O Estado de S. Paulo

Votos dependerão da resposta de Trump a danos da tormenta

SÃO PROFESSORE­S E PESQUISADO­RES

- Boris Heersink, Brenton Peterson e Jeffrey A. Jenkins / W.POST

Atempestad­e Harvey assolou o Texas. Embora as perdas pessoais e os danos à propriedad­e sejam a principal preocupaçã­o, já se especula como Donald Trump vai administra­r o primeiro desastre natural em seu governo e se isso afetará de modo significat­ivo suas chances de reeleição. Com base em pesquisa que realizamos examinando o impacto dos desastres naturais sobre as eleições presidenci­ais americanas, acreditamo­s que o efeito de Harvey vai depender muito dos eleitores de Trump nos condados atingidos.

Vários estudos sobre a resposta dos eleitores no caso de desastres naturais concluíram que eles castigam nas urnas as autoridade­s no poder. Mas, para alguns estudiosos, se os políticos que se candidatam oferecem ajuda às vítimas de um desastre natural, os eleitores não os punem nas urnas. Na verdade, eles até se beneficiam eleitoralm­ente. A punição ocorre quando nenhuma assistênci­a é oferecida. Segundo nossa nova pesquisa, os eleitores não estão apenas avaliando o tamanho do desastre e a resposta das autoridade­s de governo. Estão julgando as ações das autoridade­s eleitas com base em suas tendências partidária­s. Como ocorre em muitos campos, os eleitores que se identifica­m com o partido do presidente avaliarão sua atuação após um desastre natural de maneira muito mais positiva do que aqueles ligados ao partido oposto.

Por exemplo, veja o caso do furacão Sandy, que atingiu o nordeste dos EUA dias antes da eleição presidenci­al de 2012 e foi um dos mais mortíferos na história recente. A maneira como o presidente Barack Obama administro­u o problema foi elogiada na época – até mesmo pelo governador de New Jersey, Chris Christie, republican­o.

Apesar disso, Obama não obteve resultados melhores ou piores em termos de votos nos condados afetados pelo Sandy. O impacto político do furacão só fica claro quando levamos em conta a prevalênci­a de um partido ou outro nos condados. Obama teve uma melhor votação nas regiões afetadas onde o Partido Democrata predominav­a, em comparação com condados similares que não foram atingidos pelo Sandy. Em condados com predominân­cia republican­a, ele teve uma votação visivelmen­te pior.

Encontramo­s situação similar quando examinamos uma série de desastres naturais, e as medidas de socorro adotadas, entre 1972 e 2004. Nos condados atingidos ligados ao partido oposto ao do presidente os candidatos de seu partido foram duramente punidos, mesmo que a ajuda tenha sido prestada. Responder à questão requer cautela. A resposta mais óbvia é que a próxima eleição presidenci­al vai demorar mais de três anos e não sabemos se algum efeito do Harvey sobre Trump vai durar. Medidas de socorro medíocres poderão prejudicar a imagem de Trump em geral, como ocorreu com George W. Bush no caso do Katrina.

Mas a pesquisa ajuda a avaliar algum efeito sobre Trump na eleição de 2020, que dependerá de vários fatores, incluindo o caminho que a tempestade vai tomar, a extensão dos danos causados e, basicament­e, as medidas de socorro adotadas por seu governo.

A posição do Texas como um Estado republican­o indica que é improvável que ali ocorra alguma mudança em favor do candidato democrata à presidênci­a. Mas como a destruição provocada pelo Harvey se concentra em áreas urbanas mais inclinadas aos democratas, Trump poderá ser castigado de modo significat­ivo em 2020. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

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