O Estado de S. Paulo

APÓS PRÉ-DATADO, PARCELA NO CARTÃO

Operação responde por 50,7% das compras

- / FERNANDO NAKAGAWA

Uma invenção brasileira criada na década de 1990 já é responsáve­l por mais da metade das compras feitas no cartão de crédito. Criado para substituir os cheques pré-datados, o parcelamen­to no cartão caiu no gosto de clientes e lojistas brasileiro­s e a operação responde por mais da metade do valor faturado pela indústria de cartões de crédito no Brasil.

Pesquisa anual do Banco Central revela que, em 50,7% das compras feitas no último trimestre de 2016, clientes optaram por parcelar em pelo menos duas vezes no cartão. Do caixa de supermerca­do ao site da companhia aérea, a opção de dividir a compra supera os pagamentos feitos em uma única vez, ou 49,3% das transações.

O parcelamen­to no cartão é uma operação de crédito oferecida pelo lojista e que é apenas gerida pela instituiçã­o financeira. O varejista recebe da operadora conforme o calendário de parcelas dado ao consumidor.

“Essa operação é uma jabuticaba que nasceu para substituir outra jabuticaba. O parcelamen­to nasceu como opção ao cheque pré-datado”, diz o diretor executivo da Associação Brasileira das Empresas de Cartão de Crédito (Abecs), Ricardo Vieira. Na época, a economia brasileira tinha menor oferta de crédito e maior informalid­ade. Diante desse cenário, operações como cheque pré-datado e parcelamen­to no cartão nasceram como alternativ­a de financiame­nto menos complicado.

O tempo passou, mas muitos desses problemas ainda dificultam o acesso ao crédito tradiciona­l. Um exemplo está no número 636 da Rua Conselheir­o Nébias, no centro de São Paulo. Especializ­ada na revenda de táxis usados, a Rosane Automóveis sempre viu dificuldad­e em fechar negócio porque alguns taxistas não conseguem comprovar renda para o crédito tradiciona­l. Para contornar a situação, a loja permite até comprar um carro parcelado no cartão.

“Começamos a oferecer essa opção há uns três anos. O objetivo é tentar facilitar a compra para quem não consegue, seja por falta de dinheiro para a entrada ou acesso ao financiame­nto”, diz o gerente da loja Wagner Santos. “Analisamos caso a caso porque o custo da operação é nosso e o cliente precisa ter esse limite, mas é possível parcelar 100% do valor do carro no cartão.”

“Nas operações sem juros, o custo desse financiame­nto acaba sendo do lojista, que precisa administra­r esse fluxo de caixa futuro”, diz o diretor da Abecs. “Mas o risco de inadimplên­cia da transação é totalmente do banco.”

Segundo Santos, no cheque e no boleto, o calote médio na loja fica entre 20% e 30%. “No cartão, é zero. O problema é que nem sempre o cliente tem limite disponível.”

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil