O Estado de S. Paulo

Venda deve beneficiar estatal, dizem analistas

Para especialis­tas do setor, País não precisa mais de uma empresa para ser instrument­o de política energética, cujo modelo está consolidad­o

- Renée Pereira LUCIANA COLLET / COLABOROU

TERÇA-FEIRA, 22 DE AGOSTO DE 2017

“A decisão de hoje (ontem) demonstra emergência por parte do governo, que precisa fazer caixa para reduzir o déficit fiscal.” Nivalde de Castro

PROFESSOR DA UFRJ

A informação de que o governo quer privatizar a Eletrobrás, uma das maiores empresas de energia elétrica da América Latina, foi recebida por especialis­tas do setor como uma boa saída para a estatal, que vem enfrentand­o graves problemas financeiro­s e acumula dívidas de R$ 43,5 bilhões.

Para o professor da UFRJ, Nivalde de Castro, a decisão de dar um novo rumo à Eletrobrás já vinha sendo colocada em prática pelo atual presidente da estatal, Wilson Ferreira Jr, com a venda da participaç­ão da empresa em vários projetos e das distribuid­oras. Mas seria um processo mais longo. Segundo fontes, a modelagem para vender a participaç­ão da Eletrobrás em projetos de energia eólica e transmissã­o estava sendo feita pelo banco BTG Pactual e deveria ser concluída no fim deste mês. Agora, esse processo deve ser interrompi­do.

Na avaliação de Castro, o País hoje não tem mais a necessidad­e de ter uma estatal como a Eletrobrás para ser instrument­o de política energética. “Isso porque o modelo do setor está bem consolidad­o e a expansão pode ser feita apenas com a iniciativa privada.”

O consultor Ricardo Lima, especialis­ta no setor, elogiou a decisão do governo. Na avaliação dele, a redução do peso do Estado, acompanhad­a de uma melhoria da governança corporativ­a e da redução do peso político na empresa são ótimas notícias. Mesmo no momento atual, de instabilid­ade política e crise econômica, a venda pulverizad­a da empresa pode atrair investidor­es de peso, como fundos de investimen­tos internacio­nais, diz Lima. “Menos Estado é positivo e necessário.”

Na avaliação dos especialis­tas, tirar o controle da empresa das mãos do governo fará muito bem para os negócios da estatal. Quem ficar no controle poderá vender os ativos sem o excesso de burocracia como ocorre hoje.

“A decisão de hoje demonstra emergência por parte do governo, que precisa fazer caixa para reduzir o déficit fiscal”, disse o professor Nivalde de Castro, destacando a qualidade dos ativos da empresa.

Reunião.

Ontem à tarde, antes do anúncio, a Eletrobrás realizou uma reunião com investidor­es e analistas de mercado em São Paulo, mas os representa­ntes da estatal não fizeram qualquer menção ao comunicado, que pouco depois seria arquivado na Comissão de Valores Mobiliário­s (CVM), a respeito da desestatiz­ação.

O principal executivo presente era o diretor Financeiro e de Relações com Investidor­es da estatal, Armando Casado, que deixou o evento às pressas. Um dos funcionári­os de sua equipe insistiu para a necessidad­e de irem embora e pediu desculpas aos jornalista­s, que tinham iniciado uma entrevista com o executivo. O funcionári­o acrescento­u, na sequência: “Depois vocês vão entender”.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil