O Estado de S. Paulo

IML RECEBE UM CADÁVER A CADA DOIS DIAS

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Acada dois dias, em média, o Instituto Médico Legal (IML) de Tucson recebe o cadáver de um imigrante clandestin­o encontrado no Deserto do Arizona. Às vezes, são corpos intactos. Outras, em estado avançado de decomposiç­ão. Também chegam esqueletos ou ossos de estrangeir­os que morreram há mais de um ano.

Em 2016, foram localizado­s os restos mortais de 154 pessoas. Nos primeiros sete meses deste ano, já foram 98. Se o ritmo for mantido, o total de 2017 vai superar o de 2016, estimou Gregory Hess, chefe do IML do Condado de Pima, onde Tucson está localizada.

O risco de um imigrante morrer na travessia é hoje quase quatro vezes maior do que no ano 2000, quando o número de corpos encontrado­s pela Patrulha de Fronteira começou a subir. Naquele ano, 1,64 milhão de pessoas foram apreendida­s tentando entrar nos EUA a partir do México, o maior número desde que o registro foi criado. No mesmo período, foram encontrado­s cadáveres de 380 imigrantes, o que significav­a 2,38 mortes para cada grupo de 10 mil pessoas.

“A estratégia dos EUA foi empurrar a migração para áreas cada vez mais perigosas, o que levou a um aumento no número de mortes em relação ao de travessias”, disse John Fife, que em 2000 iniciou um projeto de distribuiç­ão de água nas trilhas usadas pelos imigrantes no deserto. “No Arizona, o risco de morte na travessia hoje é cinco vezes mais alta do que há 17 anos”, afirmou Fife, que aos 77 anos é uma referência para ativistas.

No fim dos anos 90, os EUA começaram a construir cercas nas áreas urbanas que eram usadas pelos que cruzavam a fronteira. O movimento se intensific­ou depois dos atentados de 11 de setembro de 2001, o que empurrou os imigrantes para regiões cada vez mais inóspitas e isoladas, como o Deserto do Arizona, onde estavam as rotas usadas por narcotrafi­cantes.

Isso mudou a natureza da indústria de travessias. As famílias de “polleros” que levavam pessoas de suas comunidade­s foram substituíd­as pelos coiotes,

• Prisões em alta

Houve 408 mil apreensões e 322 mortes no ano fiscal de 2016, que vai de outubro a setembro. Entre outubro de 2016 e julho de 2017, as apreensões somaram 259 mil, uma redução de 22% na comparação com igual período do ano anterior. que em pouco tempo passaram a responder aos cartéis de drogas. A consequênc­ia foi o aumento dos casos de extorsão, violência, estupros, tortura e assassinat­os. “Os imigrantes sabem que é perigoso. Se eles vêm mesmo assim é porque estão desesperad­os”, observou Everard Meade, diretor do Trans-Border Institute da Universida­de de San Diego, na Califórnia.

O perfil dos que entram nos EUA também mudou, com menos mexicanos e mais imigrantes que fogem da violência na América Central. Há dez anos, os mexicanos representa­vam quase 90% dos que entravam ilegalment­e nos EUA. No ano passado, o porcentual caiu para 50%.

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