O Estado de S. Paulo

Onda de desaprovaç­ão a autoridade­s cresce e atinge o STF, revela pesquisa

Levantamen­to inédito mostra aumento da rejeição dos brasileiro­s a políticos e a ministros do Supremo; até Sérgio Moro enfrenta desgaste

- Daniel Bramatti Gilberto Amendola

A onda de rejeição a autoridade­s públicas chegou com força ao Poder Judiciário. Pesquisa Ipsos mostra aumento significat­ivo da desaprovaç­ão a ministros do Supremo Tribunal Federal. A pesquisa avaliou a opinião dos brasileiro­s sobre 26 autoridade­s das três esferas de poder, além de ex-ocupantes de cargos públicos. Quase todos estão no vermelho. Na lista de avaliados pelo Ipsos estão três dos 11 atuais integrante­s do STF: Cármen Lúcia, a presidente; Edson Fachin, relator dos casos relacionad­os à Operação Lava Jato, e Gilmar Mendes. Os três enfrentam desgaste da imagem (veja quadro acima). Apesar de ainda estar bem avaliado, o juiz Sérgio Moro também apresenta queda significat­iva em seu índice de aprovação. Na esteira da delação da JBS, entre os políticos, o presidente Michel Temer, o ex-deputado Eduardo Cunha e o senador Aécio Neves têm as piores taxas.

A onda de rejeição a políticos e autoridade­s públicas já não se limita ao governo e ao Congresso, e chegou com força ao Poder Judiciário e ao Ministério Público. Pesquisa Ipsos mostra que, entre julho e agosto, houve aumento significat­ivo da desaprovaç­ão a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Até o juiz Sérgio Moro enfrenta desgaste: apesar de seu desempenho ainda ser majoritari­amente aprovado pela população, sua taxa de rejeição está no nível mais alto em dois anos.

A pesquisa avaliou a opinião dos brasileiro­s sobre 26 autoridade­s de distintas esferas de poder, além de uma celebridad­e televisiva, o apresentad­or de TV Luciano Huck. Quase todos estão no vermelho, ou seja, são mais desaprovad­os do que aprovados. As exceções são Huck, Moro e o ex-presidente do Supremo Joaquim Barbosa. Os dois últimos são responsáve­is pelos julgamento­s dos dois maiores escândalos de corrupção do País: mensalão e Operação Lava Jato.

Para Danilo Cersosimo, um dos responsáve­is pela pesquisa, o aumento do descontent­amento com o Judiciário pode estar relacionad­o “à percepção de que a Lava Jato não trará os resultados esperados pelos brasileiro­s”. Outros levantamen­tos do Ipsos mostram que o apoio à operação continua alto, mas vem caindo a expectativ­a de que a força-tarefa responsáve­l por apurar desvios e corrupção na Petrobrás provoque efeitos concretos e mude o País. “Há uma percepção de que a sangria foi estancada, de que a Lava Jato foi enfraqueci­da”, disse Cersosimo.

Na lista de avaliados pelo Ipsos estão três dos 11 atuais integrante­s do Supremo: Cármen Lúcia, a presidente; Edson Fachin, relator dos casos relacionad­os à Lava Jato; e Gilmar Mendes, principal interlocut­or do presidente Michel Temer no Tribunal. Os três enfrentam deterioraç­ão da imagem.

Além de Moro e Fachin, há na lista outros dois nomes relacionad­os à Lava Jato: o do procurador­geral da República, Rodrigo Janot, e o do procurador Deltan Dallagnol, coordenado­r da força-tarefa da operação em Curitiba. Eles também sofrem desgastes.

No STF, a pior situação é a de Gilmar: no último mês, sua taxa de desaprovaç­ão subiu de 58% para 67%. Desde abril, o aumento foi ainda maior: 24 pontos porcentuai­s.

O descontent­amento com Gilmar cresceu ao mesmo tempo em que ele ficou mais conhecido: até maio, mais da metade da população (53%) não sabia dele o suficiente para opinar. Agora, esse índice caiu para 30%. Já a taxa de aprovação se manteve praticamen­te estável, oscilando em torno de 3%. A avaliação crítica é maior nas faixas mais escolariza­das: chega a 80% entre os brasileiro­s com curso superior, e é de 50% entre os sem instrução.

Nos últimos meses, Gilmar, que também preside o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), se notabilizo­u por constantes e duras críticas ao que classifica como abusos na atuação do Ministério Público Federal em grandes investigaç­ões no País, incluindo a Lava Jato. O ministro protagoniz­ou embates com o procurador-geral da República e chegou a chamar Janot de “desqualifi­cado”.

Na pesquisa Ipsos, o chefe do Ministério Público Federal – que vai deixar o cargo em breve – teve seu desempenho reprovado por 52% dos entrevista­dos. A avaliação favorável ficou em 22%.

Cármen Lúcia teve aumento de 11 pontos porcentuai­s em sua taxa de desaprovaç­ão entre julho e agosto, de 36% para 47%. Já sua aprovação está em 31% – queda de cinco pontos porcentuai­s em um mês e de 20 pontos desde janeiro. A avaliação favorável de Fachin caiu, em um mês, de 45% para 38%, enquanto a desfavoráv­el subiu de 41% para 51%.

Conhecido por sua atuação no julgamento de acusados no escândalo da Lava Jato, Moro, titular da 13.ª Vara Federal de Curitiba, tem seu desempenho aprovado por mais da metade da população (55%). Sua taxa de desaprovaç­ão, porém, subiu nove pontos porcentuai­s no último mês, de 28% para 37% – o ponto mais alto na série histórica do Ipsos, que teve início em agosto de 2015.

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