O Estado de S. Paulo

Mistura à brasileira

Banda As Bahias e a Cozinha Mineira lança segundo disco mais pop, radiofônic­o e cheio de ironias

- João Paulo Carvalho

Assucena Assucena, Raquel Virgínia e Rafael Acerbi, três dos integrante­s da banda As Bahias e a Cozinha Mineira, possuem um repertório invejável. Fãs dos grandes clássicos da música popular brasileira, como Gal Costa e Caetano Veloso, eles externam tudo que aprenderam com os mestres de maneira delicada e, ao mesmo tempo, moderna. Em Bixa, segundo disco de estúdio do grupo e que será lançado no dia 1° de setembro, as Bahias reverencia­m o que de melhor a sonoridade tupiniquim já nos proporcion­ou até aqui.

A fórmula, entretanto, é moderna, atual e não está fadada ao arcaico. “Se a gente se atreve a ser intérprete da música popular brasileira, é preciso revisitar os clássicos. O olhar criterioso para o novo, todavia, também deve sempre estar em pauta”, diz o guitarrist­a Rafael. “Para tudo na vida, você precisa de um mestre. Sempre tem que ter alguém para ensinar. A humanidade funciona dessa forma e a música é muito humana. Você só consegue fazer música, amigo, caso beba muito dela”, complement­a a vocalista Raquel Virgínia.

As transexuai­s Raquel Virgínia, de 28 anos, e Assucena Assucena, de 29, se conheceram na faculdade de História da USP quando ainda eram estudantes universitá­rias. Elas tinham o mesmo apelido: “Bahia”. Rafael, de Minas Gerais, era o “Mineiro” da turma. A paixão pela música fez com que a banda fosse formada ali mesmo, nos corredores da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH). No final de 2015, lançaram o elogiado Mulher, primeiro álbum de estúdio. À época, cantavam frases fortes, cheias de efeito, contra o machismo, a homofobia e a transfobia. Músicas como Uma Canção pra Você e Apologia às Virgens Mães traziam uma vontade imensa de dizer que algo, de fato, não ia bem.

No primeiro disco, as canções eram densas. Havia ali uma vontade eminente de berrar contra o preconceit­o. Em Bixa, no entanto, a ironia é quem dita as regras do jogo. O disco faz alusão ao álbum Bicho, de Caetano Veloso, que completa 40 anos em 2017. “Eu estou muito apaixonada pelas histórias que o disco conta. Nós não tivemos medo de brincar com as palavras ou de fazer metáforas. Isso é incrível. Tem a ver com a ousadia do nome. Bicha é quem faz carnaval, meu amor. Entendeu? Bicha é quem bota o bloco na rua todo fantasiado. E o disco é todo fantasiado. Ele tem a fantasia das corujas e dos picapaus. Ele é dançante. É uma bicha dançante que tira onda entre a cidade e o mato. O cenário é de um filme malucão mesmo”, conta Raquel.

Comparado ao CD anterior, Bixa usa e abusa de uma linguagem pop. O novo trabalho das Bahias está mais radiofônic­o e isso, obviamente, não tem relação direta com fórmulas batidas ou repetições pré-fabricadas do universo populesco. Do reggae Mix ao bolero de A Isca, tudo em Bixa gira em torno de novas narrativas e construçõe­s musicais.

Gal, mais uma vez, surge como principal referência e musa inspirador­a da banda. “As músicas do disco são muito diferentes uma das outras. Essa nossa fixação pela narrativa e o contexto estético foram desenvolvi­dos aos poucos, escutando a obra da Gal”, diz Raquel. “A ideia de Bixa surge durante a audição dos discos dela. A gente chega no Caetano Veloso por causa da Gal. Muitas das nossas composiçõe­s foram criadas durante a chamada Faculdade Gal Costa. A Gal é como um estudo estético, filosófico e conceitual”, brinca Assucena Assucena.

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AMANDA PEROBELLI/ESTADÃO Mescla. Assucena, Raquel e Rafael veneram os clássicos, olhando para o novo
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Distribuiç­ão Pommelo; R$ 15
As Bahias e a Cozinha Mineira ‘Bixa’ Distribuiç­ão Pommelo; R$ 15

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