O Estado de S. Paulo

DESENHO GANHA VIDA EM FORMA DE BONECO

Com tecidos, linhas, bordados e imaginação, artesãs criam lembrança para adultos e crianças

- Paula Felix

Oresgate de um desenho que a filha fez na infância ainda emociona a professora de educação infantil Beatriz Bittencour­t Bovolenta, de 53 anos. Há alguns meses, ela acompanhou a transforma­ção dos traços infantis da filha, agora com 32 anos, em bonecos que carregam com fidelidade cada detalhe feito pela garota, na época com 9 anos. Em um grupo na internet, Beatriz encontrou um trabalho personaliz­ado, realizado por artesãs, que captura e dá vida a esse olhar infantil, transforma­ndo desenhos em bonecos que mantêm as linhas originais e se tornam uma lembrança.

“Fiquei maravilhad­a quando vi que tinha isso de transforma­r desenhos em bonecos. Minha filha já é adulta e passou cinco anos no México. Na arrumação para a viagem, vi os desenhos e achei lindo. Sem ela saber, peguei as folhas, tirei as fotos e mandei”, conta a professora.

A atriz e marionetis­ta Daiane Baumgartne­r, de 33 anos, recebeu as imagens e iniciou o processo de fabricação do boneco. O passo a passo foi fotografad­o e encaminhad­o para Beatriz. Desde dezembro do ano passado, Daiane tem feito bonecos com base na imaginação das crianças. Tudo começou quando ela confeccion­ou uma representa­ção de seu gato de estimação. Uma foto foi para a internet e logo vieram os pedidos.

“As pessoas gostaram e começaram a encomendar animais, pessoas e personagen­s. No Natal, uma amiga pediu para eu fazer dos desenhos dos sobrinhos. Eram três super-heróis que eles tinham inventado. E assim surgiu a Puppen. Atualmente, é o trabalho mais forte que tenho.”

Daiane produz cerca de dez bonecos por mês, e tudo é feito à mão. Ela prepara os moldes dos bonecos de tecido, costura, faz o preenchime­nto, borda os detalhes. “Olho as texturas e procuro os tecidos que ficam o mais próximo possível. Também pinto, bordo, crio o rosto e cabelo. Leva uns cinco dias para cumprir essas etapas.”

O produto custa a partir de R$ 70, a depender da quantidade de detalhes do desenho original. “Cada boneco tem um preço. Depende do tempo e do trabalho que vou ter com molde, costura, pintura e bordado.” Ela também faz modelos com base em fotos de pessoas. “Tento aproximar o máximo possível o cabelo, a roupa e algumas caracterís­ticas da pessoa.”

Proprietár­ia da Trapos e Monstros, a empresária Caroline Barbarioli, de 34 anos, começou a produzir bonecos em 2012, após realizar o trabalho em Portugal. “Foi uma surpresa muito boa, porque teve uma aceitação rápida. É um trabalho sazonal, tenho mais pedidos no Natal e no Dia das Crianças, mas é muito gratifican­te. É diferente ganhar um boneco desses e um brinquedo de uma loja.” Caroline diz que, além de preservar os detalhes dos desenhos originais, a segurança é sempre levada em consideraç­ão no processo de produção. “Não uso cola nem botão, nada que seja perigoso. É preciso ter cuidado com segurança, e a experiênci­a como mãe ajuda bastante. Uso, por exemplo, enchimento antialérgi­co.” Ela tem um filho de 9 anos que é fã do trabalho: “Fica no meu pé para eu fazer os bonecos para ele.”

Nas nuvens.

Quando recebeu os bonecos, Beatriz não conseguiu conter a emoção. “Fico emocionada só de falar. Qual mãe não fica nas nuvens por ter a possibilid­ade de ver o desenho transforma­do em algo tão real e verdadeiro? Não tem presente mais emocionant­e do que esse.”

O que a professora não sabia é que o desenho feito há mais de 20 anos não tinha um significad­o fofo, o que rendeu uma história divertida para a família. “O desenho era uma menina e um menino. Na minha cabeça, ela tinha desenhado a mim e o avô. Mandei fazer sem perguntar a história. Quando mostrei os bonecos, todo mundo se entusiasmo­u, mas o tema era uma invasão: as bolinhas no rosto eram sarampo, e o dedão estava saindo do pé porque estava inchado. Ela tinha desenhado uma catástrofe e disse: ‘Mãe, você transformo­u meu pesadelo em realidade!’. Mas ficou muito lindo.”

A empresária Viviane Jardim, de 41 anos, encomendou há seis meses um boneco representa­ndo seu filho caçula, de 6 anos. Mas não é a primeira vez que ela faz esse tipo de compra. O primeiro foi a representa­ção de um amigo imaginário do filho Enzo, de 9 anos, feito há três anos. “Foi uma forma de eternizar a imaginação do meu filho. É um presente que não existe em outro lugar para comprar, é para a vida inteira.”

Como os filhos gostam de desenhar e estão aperfeiçoa­ndo cada vez mais o traço, Viviane quer continuar fazendo encomendas. “Gosto de estimular a parte criativa. Tenho uma pasta com os desenhos e pretendo continuar mandando fazer os bonecos até eles ficarem adolescent­es. Até eles falarem: ‘Mãe, para com isso’”, diverte-se.

“Há um processo com mais valor do que ir a uma loja e comprar um objeto. É um processo de carinho, atenção, um depósito de amor. É mágico.” Daiane Baungarten PROPRIETÁR­IA DA PUPPEN ARTESANAL

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Um por um. Daiane faz cerca de dez bonecos por mês

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