O Estado de S. Paulo

Haiti reassume segurança sob ameaça de furacão

Comandante brasileiro afirma que pessoal necessário para prestar assistênci­a em caso de um desastre natural ainda está no país

- / L.G. Luciana Garbin

O governo haitiano retomou o controle da segurança no país à zero hora de hoje, com o fim da Missão das Nações Unidas para Estabiliza­ção do Haiti (Minustah), que esteve sob comando militar do Brasil durante 13 anos. No último dia da missão de paz, um dos principais temas era a preocupaçã­o com a possibilid­ade de um furacão atingir o país nos próximos dias.

Segundo serviços de meteorolog­ia, a tempestade tropical Irma deve se tornar um furacão no Oceano Atlântico. Segundo o comandante da missão, o general brasileiro Ajax Porto Pinheiro, se continuar a crescer e mantiver a rota, o Irma pode atingir a República Dominicana na quinta-feira e chegaria ao Haiti horas depois. O general diz, no entanto, que todo o pessoal necessário para prestar ajuda ao país em caso de um desastre natural ainda está no Haiti.

Ontem, após a cerimônia que encerrou as operações brasileira­s, o ministro da Defesa, Raul Jungmann, não descartou a participaç­ão do Brasil em outras missões de paz, citando a República Centro-Africana como possível destino das tropas. “Há um pedido, temos fortíssima relação com a África e precisamos manter o nível de treinament­o que alcançamos na missão do Haiti”, disse.

Sobre a possibilid­ade de ajuda em caso de uma nova catástrofe natural, como o furacão Irma, Jungmann disse que caberá ao governo brasileiro e aos parlamenta­res a ordem de seguir atuando no Haiti. “Temos a disposição de sempre ajudar.”

No último dia de comando brasileiro, o primeiro-ministro haitiano, Jack Guy Lafontant, agradeceu. Ele lembrou da ajuda do Brasil em momentos difíceis, como o terremoto de 2010,

e indicou preocupaçã­o com o futuro. “Com a partida da Minustah, o Haiti volta à vulnerabil­idade”, afirmou.

Ano passado, o furacão Matthew deixou cerca de mil mortos e devastou parte do país. Na ocasião, o comando da missão

enviou um pelotão de fuzileiros navais e uma companhia de engenharia para a região que seria atingida, dois dias antes do furacão

chegar. Eles ajudaram a desobstrui­r estradas para que a ajuda humanitári­a pudesse chegar.

O fim das ações do contingent­e militar preocupa parte da população haitiana, que teme o aumento da criminalid­ade. Relatório da ONU indica que já houve cresciment­o do número de homicídios em alguns meses do primeiro semestre. Há uma parcela da população que, com pouco acesso aos meios de comunicaçã­o, ignora o fim da Minustah.

Nas ruas, o Estado tem testemunha­do três tipos de reação quando passam os veículos militares brasileiro­s. Alguns dão sinais de aprovação, uma parte ofende e grita “ale lacay”, que em crioulo significa vão pra casa, e a maioria é indiferent­e.

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HÉLVIO ROMERO/ESTADÃO Último dia. Soldados brasileiro­s em Porto Príncipe na cerimônia de desmobiliz­ação
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