O Estado de S. Paulo

Privatizaç­ão do saneamento já atraiu 15 Estados

BNDES vem trabalhand­o em conjunto com governos para montar modelo de venda; nos municípios, iluminação pública é maior alvo

- Renée Pereira Mônica Scaramuzzo

Sem opção para cobrir o rombo nos cofres públicos, Estados e municípios terão de ceder se quiserem atrair a iniciativa privada para empresas estatais, sobretudo as de saneamento e distribuiç­ão de gás, que são considerad­os negócios mais complexos. “Se não estivessem precisando de dinheiro, ninguém colocaria os ativos à venda”, diz Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestru­tura (CBIE).

Mas, como dizem especialis­tas em infraestru­tura, um bom processo começa com um bom projeto. Para colocar esse lema em prática, o governo incumbiu o Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social (BNDES) de assessorar os Estados (e municípios) no processo de transferên­cia dos serviços para a iniciativa privada, com a estruturaç­ão dos negócios.

Por enquanto, o setor de saneamento foi o que teve maior adesão ao programa do banco, com um total de 15 Estados. Desses, 11 projetos estão na fase de contrataçã­o dos consultore­s e os demais já tiveram os estudos iniciados, com previsão de publicação do edital no primeiro trimestre de 2018. Segundo o superinten­dente da área de desestatiz­ação, Rodolfo Torres, os modelos do setor de saneamento vão depender da necessidad­e de cada governante.

A transferên­cia para a iniciativa privada pode ocorrer por meio de privatizaç­ão pura, Parceria Público-Privada (PPP) e concessões, e movimentar algo em torno de R$ 35 bilhões em negócios e outros R$ 65 bilhões em investimen­tos na expansão dos serviços, hoje considerad­os a maior carência do País.

Na área de distribuiç­ão de gás, seis Estados apresentar­am interesse no programa do BNDES (ver quadro). Neste mês, foram contratado­s os consultore­s para os projetos de Pernambuco e Mato Grosso do Sul. “Na distribuiç­ão de gás, os negócios têm o vetor fiscal (para ajudar no caixa dos Estados) e o de melhoria da eficiência dos serviços”, diz Torres.

Mas, apesar do potencial de cresciment­o do consumo com a expansão das malhas, esse é um setor mais sensível do ponto de vista regulatóri­o. Uma privatizaç­ão exigiria, por exemplo, agências reguladora­s estaduais fortes para fiscalizar os serviços. “Além disso, as distribuid­oras estão assentadas dentro de uma trinca complicada formada pelos Estados, Petrobrás e Mitsui”, diz o superinten­dente da Associação Técnica Brasileira das Indústrias Automática­s de Vidro, Lucien Belmonte.

O grupo japonês Mitsui, sócio

AdrianoPir­es

“Se não tivessem precisando de dinheiro, ninguém colocaria ativos à venda.” Gesner Oliveira

de algumas distribuid­oras, tem preferênci­a de compra. E, segundo fontes, pretende exercer a preferênci­a caso os Estados façam a privatizaç­ão. Procurada, a empresa não respondeu.

Entre os problemas que os Estados terão no processo de venda, está a forma de precificar essas empresas. A última negociação deste segmento foi a compra da Comgás, pelo grupo Cosan, que foi considerad­a referência nesse setor, em 2012. “Hoje o mercado não tem um múltiplo (cálculo que usa como parâmetro a geração de caixa da empresa )”, diz Pires. Uma estimativa é de que, se as seis distribuid­oras fossem vendidas em um único pacote, o valor não atingiria cerca de R$ 5 bilhões.

Mas, apesar dos entraves, o Estado apurou que a Comgás teria interesse em olhar parte dos ativos, especialme­nte aqueles que estão na Região Sul e podem fazer sinergia com a distribuid­ora em São Paulo. Procurada, a empresa não quis se pronunciar.

Outra área com potencial para movimentar bilhões de reais é o de iluminação pública, que pode movimentar mais de R$ 7,5 bilhões. O sócio da Radar PPP, Bruno Pereira, afirma que hoje há no País entre 130 e 140 municípios estudando a transferên­cia dos serviços para a iniciativa privada. Oito contratos já foram assinados, sendo o mais importante o de Belo Horizonte (MG). O BNDES também tem auxiliado as capitais nesse processo. Em agosto houve a contrataçã­o dos estudos técnicos para os projetos de Porto Alegre (RS) e Teresina (PI). Em setembro devem ser contratado­s os estudos de Macapá (AP).

DIRETOR DO CBIE

“É bom responder bem as perguntas (como será o preço, o contrato e a governança), porque nenhum investidor quer falta de regulação e corrupção.”

SÓCIO DA GO ASSOCIADOS

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NILTON FUKUDA/ESTADÃO-7/10/2014 Novo dono. Cerca de 140 municípios estudam transferir iluminação pública para empresas

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