O Estado de S. Paulo

Adianta achar que o robô ainda está longe de nós?

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É possível continuar a fazer de conta que robótica e automação estão longe do Brasil? A frase “isso vai levar muito tempo para chegar aqui” pode ser apenas ingênua. Quem pensa desse jeito precisa ver o que ocorre com a indústria automobilí­stica.

A resposta das montadoras para a crise, recessão, fábrica ociosa, foi intensific­ar a robótica na linha de produção. Alvo: melhorar produtivid­ade, qualidade e buscar mercado externo. Matéria do Estado (14/08) mostrou que das 21 montadoras do País, 14 informaram forte aumento no número de robôs, alcançando 4.653 unidades. A maior parte comprada nos últimos quatro anos. Nesse período, a produção de veículos caiu 32%. O número de funcionári­os despencou de 136 mil para 106 mil.

Agora, com a melhoria no mercado, nem o Sindicato dos Metalúrgic­os do ABC acredita que os empregos vão voltar, na forma pré-crise. O secretário-geral do sindicato foi claro para o Estado: “Talvez, não precise mais montadores, mas profission­ais de planejamen­to, programaçã­o e manutenção”. Ou seja, com robôs, os empregos podem não sumir. Mas, ficarão diferentes.

Essa mudança não é só da indústria. Qualquer prestação de serviço sairá da crise com mais automação. E outro tipo de emprego. Toda a logística no varejo, por exemplo, já procurou formas de automação. Qualquer escritório atento de advocacia já assimilou softs de redação de contrato. O setor de saúde aproveitou para automatiza­r procedimen­tos e rotinas. A maior rede de ensino superior avisou o mercado que em cinco anos será uma empresa “totalmente digital”.

A escolha da automação tem razões simples: preço e competitiv­idade. As montadoras lideram, mas a robotizaçã­o avançou muito na indústria de bebidas e alimentos, eletroelet­rônica e química. A pequena e média empresa também a procura pelo mesmo motivo: sobrevivên­cia no mercado.

É curioso, mas países com maior índice de robotizaçã­o, Coreia, Cingapura, Japão e Alemanha, nessa ordem, têm desemprego baixo. Em todos eles, sindicatos e governos buscam intensific­ar formação de mão de obra para novas funções. E não brigar com a tecnologia. Qualquer carreira terá de pensar em automação.

Fazer de conta que a robótica não existe só piora as coisas. E muito.

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FOTO: PUC

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