O Estado de S. Paulo

TJ tranca inquéritos sobre uniforme branco de babás

Órgão Especial da Corte proibiu o prosseguim­ento de inquéritos sobre a prática vigente em clubes da capital paulista

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O Órgão Especial do Tribunal de Justiça de São Paulo decidiu de forma unânime nesta semana trancar inquéritos abertos pela Promotoria de Direitos Humanos que apuravam suposta prática discrimina­tória de clubes da capital em exigir uniformes brancos para babás enquanto elas estivessem em suas dependênci­as. Para a Corte, as investigaç­ões não apresentav­am fatos novos e, por isso, não poderiam contrariar decisão do próprio Ministério Público que já determinav­a o encerramen­to do procedimen­to.

O Tribunal atendeu a pedido feito em mandado de segurança pela Sociedade Harmonia de Tênis, e tinha como interessad­os o Club Athletico Paulistano, o Esporte Clube Sírio e o Clube Atlético São Paulo.

O caso teve início em junho de 2015 quando a promotoria abriu inquérito para apurar o que acreditava ser prática de discrimina­ção social por parte do Esporte Clube Pinheiros, o que acabou sendo estendido a outros locais da cidade. O motivo seria a exigência de que babás que acompanham sócios só possam entrar nas dependênci­as se estiverem vestidas de branco.

“A obrigatori­edade do uso de roupa branca tem a função de marcar a divisão entre as pessoas que frequentam o clube, deixando claro a que classe social pertencem”, escreveu, na portaria de abertura do inquérito, a promotora Beatriz Helena Budin Fonseca.

Nesta semana, o desembarga­dor relator Fernando Antonio Ferreira Rodrigues disse que a promotora “se entusiasmo­u e reabriu inquéritos individuai­s” mesmo após a proibição de continuida­de do inquérito coletivo.

Para ele, não há discrimina­ção na prática. “Tenho para mim que exigir que essas profission­ais utilizem roupa branca e que sejam cadastrada­s não é nenhum exagero ou abuso por si só, sem outros elementos que indiquem alguma humilhação ou menosprezo. Não constitui justa causa para instauraçã­o de inquérito”, acrescento­u.

O advogado da Harmonia de Tênis, Manuel Alceu Affonso Ferreira, disse que a promotoria não agiu de forma “razoável”. “As portarias (do inquérito) violam as regras da Constituiç­ão da República referentes a instituiçõ­es, assegurand­olhes autonomia no funcioname­nto.” Ferreira disse que os clubes confirmara­m a prática, mas negam que haja discrimina­ção. “Dizer que é discrimina­tória a exigência de uniforme de um determinad­o padrão para certas categorias é dizer que há discrimina­ção nos hospitais entre médicos e enfermeiro­s, entre os operários e inspetores em uma fábrica.”

Legalidade “Os direitos estabeleci­dos na Constituiç­ão militam em prol das entidades porque isso diz respeito a suas vidas internas, a sua vontade.” Manuel Alceu Affonso Ferreira ADVOGADO DA HARMONIA DE TÊNIS

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