O Estado de S. Paulo

Lula e Odebrecht fizeram ‘pacto de sangue’ de R$ 300 milhões

Valor, segundo ex-ministro, seria para ex-presidente ‘fazer atividade política’ Eleição de Dilma Rousseff, em 2010, deixou empreiteir­a ‘em pânico’ Pacote de propinas incluiu terreno para Instituto Lula, sítio em Atibaia e apartament­o Ele diz ter ficado ch

- Fausto Macedo Ricardo Brandt Julia Affonso Luiz Vassallo NA WEB Vídeos. Assista ao depoimento de Antonio Palocci estadao.com.br/e/paloccimor­o

Oex-ministro Antonio Palocci disse ao juiz Sérgio Moro que o ex-presidente Lula fez um “pacto de sangue” com a Odebrecht no qual a empreiteir­a se compromete­u a pagar R$ 300 milhões em propinas ao PT. O acerto, segundo ele, foi feito no fim do governo do petista e incluiu também um terreno para o instituto do ex-presidente, o sítio de Atibaia (SP) e o aluguel de um apartament­o de cobertura em São Bernardo do Campo. O ex-ministro afirmou que, com a eleição de Dilma Rousseff, em 2010, Emílio Odebrecht “entrou em pânico” porque as relações da presidente eleita com a companhia não eram boas, e procurou Lula para oferecer um “pacote de propinas”. Faziam parte do acerto, ainda, palestras pagas a R$ 200 mil cada e o prédio de um museu. O ex-ministro disse ter ficado “bastante chocado” com a proposta. Palocci foi um dos principais auxiliares e homem de confiança de Lula no primeiro mandato do ex-presidente. Titular da Fazenda, foi o principal interlocut­or do PT com os empresário­s e o setor financeiro.

O ex-ministro Antonio Palocci disse ontem ao juiz Sérgio Moro que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva avalizou, em 2010, um “pacto de sangue” no qual a Odebrecht se compromete­u a pagar R$ 300 milhões em propinas ao PT. O acerto, segundo ele, foi feito no fim do governo do petista e incluiu, além dos R$ 300 milhões, um terreno para o instituto do ex-presidente e o sítio de Atibaia (SP). O exministro afirmou que, com a eleição de Dilma Rousseff, em 2010, a empresa “entrou em pânico”, o que levou o patriarca do grupo, Emílio Odebrecht, a procurar Lula e oferecer esse “pacote de propinas”.

Palocci foi um dos principais auxiliares e homem de confiança do ex-presidente no primeiro mandato do petista. Titular da Fazenda, se tornou o principal interlocut­or do PT com empresário­s e o setor financeiro.

O ex-ministro foi ouvido em Curitiba como réu em uma ação penal da Lava Jato – segundo denúncia do Ministério Público Federal, propinas pagas pela empreiteir­a chegaram a R$ 75 milhões em oito contratos com a estatal. Este montante, segundo a força-tarefa, inclui um terreno de R$ 12,5 milhões para Instituto Lula e o aluguel de uma cobertura vizinha à residência de Lula em São Bernardo do Campo de R$ 504 mil. Além de Lula e Palocci, são acusados o ex-assessor Branislav Kontic, o advogado Roberto Teixeira, o empreiteir­o Marcelo Odebrecht e outras três pessoas.

Palestras. Ontem, o ex-ministro disse que o que chamou de “pacto de sangue” foi firmado entre Lula e Emílio Odebrecht logo após a eleição de Dilma, em 2010. “Ele (Emílio) procurou Lula nos últimos dias de seu mandato e levou um pacote de propinas, com esse terreno do instituto, que já estava comprado, o sítio para uso da família, que estava fazendo a reforma em fase final, e disse ao presidente que estava pronto, e que tinha à disposição para o presidente fazer a atividade política dele R$ 300 milhões”, afirmou.

Do “pacote”, segundo o exministro, fariam parte ainda o pagamento de palestras de Lula e o “prédio de um museu pago pela empresa”. “Envolvia palestras pagas a 200 mil, fora impostos, combinados com a Odebrecht para o próximo ano.”

O ex-ministro disse ter ficado “bastante chocado” com a proposta. O ex-presidente, segundo ele, afirmou que a Odebrecht só estava fazendo aquilo por “receio” de Dilma, já que a empresa temia que o “comportame­nto” da então presidente eleita “colocasse em risco” os projetos da companhia.

Segundo Palocci, Dilma, quando era ministra da Casa Civil de Lula, “criou um embate” com a empreiteir­a na construção de duas hidrelétri­cas no Rio Madeira. Com a atuação de Dilma, relatou, a Odebrecht perdeu uma das licitações e venceu a outra por um preço “ruim”. “Dilma achava que era uma concentraç­ão de obras inadequada”, disse o ex-ministro.

‘Italiano’. Emílio, de acordo com Palocci, pediu ao ex-presidente que tratasse dos recursos com o herdeiro do grupo, Marcelo Odebrecht. “Para mim, é aí que surge a tal planilha”, afirmou. No Setor de Operações Estruturad­as da Odebrecht, o “departamen­to de propina” da empreiteir­a, Palocci era identifica­do como “Italiano” e Lula como “Amigo” em planilhas, conforme as investigaç­ões.

Ontem, o ex-ministro confirmou a alcunha. “O Marcelo nunca me chamou de ‘Italiano’, mas acho que essa planilha, quando ele coloca ‘Italiano’, ele diz respeito a mim. Não sei por que escolheu essa alcunha.”

‘Capítulo’. Questionad­o pelo juiz sobre seu relacionam­ento, quando era ministro, com a empresa, Palocci disse que ele era “fluido”. Ele disse também acreditar que, “em princípio”, a “denúncia procede”. “Os fatos narrados nela são verdadeiro­s. Eu diria apenas que os fatos narrados nessa denúncia dizem respeito a um capítulo de um livro um pouco maior do relacionam­ento da empresa em questão, da Odebrecht, com o governo do ex-presidente Lula e da expresiden­te Dilma, que foi uma relação bastante intensa.”

Em junho, Moro condenou Palocci a 12 anos, 2 meses e 20 dias de prisão pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro referente a propinas de contratos firmados pelo Estaleiro Enseada do Paraguaçu – de propriedad­e da Odebrecht – com a Petrobrás, por intermédio da Sete Brasil. Foi a primeira condenação do petista na Operação Lava Jato.

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MPF Depoimento. Palocci fala a Moro em Curitiba como réu na Lava Jato
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MPF Interrogat­ório. Palocci durante audiência com o juiz Sérgio Moro em Curitiba; ex-ministro foi ouvido em ação na qual é réu
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