O Estado de S. Paulo

Papel principal estava reservado para Wagner Moura

Com desistênci­a de ator, Vladimir Brichta se entregou ao personagem: ‘ele deu um salto sem rede’, elogia diretor

- Luiz Carlos Merten

Montador premiado – de Cidade

de Deus e Tropa de Elite –, Daniel Rezende faz sua estreia na direção de longa com Bingo – O Rei

das Manhãs, que estreou na quinta, 24. Rezende começou o filme com um ator, Wagner Moura. Devido a compromiss­os de suas agenda internacio­nal – com Narcos –, Wagner teve de sair fora, mas indicou seu amigo Vladimir Brichta. “De uma hora para outra, fiquei sem ator e aí me encontrei com o Vladimir. Olhei nos olhos dele, e vi tamanha ansiedade, tamanha vontade que relaxei. Tinha o meu Augusto.”

O nome é importante. Augusto é o tipo de palhaço mais conhecido no Brasil. É extravagan­te, pícaro, mentiroso, provocador. Representa o mundo infantil. Anarquia e liberdade. Por uma questão de direito autoral, a cinebiogra­fias de Bozo trocou de nome. Virou Bingo. Mais que isso – Arlindo Barreto era Bingo. Virou Augusto. “Queria descolar o meu personagem dele. O Arlindo fez sua viagem na realidade. Foi fundo nas drogas e no sexo. Salvou-o a religião. Virou evangélico. Com todo o respeito, não era o que me interessav­a. O que pode salvar Augusto no meu filme é o seu desejo, a sua necessidad­e de um palco. Não importa que palco é esse – teatro, filme pornô, palco de TV, púlpito de um templo evangélico. Ele necessita dessa luz.”

O diretor só tem elogios para seu ator. “Vladimir foi de uma entrega absoluta. Deu um salto sem rede.” E o próprio Vladimir – ele ri quando o repórter diz que Augusto talvez seja sua Carminha, o papel que, na TV, em Avenida Brasil, consagrou sua mulher, a atriz Adriana Esteves. “Não sei se vai ser Carminha, porque isso depende dos outros, do olhar do público. Mas, para mim está sendo, sim, um divisor de águas.” Rezende destaca a contribuiç­ão da foto, da direção de arte, da montagem. “Estudei muito a pornochanc­hada e nossa cultura brega dos anos 1980. Queria que o filme fosse atemporal, e a arte tem coisas até dos 1960. Mas esse mergulho nos 1980/90 é muito forte. Está no meu imaginário como no do público. Espero que as pessoas o reencontre­m como uma releitura crítica.”

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