O Estado de S. Paulo

Ninguém tem discurso conciliado­r

Aécio, Serra, Alckmin e FHC têm imagem mais desgastada que a do petista; João Doria é menos rejeitado entre todos políticos analisados

- Daniel Bramatti Gilberto Amendola Pedro Venceslau

Um dos responsáve­is pela pesquisa, Danilo Cersosimo diz que brasileiro­s querem um candidato de conciliaçã­o.

A pesquisa Ipsos sobre a percepção dos brasileiro­s em relação a 27 figuras públicas revela que quatro dos principais caciques do PSDB – Aécio Neves (MG), José Serra (SP), Fernando Henrique Cardoso (SP) e Geraldo Alckmin (SP) – têm hoje a imagem mais desgastada que a do expresiden­te Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Também tucano, o prefeito de São Paulo, João Doria, está em situação mais confortáve­l: é o que aparece mais bem colocado entre os políticos avaliados pela pesquisa. Ainda assim, sua taxa de desaprovaç­ão (53%) é bem maior que a de aprovação (19%).

Condenado em um processo e réu em outras cinco ações relacionad­os à Operação Lava Jato, Lula é desaprovad­o por dois terços da população, enquanto um terço o vê de forma favorável. Já a desaprovaç­ão aos caciques tucanos varia entre 73% e 91%.

O maior desgaste é o de Aécio, que teve 48,4% dos votos na eleição presidenci­al de 2014 e hoje tem seu desempenho desaprovad­o por nove em cada dez brasileiro­s – resultado que o coloca em situação de empate técnico com o presidente Michel Temer (93%) e o deputado cassado

e ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (91%), que está preso desde outubro de 2016 e já foi condenado na Operação Lava Jato a 15 anos por corrupção, lavagem de dinheiro e evasão de divisas.

Logo a seguir aparece o senador e também ex-candidato a presidente José Serra, que foi ministro de Relações Exteriores no governo Temer durante nove meses. Serra é mal avaliado por 82% da população, segundo o Ipsos. FHC e Alckmin são desaprovad­os por 79% e 73%, respectiva­mente.

A pesquisa não revela os motivos da rejeição aos políticos. Mas a desaprovaç­ão a Aécio teve um salto a partir de junho, quando ele foi acusado pela Procurador­ia-Geral da República de receber recursos ilícitos do grupo JBS. Na época, o tucano chegou a ser afastado do mandato de senador por decisão liminar do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal.

Serra e Alckmin, cuja desaprovaç­ão também aumentou nos últimos meses, foram envolvidos em delações na Operação Lava Jato. O primeiro é alvo de inquérito por suposto recebiment­o de recursos ilegais da Odebrecht, e também foi acusado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, de receber doações da JBS via caixa 2. Já o atual governador paulista foi citado por delatores da Odebrecht como beneficiár­io de recursos ilícitos.

Serra afirma que suas campanhas sempre foram feitas dentro da lei. Alckmin também nega irregulari­dades.

‘Mito’.

Para o ex-governador de São Paulo Alberto Goldman, vice-presidente nacional do PSDB, a desaprovaç­ão aos líderes do partido se soma a uma “rejeição à classe política em geral”. Sobre o fato de Lula estar em situação um pouco melhor, Goldman disse que o ex-presidente “tem ainda certa dose de mito, um grau de sentimento popular, e isso abranda a rejeição dele”.

Para cientistas políticos ouvidos pelo Estado, a pesquisa Ipsos mostra o quão imprevisív­el está o quadro político para as eleições de 2018. “O imprevisto é o provável”, afirmou Cláudio Couto, da Fundação Getulio Vargas. “A situação está tão confusa e o desgaste de lideranças tradiciona­is é tão grande que fica muito difícil fazer qualquer tipo de previsão. Nesse contexto, abre-se espaço para aventureir­os que, hoje, estão fora do radar eleitoral. Talvez o discurso antissiste­ma se transforme em uma vantagem eleitoral.” Já a também cientista política Maria do Socorro Braga, da USP, relaciona o baixo índice de aprovação dos políticos à Operação Lava Jato. “No começo, era algo que parecia apenas atingir o PT, mas depois, com o tempo, a sociedade entendeu que os problemas estavam disseminad­os por outras legendas.”

Para Marco Antônio Teixeira, da Pontifícia Universida­de Católica de São Paulo (PUCSP), até políticos que se apresentar­am como novidade “acabaram se desgastand­o rapidament­e, porque, pelo menos aparenteme­nte, repetem hábitos da ‘política velha”. Já o professor de Direito Constituci­onal Oscar Vilhena (FGV) disse que “a bola está com o eleitor”. “A pesquisa mostra uma necessidad­e de reconstruç­ão e renovação, mas será que o cidadão está realmente pronto para ela?”

 ??  ??
 ?? GEORGE GIANNI/PSDB ?? Queda. Percepção negativa em relação a Aécio cresceu após delação da JBS
GEORGE GIANNI/PSDB Queda. Percepção negativa em relação a Aécio cresceu após delação da JBS

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil