O Estado de S. Paulo

Nas mãos de Fachin

Acordo de operador retorna à Corte depois de correções feitas pela Procurador­ia a pedido do ministro Edson Fachin

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Após ajustes na Procurador­ia, a delação de Lúcio Funaro voltou para o ministro do STF Edson Fachin (à esq., com Luís Roberto Barroso), ontem. O procurador-geral, Rodrigo Janot, deve usar o material na nova denúncia contra Temer. Também foram entregues anexos da delação dos executivos do grupo J&F.

O acordo de delação premiada do operador Lúcio Funaro voltou ao Supremo Tribunal Federal na tarde de ontem após passar por um ajuste na Procurador­ia-Geral da República, com quem o investigad­o firmou a colaboraçã­o.

Anteontem, um dia depois receber a delação para análise, o ministro Edson Fachin, do Supremo, devolveu o acordo à Procurador­ia apontando a necessidad­e de alteração em uma das cláusulas da colaboraçã­o firmada com o operador financeiro que evitava que Funaro fosse processado em casos de improbidad­e administra­tiva.

O retorno dos autos após a ida à Procurador­ia-Geral da República está registrado no andamento processual disponível no site do Supremo.

Sobre o fato de Fachin ter pedido ajustes, a Procurador­ia e o gabinete não comentaram o assunto, já que a colaboraçã­o é mantida em sigilo. A interlocut­ores, no entanto, o ministro lembrou que esse procedimen­to já foi adotado pelo seu antecessor na relatoria da Operação Lava Jato na Corte, o ministro Teori Zavascki, morto em janeiro deste ano em acidente aéreo.

Teori chegou a pedir ajustes nos acordos de delação do expresiden­te da Transpetro, subsidiári­a da Petrobrás, Sérgio Machado; do senador cassado Delcídio Amaral (sem partidoMS); e do ex-deputado Pedro Corrêa (PP-PE). Em todos os casos, a colaboraçã­o foi homologada após os acertos.

Agora que o material já voltou ao gabinete de Fachin, o ministro vai convocar Funaro – aliado e apontado como operador de propina do ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ) – para confirmar que o acordo foi firmado de forma espontânea. Só depois disso estará pronto para a homologaçã­o.

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pretende usar informaçõe­s prestadas por Funaro na nova denúncia que prepara contra o presidente Michel Temer. Para isso, a delação precisa estar homologada pelo ministro do Supremo. Nas contas feitas por investigad­ores, Fachin deve validar o acordo até o início da semana que vem, possibilit­ando que a denúncia seja oferecida na sequência.

O presidente da República já foi denunciado por Janot pelo crime de corrupção passiva. A acusação, no entanto, foi barrada na Câmara dos Deputados em votação no início de agosto.

‘Equívoco’. Ontem, durante viagem à China, Temer afirmou que tomou conhecimen­to pelo noticiário da decisão de Fachin de devolver o acordo de Funaro à Procurador­ia-Geral da República. “Deve haver algum equívoco na delação. Certamente, mandou esclarecer. Eu suponho até que o procurador vai esclarecer e vai devolver (ao STF). Essa coisa está no Judiciário, não é mais comigo”, disse o presidente. / BRENO PIRES, BEATRIZ BULLA, RAFAEL MORAES MOURA e CLÁUDIA TREVISAN

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ANDRE DUSEK/ESTADÃO

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