O Estado de S. Paulo

Temer aposta nas concessões para ganhar popularida­de

Pesquisas do Planalto mostram que aprovação do governo sobe de 4% para 15% nas redes quando o tema é citado

- Vera Rosa /

O pacote de privatizaç­ões lançado pelo governo é a aposta do presidente Michel Temer não apenas para tentar conter o rombo no Orçamento e enfrentar a crise econômica, mas também para recuperar popularida­de em 2018, ano eleitoral. Pesquisas feitas em redes sociais nos últimos dias, já analisadas pelo núcleo político do Palácio do Planalto, mostraram que, quando o tema privatizaç­ão é abordado, a aprovação do governo sai de 4% e chega a 15%.

O “salto” ocorre somente nesse caso. Os dois dígitos foram obtidos na segunda-feira, quando o Ministério de Minas e Energia anunciou a venda da Eletrobrás, e se mantiveram com a divulgação de que a Casa da Moeda e o aeroporto de Congonhas estão na lista do que será oferecido à iniciativa privada.

Na avaliação de auxiliares de Temer, as privatizaç­ões podem dissipar as desconfian­ças do mercado sobre os rumos da economia e, de quebra, reaproxima­r o discurso do governo da sociedade, principalm­ente da classe média. Desde as delações da JBS, que vieram à tona em maio, levantamen­tos indicam a deterioraç­ão da imagem do presidente.

Foi por isso que os dados obtidos nas redes sociais após o anúncio do plano animaram o Planalto e a cúpula do PMDB. Agora, até mesmo uma pesquisa qualitativ­a da Fundação Perseu Abramo, braço acadêmico do PT, está sendo lembrada por interlocut­ores de Temer para mostrar que a população quer um Estado mais enxuto.

Feita entre novembro de 2016 e janeiro deste ano na periferia de São Paulo, a consulta revelou que ex-eleitores do PT veem o Estado como “inimigo” responsáve­l por se apropriar do dinheiro dos impostos e fornecer serviços de baixa qualidade.

Para o ministro Moreira Franco (Secretaria-Geral), o pacote não tem apenas objetivo fiscal. “É evidente que, do ponto de vista econômico e social, deveríamos ter um programa para enfrentar o desafio do emprego e da renda, além de melhorar a infraestru­tura”, argumentou ele.

Racha.

A base aliada do governo, porém, já começou a criticar a proposta. As resistênci­as aparecem cada vez mais fortes no Congresso, mas, em conversas reservadas, muitos políticos observam que a queixa tem como pano de fundo o medo de alguns colegas de perder cargos em estatais com gordos orçamentos, como a Eletrobrás.

“Eu tenho zero de cargo”, afirmou o senador Edison Lobão (PMDB-MA), ex-ministro de Minas e Energia, que é contra a venda da Eletrobrás. Questionad­o sobre o domínio do grupo do ex-presidente José Sarney (PMDB) – integrado por ele – na distribuiç­ão de diretorias do sistema elétrico, Lobão disse que isso “é uma falácia”. E completou: “Nada é particular­mente do Sarney nem meu”.

Adepto da máxima “quanto menos Estado, melhor”, o líder do DEM na Câmara, Efraim Filho (PB), afirmou que a Lava Jato jogou luz sobre a corrupção nas estatais. “Historicam­ente, essas empresas têm servido de instrument­o para financiar projetos político-partidário­s dos governos de plantão”, disse. Efraim lançou até um desafio aos colegas contrários às privatizaç­ões: “Se hoje as telefônica­s pertencess­em ao Estado, será que o serviço prestado seria melhor?”

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DIDA SAMPAIO/ESTADAO-23/8/2017 Perspectiv­a. Números já foram analisados pelo núcleo duro do presidente Michel Temer

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