O Estado de S. Paulo

Reforma tributária começa a ser discutida

Texto que propõe simplifica­ção de impostos será entregue hoje a comissão da Câmara

- Eduardo Rodrigues Fabrício de Castro Lorenna Rodrigues /

“Precisamos de uma reforma tributária digna desse nome. Não é a reforma que o governo está falando.” Maílson da Nóbrega

EX-MINISTRO DA FAZENDA

Sem alterar a estrutura da tributação brasileira que cobra mais impostos sobre o consumo do que sobre a renda, a nova proposta de reforma tributária patrocinad­a pelo governo Michel Temer será apresentad­a hoje na comissão especial da Câmara dos Deputados. Chamada apenas de “simplifica­ção tributária” pelo próprio Planalto, o principal efeito da proposta é unificar tributos atuais e criar uma plataforma eletrônica de recolhimen­to de novo tributos, reduzindo custos burocrátic­os para as empresas e combatendo a sonegação.

O relator da proposta, deputado Luiz Carlos Hauly (PSDBPR), entregará a minuta do projeto de criação do Imposto de Valor Agregado (IVA) seguindo o modelo clássico europeu, que ocupará o lugar de uma série de tributos cobrados na produção e no consumo. O novo imposto substituir­á o Imposto sobre Produtos Industrial­izados (IPI), o PIS/Cofins, a Cide, o Salário Educação, o Imposto sobre Serviços (ISS) e o Imposto sobre Circulação de Mercadoria­s e Serviços (ICMS). O Imposto sobre Operações Financeira­s (IOF) seria extinto.

O novo tributo seria recolhido pelos Estados, mas setores estratégic­os teriam um IVA seletivo sob responsabi­lidade federal. Esse seria o caso do imposto cobrado nas áreas de energia elétrica, combustíve­is e derivados, comunicaçã­o, minerais, transporte­s, cigarros, bebidas, veículos, eletrodomé­sticos, eletroelet­rônicos, pneus e autopeças.

A proposta também prevê que os impostos sobre os rendimento­s – Imposto de Renda (IR) e Contribuiç­ão Social sobre Lucro Líquido (CSLL) – sejam fundidos em um único tributo. A tributação sobre propriedad­e e as contribuiç­ões para a Previdênci­a não seriam alteradas.

“Ao simplifica­r o sistema, a arrecadaçã­o será preservada para a União, os Estados e os municípios, enquanto o setor produtivo será estimulado. Haverá um choque positivo para a atividade econômica e para o emprego que são o que impulsiona as receitas”, defende Hauly.

O relator prevê que o IVA para alimentos, remédios, exportaçõe­s e máquinas e equipament­os seja zerado. Ainda assim, estima, a carga tributária geral da economia brasileira continuará nos atuais 35% do PIB. Segundo ele, é possível aprovar este ano a reforma e os 11 projetos de lei necessário­s para colocá-la de pé. “Há um consenso de que o País não pode continuar refém das receitas extraordin­árias para fechar as contas todos os anos. Com a reforma, o PIB voltará a crescer”, completa.

Críticas.

O ex-ministro da Fazenda no governo de José Sarney e consultor Maílson da Nóbrega concorda que a reforma tributária é a mais importante para elevar a produtivid­ade, mas critica a proposta. “A reforma tributária é uma reforma microeconô­mica fundamenta­l para aumentar a eficiência. Hoje, o sistema tributário é o principal inibidor da expansão da economia brasileira. Além disso, nós precisamos de uma reforma tributária digna desse nome. Não é a reforma que o governo está falando”, avalia.

Maílson vê Temer com “zero” espaço para tocar as mudanças. “A reforma tributária exige capital político e preparação do projeto, além de boa campanha de marketing. O governo precisa convencer os governador­es de que todos ganharão com o IVA”, diz. “Isso pressupõe um presidente eleito diretament­e, com legitimida­de e liderança, capaz de conduzir essa obra.”

O advogado tributaris­ta Matheus Bueno de Oliveira, sócio do PVG Advogados, acredita que a proposta tem o mérito de ser abrangente e incluir todos os entes na discussão. “De fundo, tem um discurso coerente de simplifica­ção, que reduzirá a energia que gastamos com as questões tributária­s.”

Oliveira destaca a necessidad­e de uma regra de transição, como na proposta de Hauly, que prevê cinco anos para a entrada total em vigor das mudanças. Apesar dos pontos positivos, ele acredita que a reforma terá tramitação difícil e demorada. “O timing não é perfeito, principalm­ente porque tem muitas outras propostas em andamento que serão prioridade­s.”

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DIVULGAÇÃO PSDB - 10/11/2015 Simplifica­ção. Hauly diz que arrecadaçã­o será preservada para União, Estados e municípios

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