O Estado de S. Paulo

Podcast vira livro em versão brasileira

‘O Palácio da Memória’, série de áudios do americano Nate DiMeo, é publicada em um volume no Brasil

- Guilherme Sobota

O Palácio da Memória não é um livro – é um podcast, narrado pelo norte-americano Nate DiMeo –, mas ele chega agora ao Brasil, em formato livro, editado pela Todavia e traduzido por Caetano Galindo (da fama de James Joyce, Thomas Pynchon e outros). O tradutor selecionou e traduziu as histórias que DiMeo narra no podcast e montou o livro, inédito no mundo. Os dois participam do lançamento nesta terça, 22, na Tapera Taperá (Galeria Metrópole, São Paulo), às 19h, com leitura de episódios.

O podcast, com episódios de 5 a 15 minutos, é sucesso entre ouvintes de língua inglesa, tem uma média de 200 mil ouvintes e, recentemen­te, foi “elevado” à condição artística pelo Metropolit­an Museum of Art de Nova York, que convidou DiMeo para sua residência artística.

Com tramas curtas sobre personagen­s de rodapé ligados à história dos EUA, DiMeo, que trabalhou em rádios boa parte de sua carreira antes de se dedicar totalmente ao podcast, desde 2008, diz buscar interpreta­r o presente com fatos do passado. “Não sou historiado­r, meu objetivo não é necessaria­mente iluminar a história, mas sim o presente por meio desses personagen­s”, diz DiMeo ao Estado. “A ideia é usar os incidentes para articular um jeito de pensar em como vivemos hoje em dia.”

Entre os incidentes está a história de um astronauta que, uma vez no espaço, relata pequenas órbitas brilhantes que ele nunca havia visto em nenhum treinament­o, e as atribui a um milagre… Anos depois, mistério revelado: era a própria urina do astronauta, congelada no espaço. Outro episódio fala de uma pequena cidade em que vazamentos de gás que fazem as pessoas desmaiar são atribuídos a uma aparição vestida de preto. Outro, da última viagem de trem de Edgar Allan Poe.

As histórias foram vertidas ao português (e à página) por Caetano Galindo. “Esse livro é engraçado porque depende da tradução”, explica – não seria muito lógico tornar disponível ao público americano um livro cujo conteúdo está disponível gratuitame­nte na web, no seu formato original. “Estamos acostumado­s a pensar na tradução como um prêmio de consolação ao leitor que não pode ter acesso ao original, nesse caso a tradução é uma vantagem: só podemos conceber esse produto como literatura porque o nosso leitor consegue uma fruição maior com o texto em português”, compara.

Galindo traduziu os textos direto do podcast, com uma janela do computador aberta no áudio e outra no editor de texto. “Esteticame­nte, foi fundamenta­l, porque eu poderia ter partido do texto escrito, mas esse não é o produto final dele”, diz. “O produto final é a enunciação, o tipo de sentimento que ele pretende causar quando lê os textos.” Traduzir do áudio foi para o tradutor uma maneira de transporta­r para o papel o efeito de quem ouve o podcast.

Quem estiver em São Paulo hoje, poderá conferir ao vivo se a missão foi bem-sucedida.

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NILTON FUKUDA/ESTADÃO DiMeo. 50 episódios no livro

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