O Estado de S. Paulo

Lava Jato afeta avaliação, afirmam especialis­tas

Julgamento de políticos, defesa de interesses próprios e relação com opinião pública influem em resultado de pesquisa

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A pesquisa Ipsos mostrou que o desgaste não é mais exclusivid­ade dos Poderes Executivo e Legislativ­o. Os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) também já são vistos com desconfian­ça por parte da população. Para a cientista política Maria do Socorro Braga, a avaliação negativa de nomes como Gilmar Mendes, Cármen Lúcia e Edson Fachin é resultado da Operação Lava Jato.

“Eles são avaliados por atitudes e decisões tomadas nesse âmbito ou envolvendo personagen­s que estão sendo julgados pela operação. A opinião pública está muito sensível a esses desdobrame­ntos”, disse. “Toda e qualquer impressão de impunidade recai sobre os ministros”, afirmou a cientista política e professora da Universida­de de São Paulo (USP).

A sensação da opinião pública, segundo a pesquisado­ra, é de que os ministros do Supremo atuariam de forma corporativ­ista, decidindo questões do próprio interesse, como o aumento de vencimento­s do Judiciário.

Comparação. O também cientista político Marco Antônio Teixeira, da Pontifícia Universida­de Católica de São Paulo (PUCSP), disse que os ministros mal avaliados também sofrem com uma possível comparação com o ex-presidente do STF Joaquim Barbosa e Sérgio Moro, juiz de primeira instância.

“Joaquim Barbosa e Sérgio Moro encarnaram de alguma forma um certo ativismo político que agradou à opinião pública”, afirmou. “A sociedade deseja um Supremo que se oponha à classe política, mas Cármen Lúcia e Fachin têm posicionam­entos mais moderados. Já Gilmar Mendes demonstra outro lado, aquele em que o Supremo está muito próximo de alguns grupos políticos”, disse Teixeira.

Cláudio Couto, da Fundação Getulio Vargas (FGV), afirmou que a “boa avaliação alcançada pelo STF no passado estava mais relacionad­a à espetacula­rização dos julgamento­s transmitid­os pela televisão do que por qualquer atração autêntica pelas figuras”. “Nesse ambiente do espetáculo, é natural que juízes como Joaquim Barbosa e Sérgio Moro apareçam travestido­s de ‘juízes justiceiro­s’.”

Já para o professor de Direito Constituci­onal Oscar Vilhena, também da FGV, é preciso cautela ao avaliar a performanc­e de ministros e juízes na pesquisa. “A qualidade de um juiz não pode ser mensurada pela popularida­de nem pela impopulari­dade. Às vezes, aplicar a lei é impopular. Não se pode avaliá-los pela mesma régua da política.”

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