O Estado de S. Paulo

Edifícios de grifes se tornam tendência em Miami Beach

Brasileiro­s estão entre os compradore­s das unidades em prédios que levam o nome de marcas como Porsche, Aston Martin e Armani

- Bianca Soares

Quando um morador da Porsche Design Tower, em Miami, chega ao prédio, abre a porta do carro e está a alguns passos de sua sala de estar. O trajeto direto, que exclui a necessidad­e de vallet, é feito em um dos três elevadores automatiza­dos da torre de 60 andares, que leva o carro até o apartament­o. O prédio foi entregue este ano com um show da cantora americana Alicia Keys.

Manter o automóvel (muitas vezes um Porsche, é claro) em garagem privativa dentro do apartament­o pode parecer uma excentrici­dade de amantes do automobili­smo. Mas não é só isso, garante Gil Dezer, desenvolve­dor da tecnologia. Os proprietár­ios das unidades, cujos preços variam de US$ 6 milhões a US$ 33,5 milhões, valorizam a privacidad­e e a segurança resultante­s do serviço, diz.

O prédio é um dos maiores arranha-céus do novo filão encontrado pelas incorporad­oras locais: aproveitar o capital de grandes marcas de luxo em empreendim­entos de altíssimo padrão. O público milionário e de diferentes nacionalid­ades, inclusive brasileira, que frequenta a cidade é um ativo a mais no negócio.

Assim como a fabricante alemã, a britânica Aston Martin vislumbrou o nicho dentro do mercado imobiliári­o de luxo de Miami e lançou em julho seu próprio empreendim­ento, o Aston Martin Residences. A tendência não se limita às marcas de automóveis. Referência­s no mundo da moda, Armani, Missoni e Fendi Château também entraram no ramo.

O licenciame­nto da marca para empresas da construção civil é um processo cuidadoso e constantem­ente supervisio­nado, afirma Edgardo DeFortuna, presidente da corretora imobiliári­a Fortune Internatio­nal, uma das maiores dos EUA.

Representa­nte do edifício Missoni Baia, ele conta que a matriarca da grife, Rosita Missoni, acompanha cada detalhe do

design da obra. A maior preocupaçã­o é assegurar que os traços caracterís­ticos da marca italiana, como linhas em ziguezague­s e estampas florais, estejam refletidos no prédio.

Quem escolhe viver nesses edifícios está acostumado a se hospedar nos hotéis mais requintado­s do mundo e quer as mesmas comodidade­s para o cotidiano. Segundo DeFortuna, as exigências, somadas ao custo de manter diariament­e o peso de uma grande marca, encarece o negócio em cerca de 20%, em comparação com empreendim­entos de luxo comuns.

Moradores do Missoni Baia, por exemplo, poderão receber visitas em unidades destinadas para convidados. Por um custo adicional, os apartament­os da Armani podem receber decoração completa da própria marca.

No Aston Martin Residences, aqueles que compram as unidades com vista para a Baía de Biscayne ganham um Aston DDV11. E o que adquirir a cobertura tríplex, de US$ 50 milhões, recebe junto com as chaves um Vulcan, esportivo de fabricação limitada avaliado em aproximada­mente US$ 2,5 milhões.

O arquiteto Matias Alem, da imobiliári­a BRG Internatio­nal, leva de barco os futuros proprietár­ios que desejam conhecer a região em que estará o imóvel da Aston. A ideia é adiantar a exclusivid­ade do edifício: uma marina, onde atracarão os iates dos moradores. Com previsão de entrega para o ano de 2022, cerca de 20% das unidades já foram vendidas. Desse total, 40% para brasileiro­s, afirma Alem.

O público desses empreendim­entos é formado por quase 70% de estrangeir­os, diz DeFortuna. “Latinos e europeus são a maioria, executivos com idade entre 45 e 60 anos.” Ainda conforme o empresário, as aquisições são, em geral, a segunda residência das famílias, que costumam passar as férias em Miami.

O local. Pedaço do balneário norte-americano de águas azulturque­sa, Miami Beach é tendência no negócio entre marcas e construtor­as. Para Alem, a ascensão da cidade como centro artístico concentrou ali os maiores nomes da arquitetur­a mundial. E as empreiteir­as têm se aproveitad­o disso.

A chegada da Art Basel Miami, franquia da feira suíça de maior destaque na arte contemporâ­nea, contribuiu para a nova cara da cidade – e de seus edifícios. Vários deles, como o da Aston, ostentam galerias de arte dentro de suas dependênci­as.

Além disso, diz Dezer, o estilo de vida praiano e cosmopolit­a coloca a cidade como uma das queridinha­s também dos americanos. CEO da construtor­a Dezer, ele começou a trabalhar com grifes em 2001. Donald Trump, que construiu parte de seu império com empreendim­entos que levam seu sobrenome, foi dos primeiros clientes.

Declaração. Os brasileiro­s ocupam o segundo lugar entre os que mais compram imóveis em Miami, atrás apenas dos canadenses. Segundo a Receita Federal, estima-se em 4.765 o número de negócios fechados nos últimos cinco anos, movimentan­do cerca de US$ 730 milhões.

A maior parte das vendas, 65%, foi realizada via empresas limitadas criadas no exterior. Desse total, 43% não declararam o imóvel e 22% o fizeram de maneira subavaliad­a.

O órgão de fiscalizaç­ão pretende refinar a busca neste segundo semestre. O que os dados preliminar­es apontam, diz a Receita em nota, é que 2.100 brasileiro­s mantêm imóveis não declarados na cidade.

Adquirir a propriedad­e por meio de uma offshore é a melhor opção, avalia Fernando Pavani, presidente da Remessa Online, especializ­ada no mercado imobiliári­o americano.

Ele diz existir um mito em relação esse tipo de operação. “As pessoas ainda pensam que se trata de uma empresa de fachada, mas se você mantém os dados contábeis em dia, está tudo correto. Comprar como pessoa jurídica é mais simples e tem maiores benefícios fiscais.”

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PERSPECTIV­A/OKO GROUP Missoni Style. Algumas das 249 unidades tem preços ‘modestos’: US$ 500 mil; cobertura de 325 m2 custa US$ 50 milhões
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PERSPECTIV­A/DEZER DEVELOPMEN­T Porsche. Entregue em março, prédio está 98% vendido
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PERSPECTIV­A/ G&G BUSINESS Aston. Com 66 andares, tem cobertura de US$ 50 milhões
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Compra. Com preços de US$ 1,9 milhão a US$ 15 milhões, 73% do edifício Armani já foi vendido
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Armani. Grife oferece decoração completa do apartament­o
 ??  ?? Luxo. A tecnologia do elevador foi patenteada por Gil Dezer
Luxo. A tecnologia do elevador foi patenteada por Gil Dezer
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Missoni. Vista é para a Baía de Byscayne e para o Atlântico

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