CELEBRAÇÃO Kombi nacional faz 60 anos
Há 60 anos era montada a primeira Kombi nacional. Modelo saiu de linha em 2013, mas história está longe de acabar
Em 1957, a Volkswagen começou a produzir a perua em São Bernardo do Campo. Hoje, já fora de linha, cada vez mais ela é um mito que cativa o brasileiro
Ela está em todos os lugares. Nas ruas, é muito fácil vê-la. Nas feiras livres, ainda reina absoluta. E a lista de usos e clientes é imensa. Vai de buffets e food trucks a transporte escolar e funerárias. Quase quatro anos após o fim de linha e exatos 60 anos após ter sua produção nacional iniciada em São Bernardo do Campo (SP), a Kombi continua viva. E conquistando fãs e adeptos.
O modelo, inclusive, terá uma releitura, anunciada recentemente pela Volkswagen e prevista para a próxima década. Porém, ainda não há confirmação sobre vendas no País.
A saga da Kombi no Brasil começa em setembro de 1950, com as primeiras unidades importadas da Alemanha pela Brasmotor. Três anos depois, a “perua” passou a ser montada pela VW em um galpão no bairro paulistano do Ipiranga. Mas foi no dia 2 de setembro de 1957 que saiu da linha de montagem da fábrica que ainda estava em fase de construção no km 23,5 da Via Anchieta, em São Bernardo do Campo, o primeiro exemplar nacional de um dos carros mais emblemáticos da história da indústria automobilística.
Com motor de 1.192 cm³, ela desenvolvia parcos 30 cv, algo inimaginável nos dias de hoje. Mesmo assim, a capacidade de carga era de 810 kg, sem contar os 1.040 kg do próprio veículo.
Assim, a Kombinationsfahrzeug, palavra que em alemão que significa algo como veículo combinado de uso misto, foi registrada aqui simplesmente como Kombi. E o pioneirismo desse carro foi tão grande que somente dois anos depois começaria a ser fabricado o Fusca brasileiro, na mesma unidade industrial. A Volkswagen, por sinal, considera o dia 18 de novembro de 1959 como a data oficial de inauguração da fábrica do ABC, sua primeira fora da Alemanha, na célebre cerimônia que contou com a presença do presidente Juscelino Kubitschek desfilando num Fusca conversível preto. Porém, a Velha Senhora já dava duro quando rolava a festa para seu irmão.
Nos 56 anos em que esteve em linha, a Kombi só ganhou adeptos, apesar de a aerodinâmica ser quase a de um tijolo e da fama de incendiar com facilidade, entre outros “defeitos”. Hoje, nas ruas das grandes cidades brasileiras, muitos donos de carros modernos e tecnologicamente mais avançados se queixam de estar circulando lado a lado com um veículo que definem como “sem segurança”, “bomba ambulante” e em que “o joelho do motorista é o para-choque”. Mas nenhum outro utilitário uniu com tanta competência robustez, versatilidade, economia e custo-benefício seja no transporte de nove pessoas, em três fileiras de bancos, ou de cargas (com a remoção dos bancos). Ou também nas versões furgão e picape, destinadas ao trabalho.
O projeto, do final dos anos 40, só teve um ponto final no Brasil porque a partir de 2014 se tornou obrigatória a presença de ABS e air bags. Assim, em dezembro de 2013, encerrou-se a mais longeva história de um modelo da indústria automobilística mundial. Segundo dados da Volkswagen, foram montadas exatas 1.565.050 unidades da Velha Senhora entre setembro de 1957 e dezembro de 2013.
O auge da produção ocorreu em 1976, o ano da sua maior reestilização, quando o desenho “Corujinha”, com faróis grandes e redondos e para-brisa bipartido, deu lugar à chamada geração Clipper, de para-brisa em peça única.
Neste ano, foram produzidas 62.548 Kombis. Em 1993, a VW celebrou a produção de 1 milhão de unidades do utilitário. A partir da década de 1970, ela passou a ser exportada, e a lista chegou a 90 países. Os principais mercados foram Argélia, Argentina, Chile, Peru, México, Nigéria, Venezuela e Uruguai. No total, foram exportadas 94.158 unidades da Kombi.
E boa parte das peruas, talvez a maior parte, continua rodando. No ranking de comerciais leves usados mais negociados em julho de 2017 da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), a Kombi ocupou o sexto lugar, com 6.513 unidades, atrás apenas de Fiat Strada, VW Saveiro, Chevrolet S10, Toyota Hilux e Chevrolet Montana. “Já cheguei a vender 70 Kombis em um mês. Hoje, mesmo com a concorrência de outras marcas, ainda vendo de oito a dez”, diz o comerciante Edson Castro. Desde 1976 no ramo, ele é dono da Brasil Kombis e Vans, empresa especializada em utilitários na zona leste de São Paulo. “A Kombi ainda é um carro barato, e muitas empresas a procuram para entregas rápidas, que exigem agilidade”, diz.
Hoje, as mais valorizadas são as da primeira safra, fabricadas até 1975, de preferência na versão luxo, com pintura em duas cores (saia-e-blusa) e muitos cromados. Alvo de cobiça de fãs, colecionadores e exportadores, elas são disputadas em qualquer estado de conservação e, devidamente restauradas e equipadas, podem passar de R$ 100 mil no mercado nacional e do triplo disso no exterior.
Aficionados não faltam. Fundado em setembro de 2013 pelos irmãos Hélder e Sergio Sobrêda e mais três amigos, o Kombi Clube do Brasil já reúne 350 associados, tem sede no bairro paulistano de Pinheiros e realiza um encontro mensal todo quarto domingo do mês no estacionamento de uma loja na zona norte da capital.