor importante: Tite. O técnico da seleção ocupou a mesa de debates e integrou a comissão de técnicos que apresentou as propostas ao presidente da CBF, Marco Polo Del Nero.
“A minha prioridade, entre outros aspectos importantes, é que a troca de técnicos tem que ser diminuída. É impossível desenvolver seu trabalho onde há 19 rodadas e 42 trabalhos diferenciados – não (apenas) troca de técnicos, mas entre interinos e substituição. Isso é contraproducente. Futebol não evolui dessa forma”, defendeu Tite. Cerca de uma hora depois de o técnico dizer isso, o Vasco demitiu Milton Mendes (leia mais ao lado).
A intenção dos treinadores é que a CBF estabeleça essa e outras regras no Regulamento Geral de Competições (RGC), o que faria as normas terem validade para todos os campeonatos nacionais e evitaria que fossem reprovadas pelos clubes na reunião arbitral que antecede as competições.
“Hoje, infelizmente, a nossa legislação está fazendo com que a gente ande muito atrás. Você se sente lesado. Nós não temos respaldo, não somos respeitados e não temos uma legislação que faça com que os clubes nos respeitem quando somos demitidos”, afirmou Vagner Mancini, demitido pela Chapecoense na 11.ª rodada do Brasileiro e hoje no Vitória.
Além do limite de trocas de técnicos, eles querem também que a licença de treinador oferecida pela CBF tenha validade internacional. Atualmente, Europa, parte da Ásia e o Oriente Médio só reconhecem o certificado fornecido pela Uefa, o que dificulta a contratação de técnicos do País.
“Os cursos brasileiros precisam ser reconhecidos via Conmebol, padrão Uefa. Nós queremos ter essa equiparação dos cursos”, disse Tite, que aproveitou para negar que os técnicos do Brasil queiram dificultar a vinda de estrangeiros para cá. “Não há absolutamente nada. A concorrência em termos elevados qualifica. O detalhe não é estrangeiro ou não estrangeiro, é de qualidade ou não.”
Outra demanda dos técnicos é pela redução dos custos para obter o certificado nacional. Atualmente, um treinador precisa gastar cerca de R$ 40 mil se quiser alcançar a certificação PRO, a mais alta. Com metade do valor, é possível alcançar a de nível A, que deverá ser exigida de todos os técnicos da Série A no Brasileiro de 2019.
Em declaração publicada no site da CBF, Del Nero classificou o encontro como “um momento importante de mobilização”. O cartola afirmou que irá analisar os pedidos, mas não sinalizou se irá acatá-los.
Tite
TÉCNICO DA SELEÇÃO BRASILEIRA “Essa troca de técnicos tem de ser diminuída. Isso é contraproducente. Futebol não evolui dessa forma”