O Estado de S. Paulo

Uma proposta de reforma tributária

- BERNARD APPY

OCentro de Cidadania Fiscal (CCiF), entidade que dirijo junto com Eurico de Santi, Isaias Coelho e Nelson Machado, acaba de divulgar uma proposta de reforma dos tributos brasileiro­s sobre bens e serviços. O texto descrevend­o a proposta pode ser acessado em www.ccif.com.br.

A base da proposta é a progressiv­a substituiç­ão de cinco tributos atuais – PIS, Cofins, IPI, ICMS e ISS – por um único imposto, denominado Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), cuja receita seria compartilh­ada entre a União, os Estados e os municípios.

O IBS seria um imposto não cumulativo do tipo IVA (imposto sobre o valor agregado), com todas as caracterís­ticas de um bom IVA: base ampla de bens e serviços; regime de crédito financeiro, no qual todo o imposto incidente nas etapas anteriores gera crédito; desoneraçã­o completa das exportaçõe­s e dos investimen­tos; devolução tempestiva de créditos acumulados; e incidência “por fora”, sobre o preço dos bens e serviços sem impostos.

A principal novidade da proposta é o padrão de transição tanto para a substituiç­ão dos tributos atuais pelo novo imposto (em 10 anos) quanto para a distribuiç­ão federativa da receita (em 50 anos).

Pela proposta, o IBS seria criado com uma alíquota de 1% (reduzindos­e compensato­riamente a alíquota da Cofins) e operaria durante dois anos com essa alíquota, visando a testá-lo operaciona­lmente e a conhecer seu potencial de arrecadaçã­o. Nos oito anos seguintes as alíquotas dos cinco tributos atuais seriam progressiv­amente reduzidas e a alíquota do IBS seria progressiv­amente elevada. A vantagem deste modelo é que ele permite que as empresas se adaptem de forma suave à mudança, ao mesmo tempo que viabiliza a transição sem aumentar ou reduzir a carga tributária. Ao final da transição, os cinco tributos atuais seriam extintos.

No caso da transição para a distribuiç­ão federativa da receita, nos primeiros 20 anos seria mantida a repartição atual da receita do ICMS e do ISS para o valor atual destes impostos, corrigido pela inflação, distribuin­do-se o cresciment­o real da receita proporcion­almente ao consumo (princípio do destino). Nos 30 anos subsequent­es, a repartição da receita desses impostos convergiri­a progressiv­amente para a distribuiç­ão proporcion­al ao consumo.

Os benefícios esperados com as mudanças propostas são muitos: grande simplifica­ção do sistema tributário brasileiro, aumento da taxa de investimen­to e eliminação de distorções que reduzem a produtivid­ade e o potencial de cresciment­o do País.

A opção por uma reforma tributária ampla, ao invés de uma série de reformas pontuais dos tributos atuais, se deve a dois motivos. O primeiro é que, embora melhorias nos tributos atuais sejam possíveis, parte importante dos problemas da tributação brasileira de bens e serviços se deve a distorções estruturai­s, que só podem ser resolvidas com uma reforma ampla. O segundo motivo é que o custo político de algumas mudanças nos tributos atuais – como a redução das alíquotas interestad­uais do ICMS – provavelme­nte não é muito menor do que o de uma reforma ampla.

A proposta do CCiF surge em um momento em que a Câmara dos Deputados está retomando a discussão sobre a reforma tributária e deve ser entendida como uma contribuiç­ão para este debate. O que se procurou foi resolver problemas técnicos de propostas anteriores de reforma, bem como estabelece­r um padrão de transição que contribui para minimizar resistênci­as políticas. Ainda que seja difícil aprovar uma reforma tributária ampla neste governo, é importante amadurecer a discussão, pois a melhoria do sistema tributário é essencial para viabilizar o cresciment­o sustentado do País.

Por fim, vale mencionar que a reforma dos tributos sobre bens e serviços não resolve todos os problemas do sistema tributário brasileiro. Outros problemas, como distorções distributi­vas injustific­áveis na tributação da renda e da folha de salários, precisam ser resolvidos. Essa é a agenda do Centro de Cidadania Fiscal para os próximos meses. DIRETOR DO CENTRO DE CIDADANIA FISCAL

A ideia principal é a progressiv­a substituiç­ão de cinco tributos atuais por um único imposto, o IBS

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