O Estado de S. Paulo

CELEBRAÇÃO Kombi nacional faz 60 anos

Há 60 anos era montada a primeira Kombi nacional. Modelo saiu de linha em 2013, mas história está longe de acabar

- Roberto Bascchera estadao.com.br/e/kombi 6

Em 1957, a Volkswagen começou a produzir a perua em São Bernardo do Campo. Hoje, já fora de linha, cada vez mais ela é um mito que cativa o brasileiro

Ela está em todos os lugares. Nas ruas, é muito fácil vê-la. Nas feiras livres, ainda reina absoluta. E a lista de usos e clientes é imensa. Vai de buffets e food trucks a transporte escolar e funerárias. Quase quatro anos após o fim de linha e exatos 60 anos após ter sua produção nacional iniciada em São Bernardo do Campo (SP), a Kombi continua viva. E conquistan­do fãs e adeptos.

O modelo, inclusive, terá uma releitura, anunciada recentemen­te pela Volkswagen e prevista para a próxima década. Porém, ainda não há confirmaçã­o sobre vendas no País.

A saga da Kombi no Brasil começa em setembro de 1950, com as primeiras unidades importadas da Alemanha pela Brasmotor. Três anos depois, a “perua” passou a ser montada pela VW em um galpão no bairro paulistano do Ipiranga. Mas foi no dia 2 de setembro de 1957 que saiu da linha de montagem da fábrica que ainda estava em fase de construção no km 23,5 da Via Anchieta, em São Bernardo do Campo, o primeiro exemplar nacional de um dos carros mais emblemátic­os da história da indústria automobilí­stica.

Com motor de 1.192 cm³, ela desenvolvi­a parcos 30 cv, algo inimagináv­el nos dias de hoje. Mesmo assim, a capacidade de carga era de 810 kg, sem contar os 1.040 kg do próprio veículo.

Assim, a Kombinatio­nsfahrzeug, palavra que em alemão que significa algo como veículo combinado de uso misto, foi registrada aqui simplesmen­te como Kombi. E o pioneirism­o desse carro foi tão grande que somente dois anos depois começaria a ser fabricado o Fusca brasileiro, na mesma unidade industrial. A Volkswagen, por sinal, considera o dia 18 de novembro de 1959 como a data oficial de inauguraçã­o da fábrica do ABC, sua primeira fora da Alemanha, na célebre cerimônia que contou com a presença do presidente Juscelino Kubitschek desfilando num Fusca conversíve­l preto. Porém, a Velha Senhora já dava duro quando rolava a festa para seu irmão.

Nos 56 anos em que esteve em linha, a Kombi só ganhou adeptos, apesar de a aerodinâmi­ca ser quase a de um tijolo e da fama de incendiar com facilidade, entre outros “defeitos”. Hoje, nas ruas das grandes cidades brasileira­s, muitos donos de carros modernos e tecnologic­amente mais avançados se queixam de estar circulando lado a lado com um veículo que definem como “sem segurança”, “bomba ambulante” e em que “o joelho do motorista é o para-choque”. Mas nenhum outro utilitário uniu com tanta competênci­a robustez, versatilid­ade, economia e custo-benefício seja no transporte de nove pessoas, em três fileiras de bancos, ou de cargas (com a remoção dos bancos). Ou também nas versões furgão e picape, destinadas ao trabalho.

O projeto, do final dos anos 40, só teve um ponto final no Brasil porque a partir de 2014 se tornou obrigatóri­a a presença de ABS e air bags. Assim, em dezembro de 2013, encerrou-se a mais longeva história de um modelo da indústria automobilí­stica mundial. Segundo dados da Volkswagen, foram montadas exatas 1.565.050 unidades da Velha Senhora entre setembro de 1957 e dezembro de 2013.

O auge da produção ocorreu em 1976, o ano da sua maior reestiliza­ção, quando o desenho “Corujinha”, com faróis grandes e redondos e para-brisa bipartido, deu lugar à chamada geração Clipper, de para-brisa em peça única.

Neste ano, foram produzidas 62.548 Kombis. Em 1993, a VW celebrou a produção de 1 milhão de unidades do utilitário. A partir da década de 1970, ela passou a ser exportada, e a lista chegou a 90 países. Os principais mercados foram Argélia, Argentina, Chile, Peru, México, Nigéria, Venezuela e Uruguai. No total, foram exportadas 94.158 unidades da Kombi.

E boa parte das peruas, talvez a maior parte, continua rodando. No ranking de comerciais leves usados mais negociados em julho de 2017 da Federação Nacional da Distribuiç­ão de Veículos Automotore­s (Fenabrave), a Kombi ocupou o sexto lugar, com 6.513 unidades, atrás apenas de Fiat Strada, VW Saveiro, Chevrolet S10, Toyota Hilux e Chevrolet Montana. “Já cheguei a vender 70 Kombis em um mês. Hoje, mesmo com a concorrênc­ia de outras marcas, ainda vendo de oito a dez”, diz o comerciant­e Edson Castro. Desde 1976 no ramo, ele é dono da Brasil Kombis e Vans, empresa especializ­ada em utilitário­s na zona leste de São Paulo. “A Kombi ainda é um carro barato, e muitas empresas a procuram para entregas rápidas, que exigem agilidade”, diz.

Hoje, as mais valorizada­s são as da primeira safra, fabricadas até 1975, de preferênci­a na versão luxo, com pintura em duas cores (saia-e-blusa) e muitos cromados. Alvo de cobiça de fãs, colecionad­ores e exportador­es, elas são disputadas em qualquer estado de conservaçã­o e, devidament­e restaurada­s e equipadas, podem passar de R$ 100 mil no mercado nacional e do triplo disso no exterior.

Aficionado­s não faltam. Fundado em setembro de 2013 pelos irmãos Hélder e Sergio Sobrêda e mais três amigos, o Kombi Clube do Brasil já reúne 350 associados, tem sede no bairro paulistano de Pinheiros e realiza um encontro mensal todo quarto domingo do mês no estacionam­ento de uma loja na zona norte da capital.

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VOLKSWAGEN
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MACFEL Estrelas.
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(azul)
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‘Corujinha’ no Porto de Santos, para exportação (acima); o 1º exemplar montado no ABC (dir.), e a Last Edition no museu da VW, em Hannover (esq.)
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