Dona da JBS fecha venda da Eldorado Celulose por R$ 15 bi Negócio com a Paper Excellence será em duas etapas
Negócio. Compradora, a Paper Excellence (PE) é da família Widjaja; no primeiro momento, PE vai comprar de 30% a 35% do negócio, restante será concluído em 12 meses. Petros (Petrobrás) e Funcef (Caixa) vão definir se vendem suas participações
A J&F, holding que reúne os negócios dos irmãos Batista, controladores da JBS, anunciou ontem a venda da Eldorado Celulose e Papel para a Paper Excellence (PE), da família indonésia Widjaja. A operação, de R$ 15 bilhões no total, vai ser fechada em duas etapas.
A J&F, holding que reúne os negócios dos irmãos Batista, controladores da JBS, anunciou ontem a venda da Eldorado Celulose e Papel para a empresa Paper Excellence (PE), que pertence à família indonésia Widjaja. O valor total da transação é de R$ 15 bilhões. A aquisição marca a entrada dos empresários asiáticos no Brasil, que também são donos da gigante de papel e celulose Asia Pulp & Paper (APP).
A operação vai ser fechada em duas etapas e deverá ser concluída em até 12 meses. Nesta primeira fase, a PE desembolsará cerca de R$ 2,4 bilhões para adquirir 51% do FIP Florestal (fundo de investimento em participações), que tem como cotistas a família Batista, além dos fundos de pensão Petros (da Petrobrás) e Funcef (da Caixa).
A adesão dos fundos de pensão ao negócio será discutida nos próximos 30 dias. Procurada, a Funcef não comenta. A Petros não retornou os pedidos de entrevista até o fechamento desta edição. O banco BTG assessorou a PE na transação. Já pela Eldorado, as negociações foram conduzidas diretamente pela família Batista. Se não quiserem vender suas fatias, os fundos podem continuar como sócios da Paper Excellence, segundo fontes. Os Batista pretendem se desfazer das ações restantes nos próximos meses.
Fundada em 2010, a Eldorado tem como controladores a família dona da J&F, além dos FIPs Florestal e Olimpia. Consideradas as participações diretas e indiretas, os Batista têm 80,98% do negócio, os fundos de pensão Funcef e Petros detêm 8,53% cada um, e o restante está nas mãos da FIP Olimpia, que pertence a José Carlos Grubisich, que preside a Eldorado.
A companhia, com capacidade de produção de 1,7 milhão de toneladas por ano, acumula dívida líquida de cerca de R$ 8 bilhões.
Aconclusãodacompraestáatrelada ao acordo de leniência dos Batista,queestáfinalizandooprocesso de homologação, dizem fontes. A companhia de celulose teve seu nome envolvido em operações da Polícia Federal, como a Greenfield (suspeita de fraude em fundos de pensão) e na Sépsis (investiga corrupção na Caixa).
A Paper Excellence, que tem sede na Holanda, iniciou suas atividades em 2007. A empresa começou suas operações com uma fábrica no Canadá – hoje são cinco –, além de outras duas na França. A empresa tem capacidade para produzir 2,3 milhões de toneladas de celulose/ano. Em nota, a companhia informou “que seu objetivo é tornar-se uma das líderes mundiais da indústria de celulose”. As duas companhias, em comunicado manifestaram “satisfação com a conclusão das negociações, que atenderam aos interesses das partes”.
A família Widjaja passou por um turbulento aperto financeiro no fim dos anos 1990 e início dos anos 2000, por conta da crise asiática. À época, a APP, que é controlada por eles, decretou calote de cerca de US$ 14 bilhões.
Terceira maior companhia de celulose do País, a Eldorado foi alvo de cobiça de seus principais rivais. A chilena Arauco ofereceu cercadeR$14bilhões,masasnegociações não avançar. A gigante Fibria e a Suzano também tinham interesse no negócio.
Escândalos. Desde que as delações dos Batista vieram à tona, no dia 17 de maio, os controladores deram início a um processo de venda de diversos negócios. O grupo foi beneficiado pela gestão petista, com financiamentos de bancos públicos e a JBS foi eleita uma das campeãs nacionais. Joesley e Wesley fecharam acordo com o Ministério Público Federal (MPF) e se comprometeram a pagar multa de R$ 10,3 bilhões nos próximos 25 anos. As delações dos donos da JBS comprometeram o presidente da República, Michel Temer.
Após os escândalos, a família passou a vender importantes ativos, como a Vigor (para a mexicana Lala), a Alpargatas (para o Cambuhy e Itaúsa), as operações de carne da América do Sul para o Minerva, por US$ 300 milhões. Agora está em negociação para vender os negócios de energia e mais ativos de carne.
Irmãos Batista estão vendendo Âmbar e Moy Park
A venda da Eldorado Papel e Celulose não encerra o processo de desinvestimentos da família Batista. O grupo também está em negociações avançadas para se desfazer de sua linha de transmissão de energia, que faz parte da empresa Âmbar, e também da Moy Park, empresa de carne processada, com sede na Irlanda, apurou o ‘Estado’.
Fontes a par do assunto afirmaram ao Estado que a gestora canadense Brookfield, que tem adquirido diversas operações de energia no Brasil e ativos envolvidos na Lava Jato, deverá desembolsar cerca de R$ 900 milhões pela Âmbar. Procurada, a gestora e a J&F não comentam o assunto.
Nas últimas semanas, a Âmbar Energia está em litígio com a Petrobrás por conta de um rompimento de contrato de fornecimento de gás por parte da estatal para uma de uma das termelétricas da empresa, no Mato Grosso. A Petrobrás alega violação de cláusula contratual que trata de legislação anticorrupção, após as delações premiadas dos executivos e controladores do grupo J&F.
Já as negociações para a venda da Moy Park, ativo avaliado em mais de US$ 1 bilhão, também devem ser concluídas até o início de outubro, disseram fontes. Grupos europeus e asiáticos estão avaliando o ativo e devem fazer propostas firmes nos próximos dias. A JBS não comenta o assunto.
De acordo com fontes próximas à família Batista, após a venda da Eldorado e desses outros dois ativos, a família ganha fôlego para fazer frente aos pagamentos da multa do acordo de leniência de R$ 10,3 bilhões. A
Principais negócios vendidos ou em negociação
Maior processadora de proteína animal do mundo. Dona de marcas como Friboi, Seara e Swift, vendeu suas operações na América do Sul para a Minerva por US$ 300 milhões. Também negocia a Moy Park, um dos maiores processadores de frango da Europa
Dona das marcas Vigor, Leco, Faixa Azul e Danúbio, faturou R$ 5,2 bilhões em 2015. Também controladora de 50% da Itambé, foi vendida à mexicana Lala por R$ 5,7 bilhões Terceira maior fabricante de celulose do País, foi criada em parceria com os fundos de pensão Petros e Funcef. Sua venda foi fechada para empresa PE
Fabricante de produtos de higiene e limpeza, dona de marcas como Neutrox, Albani, Minuano e Assim, também está à venda
Divisão de negócios que reúne ativos de energia, como linhas de transmissão, está à venda. Gestora canadense Brookfield é uma das principais interessadas na divisão companhia também está em conversas com bancos para realongar dívidas de aproximadamente R$ 20 bilhões.
Pragmáticos, os irmãos Joesley e Wesley Batista passaram a negociar diretamente a venda de seus negócios com investidores interessados em seus ativos. A exceção foi a Vigor, que contou com a assessoria do Bradesco e Santander. Já a Âmbar é assessorada pelo BTG.
Concentração. No caso da Eldorado, houve uma disputa competitiva, com vários interessados – entre eles, sua maior rival Fibria. Os controladores não cederam em preço, o que afugentou a companhia controlada pelo grupo Votorantim e Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES), que não estava disposta a pagar mais do que R$ 13 bilhões pelo negócio.
Fontes do setor afirmam que a venda da Eldorado para um grupo estrangeiro coloca de novo em pauta uma possível fusão entre Fibria e Suzano, operação considerada um caminho natural pelo mercado. O Estado apurou que não há negociações neste sentido ainda.
A família colocou à venda também uma empresa de confinamento de gado nos EUA. Ainda de acordo com pessoas próximas ao grupo, os Batista vão tentar preservar empresas brasileiras, como a Seara, e as principais processadoras de carne dos EUA. A receita do grupo no exterior é maior que as operações brasileiras.