O Estado de S. Paulo

BNDES não quer devolver agora dinheiro do FAT

Banco está sendo pressionad­o pela Fazenda a cobrir rombo do fundo, que deve atingir no ano que vem R$ 20,6 bilhões

- Adriana Fernandes Idiana Tomazelli

Uma disputa entre o Tesouro e o Banco de Desenvolvi­mento Econômico e Social (BNDES) tem potencial para abrir mais um flanco de tensão na área econômica do governo. O banco avalia que este não é o melhor momento para devolver ao Tesouro os recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhado­r (FAT) repassados ao banco de fomento, como quer o Ministério da Fazenda.

A instituiçã­o quer definir um cronograma de devolução de parte do dinheiro que leve em conta o fluxo de caixa futuro e as novas captações externas que o banco fará para reforçar sua capacidade de oferta de financiame­nto.

O presidente do BNDES, Paulo Rabello de Castro, já bateu de frente antes com o Ministério da Fazenda. Ele fez críticas abertas à proposta do governo para a nova taxa de juros que servirá de referência aos empréstimo­s do banco estatal (a TLP), considerad­a uma das principais medidas para reduzir o custo dos subsídios.

Como antecipou o Estadão/Broadcast no fim de junho, por trás da pressão da Fazenda para devolver os recursos do FAT está o risco de a União descumprir a chamada “regra de ouro” do Orçamento, que proíbe a tomada de empréstimo­s para bancar despesas correntes. A reportagem mostrou que o representa­nte do Tesouro no grupo técnico do Conselho Deliberati­vo do Fundo (Codefat) advertiu que a União corria esse risco e que não poderia mais cobrir o déficit do FAT por conta do cresciment­o das despesas com o pagamento de seguro-desemprego e abono salarial. O problema começará a aparecer em 2018.

Sem o “cobertor” do Tesouro, algumas saídas para financiar o rombo do FAT seriam a devolução de parte dos repasses que o fundo faz ao BNDES, o uso de parte do patrimônio do fundo ou sua retirada do alcance da Desvincula­ção de Receitas da União (DRU).

O saldo de recursos do FAT no BNDES é de R$ 240,82 bilhões, segundo balanço do fim de junho. Desse valor, R$ 12,23 bilhões são de depósitos especiais, que poderiam ser restituído­s mais rapidament­e ao fundo, e outros R$ 228,59 bilhões correspond­em aos repasses constituci­onais do FAT ao banco de fomento.

Segundo fontes, o BNDES quer normatizar melhor a relação com o FAT e alega que não pode abrir mãos desses recursos “de imediato” porque a demanda potencial de empréstimo de longo prazo tem chance de recuperaçã­o mais rápida nesse momento de retomada do cresciment­o e das concessões.

Buraco.

O buraco no FAT deve atingir R$ 20,6 bilhões em 2018 por causa da diferença entre o que o fundo recebe e o que ele gasta, segundo o Orçamento aprovado pelo Conselho Deliberati­vo do Fundo (Codefat).

Além de defender a devolução dos recursos pelo BNDES ao fundo, o governo também aposta na aprovação da TLP para melhorar a remuneraçã­o do banco de fomento ao FAT, que hoje segue a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), fixada em 7% ao ano, abaixo da Selic, em 9,25% ao ano.

Em nota, o Tesouro disse que considera a “regra de ouro” como

parte fundamenta­l do arcabouço de regras fiscais que asseguram a sustentabi­lidade das contas públicas no longo prazo e que o governo tem condições de cumpri-la em 2017. “A garantia de seu cumpriment­o no médio e longo prazos, no entanto, depende da aprovação de reformas estruturai­s, as quais sejam capazes de adequar as despesas correntes do Estado às suas receitas correntes”, diz o órgão.

O BNDES não se pronunciou.

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BRUNO ROCHA/FOTOARENA - 2/8/2017 Embate. Castro já criticou propostas do governo, como a TLP

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