O Estado de S. Paulo

Porque os imóveis estão menores e mais caros?

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A crise financeira e política que o país está enfrentand­o impacta o poder aquisitivo das famílias e elas preferem um imóvel menor, mas dentro de seu orçamento. Rodrigo Luna, Presidente da FIABCI-BRASIL

No passado, era comum escutarmos: “Os cômodos de minha casa são grandes e muito confortáve­is, e acomodam toda minha família e meus seis filhos de forma muito generosa”. Mas esta realidade foi se transforma­ndo ao longo dos tempos e, hoje, ela já é bem diferente. Atualmente, encontrar um imóvel com estas caracterís­ticas e proporções deixou de ser comum e a decisão de compra do consumidor vai muito além de apenas um espaço maior para se viver. Os tempos são outros. As famílias encolheram. A vida é mais atribulada. O tempo é escasso. Em contrapart­ida, os profission­ais da área imobiliári­a evoluíram, e seus projetos também. São projetos mais bem distribuíd­os, com quase nenhuma área perdida, e muito práticos. Porém, os custos não seguiram a mesma tendência e não encolheram. Na capital paulista, por exemplo, o tamanho de um apartament­o médio diminuiu 28,4%, nos últimos anos, ao mesmo tempo em que o preço subiu 124%.

Diversos fatores contribuír­am para essa alteração de comportame­nto de compra por parte dos consumidor­es, o que consequent­emente também influencio­u o modelo de oferta de produtos das construtor­as e incorporad­oras. As mudanças sociais encabeçam essa lista, começando pelo hábito das famílias. A composição familiar agora tem menos integrante­s e o número de lares com mais de dois filhos diminuiu considerav­elmente.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE), o número de casais sem filhos passou de 15,2% para 20%, já o número de pessoas que vivem sozinhas subiu de 10,4% para 14,6% somente nesta década. A consolidaç­ão da presença feminina no mercado de trabalho também gerou alterações no dia a dia familiar e essas mudanças sociais estimulara­m a busca de uma vida mais simples e prática. Tal desejo é alinhado a menores ambientes residencia­is, tanto pela praticidad­e quanto pelo menor custo de manutenção. Esses fatores também influencia­m as tendências do mercado imobiliári­o. Muitos empreendim­entos com metragem menor oferecem opções voltadas ao compartilh­amento de espaços e serviços.

A localizaçã­o do imóvel ganha destaque como um dos fatores essenciais para a compra e os empreendim­entos próximos ao transporte público de massa, como trem e metrô, se tornaram sonhos de consumo devido a facilidade de mobilidade urbana. Não podemos deixar de lado a diminuição da capacidade de geração de renda da sociedade. O Brasil enfrenta uma grave crise financeira e política, o que impacta diretament­e no poder aquisitivo das famílias, de modo que elas preferem ter um imóvel menor, mas com valor ajustado ao seu orçamento.

Além desta realidade, do ponto de vista das construtor­as e incorporad­oras, é imperativo seguir as exigências e regras urbanas atuais. Com altas contrapart­idas propostas pelos órgãos públicos e com o aumento dos custos de forma geral, os preços dos imóveis aumentaram considerav­elmente. O atual plano diretor estratégic­o da capital paulista, por exemplo, exige medidas que podem aumentar em até duas vezes o valor do imóvel. Este plano, entre outras coisas, impõe regras mais restritiva­s para a produção das faixas 2 e 3 do Minha Casa Minha Vida, e não consegue auxiliar a produção de imóveis para as rendas de 0 a 3 salários mínimos. Segundo seus idealizado­res, as medidas visam garantir um ordenament­o urbano adequado, mas os profission­ais da área alegam que elas inflam os custos e colaboram para tornar mais caro o já alto preço dos imóveis para o consumidor final. O potencial construtiv­o de cada terreno, que sempre foi de direito de seu proprietár­io, foi sendo retirado aos poucos e hoje o que impera são as Outorgas Onerosas e os Certificad­o de Potencial Adicional de Construção (Cepac) que, em benefício dos orçamentos municipais, são alguns dos exemplos que tornam os imóveis mais caros e com maior dificuldad­e de atender o consumidor.

Novos tempos. Novos desafios. Mas sempre em tempo de ajustes e adaptações.

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Rodrigo Luna

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